Minha Vida, Meus Amores

Literatura erótica me entedia profundamente.

Mas houve um tempo em que não era assim, um tempo em que os hormônios se manifestavam de formas belas como a apreciação platônica de singularidades femininas e hediondas como espinhas na cara.

Em 1987 eu e um amigo pegamos três livros na biblioteca pública. Eu peguei The Adventures of Huckleberry Finn, para comparar com a edição brasileira e melhorar o meu inglês. Ele, mais pragmático do que eu, pegou “Sodoma e Gomorra” e “Minha Vida, Meus Amores”. Os títulos eram sugestivos demais para que ele deixasse passar a oportunidade. E ele era famoso por, invariavelmente, derrubar as prateleiras da sessão de filmes pornô nas videolocadoras que freqüentava. Não falhava: era só entrar na locadora e as caixas das fitas, com títulos sugestivos como “No Calor do Buraco”, caírem uma a uma como numa coreografia de Busby Berkeley.

Por coincidência, nunca devolvemos os livros. Esquecemos o prazo de devolução, não tínhamos dinheiro para pagar a multa e resolvemos deixar para lá.

Não demorou muito para ele me dar os livros. Se sentia torpemente enganado. “Sodoma e Gomorra” era de um viadinho francês chamado Marcel Proust, e “Minha Vida, Meus Amores” era de um chato chamado Frank Harris que tornava a saliência literária demais. Assim não tinha graça.

Ainda não foi daquela vez que li Proust, mas fiquei encantado com o livro de Harris.

Frank Harris foi um sujeito que na virada do século XX fez grande sucesso como editor, principalmente da Saturday Review; foi amigo de Oscar Wilde até o fim. Suas memórias — das quais só li o primeiro volume, aquele — tinham causado um certo escândalo na época por serem licenciosas demais. Além de descrições detalhadas de suas aventuras sexuais, ele ainda encontrava tempo para dizer, entre outras coisas, que Carlyle era impotente.

Dizem que Harris era mentiroso de dar dó. Não interessa. O que mais me fascinava eram suas aventuras sexuais. Ele as descrevia com palavras terríveis: “os páramos da volúpia”, “o relicário sagrado do meu desejo”, e outras do tipo — mas sem deixar de explicar tudo tim-tim por tim-tim. Foi um grande guia.

Descobri agora os outros volumes da autobiografia de Frank Harris. Não vou ler.

2 thoughts on “Minha Vida, Meus Amores

  1. Faz um post desses pra mim … ta otimo!
    Adorei a frase … “Literatura erótica me entedia profundamente.”

    Imagino a sua cara …
    e o que vc pensa …
    PORRA VOU TER QUE LER ESSA MERDA TODA PRA FICAR COM TESAO?

    hahahahahahahahahahahaha

    Beijocasssssssssssssss

  2. sodoma e gomorra não éum livro erótico, é um ótimo livro nele proust faz uma analise da homossexualidade atraves do personagem barão de charlus prosut esta mas preocupado em retratar a aristrocacia francessa do que com erotismo, ele esta preocupado com analise psicologica dos seus personagem. Sodoma e gomorra faz parte de em busca do tempo perdido feito pelo escritor é um otimo livro, não eh para vc senti tensão e sim para vc pensa na natureza humana

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