Eu nunca entrei no Louvre.
Mesmo no inverno, quando o número de turistas baixa consideravelmente, as filas são gigantescas. E além está Paris, e suas ruas têm mais vida que os mármores acumulados no museu jamais terão.
Mais importante do que passar 3 segundos diante da Mona Lisa que ri debochada de você é dobrar a esquina e se ver diante da casa onde morou Molière.
É subir a pé, sem pressa, a Champs Elisèes e parar numa lojinha de roupas para bebês e olhar as roupinhas Dior que custam o mesmo que as da Tyrol.
É parar no meio da Pont Neuf e cuspir no Sena, esperando não acertar a cabeça de ninguém que passeia naqueles batelões — ou talvez esperando, sim.
É sentar num café na ruela à esquerda de Notre Dame e beber o melhor café de sua vida.
É entrar no hotel e ver o recepcionista argelino festejar com a cinqüentona americana, e saber que dali a algumas horas ele vai dormir mais rico e ela vai poder falar pelo resto dos seus dias do seu romance inesquecível com um legítimo amante francês.
É discutir em inglês com o motorista do ônibus que não sabe onde fica a rua Raynouard e que tampouco entende o que você está falando.
É morrer de fome e cometer a idiotice de entrar num restaurante grego perto da Saint André des Arts com decoração de puteiro.
É pegar um jornalzinho gratuito de classificados e fingir que tem 100 mil dólares para comprar um estúdio no Marais.
É beber Evian baratinha e jurar que morrerá de sede antes de beber qualquer outra água.
É andar pelas ruas cantando Sur Le Ciel de Paris numa língua enrolada que lembra vagamente a você, e só a você, o francês.
É sentar nas escadarias de um prédio da Sorbonne, fazer a pose improvável do Pensador e dizer bem alto que “Philosophie est une grande merde“.
É passar horas na Shakespeare & Co. e levar apenas um livro porque você não tem dinheiro para comprar um décimo de tudo aquilo que lhe aviva a cobiça e deslumbra seus olhos, ao mesmo tempo em que espera avistar em algum canto o fantasma de Hemingway.
É entrar num bar, pedir um maço de Gitanes e ver a expressão assustada do balconista, que provavelmente não entende como alguém pode fumar aquele mata-rato.
É aproveitar a fila bem menor do Musée d’Orsay e tirar uma foto proibida diante da estátua de Balzac por Rodin, porque Balzac justifica qualquer advertência.
É se vingar admiravelmente da negona desnecessariamente grosseira que lhe cobra 20 sous para fazer xixi no banheiro do metrô.
É cruzar com outros turistas e sorrir para eles enquanto diz bem alto que ele é viado e ela é uma puta sem-vergonha.
E depois você se senta numa mureta qualquer do Louvre e tira uma foto com a pirâmide ao fundo para mostrar àqueles que jamais entenderão como você pode ir a Paris e não entrar no Louvre, e mesmo assim porque não pode escrever com carvão “Rafael esteve aqui”.
Queria poder falar aqui sobre tudo o que Paris me invoca, tantos sonhos já sonhados, tantas loucuras idealizadas, tanto amor a ser vivido, tantas promessas…ilusões apenas? Não creio…
Quando assisti o filme “Antes do Amanhecer” me senti da mesma maneira que agora lendo seu texto. Conheci Viena em uma hora naquele passeio incrível daquele casal… e agora vou ser obrigada a visitar Paris só porque você não entrou no Louvre, sua peste!!!! Quanto ao resto da cidade, visualizei direitinho! 😛 Beijos!
E obrigada peladefesa lá… o cara tá querendo muito uma vagabunda… ai fica projetando… Freud explica! rs
Meu Caro, estás em Paris?
Que saudade dessa terra maravilhosa…
Se o café que vc foi fica ATRÁS (não ao lado) da Notre Dame, atravessando uma ponte (fica numa outra ilha – e chama-se Fleur En Île, vc tem razão lá tem um ótimo café, uma ótima sopa de cebola no pão e um bom sorvete…
Coma um legítimo crepe de rua por mim.
E se possível, vá assistir um dos muitos concertos de música clássica, onde pequenos quartetos, normalmente de origem eslava, tocam bons programas em igrejas ancestrais, não muito grandes e por um valor super em conta.
E veja o pôr do sol na pracinha em frente a Igreja de Sacre-Coeur… É algo especial: Paris e seus telhados, a torre Eiffel na frente de um céu dourado…
Um grande abraço e aproveite…
Ah! Já ia me esquecendo…
Entre na Sorbonne e assista uma aula….
Eu fiz isso hehehe – Furão legal 😉
(pelo menos em 97/98, dava pra fazer isso numa boa…)
Um abraço!
Eu tô um pouquinho longe de Paris, Wenz: em Aracaju.
O café a que me referi — pequenininho e sem charme — fica na rua à esquerda de Notre Dame, mesmo.
E nada no mundo me faria entrar na Sorbonne.
MARAVILHA! E na situação que eu tô, nego, é perigoso esse teu texto! hehe Bisous, gigi