No fim da década de 1970 Salvador via a principal transformação do seu comércio em décadas: as lojas chiques saíam definitivamente da rua Chile para se amontoarem nos shopping centers da zona sul.
Uma das poucas resistentes que insistiam em ignorar o curso da história e permanecer na rua que durante décadas tinha sido o centro do luxo comercial era a Sloper, loja de departamentos nos moldes da Mesbla e dos grandes magazines franceses do final do século XIX. Àquela altura já vinha se popularizando, acho, sentindo a pressão da mudança progressiva de clientela, mas ainda mantinha aquele olhar esnobe em relação às lojas de tecidos da rua da Misericórdia e aos camelôs que lotavam as imediações da praça Castro Alves e a Barroquinha.
Era na Sloper que eu via a Mulher de Roxo.
Ela não tinha exatamente uma história; tinha uma lenda, cujas versões variavam dependendo de quem contava. O que havia de comum nessas lendas é que era uma moça de família rica, que após ser abandonada pelo noivo enlouqueceu. E assim, durante décadas, ela passou a viver em um mundo particular.
Vestida em roupas esvoaçates roxas, muitas vezes de veludo, coberta de jóias espalhafatosas — talvez bijuterias, talvez não — e maquiagem, ela passava seus dias circulando pelas lojas da rua Chile, e dava preferência, claro, à Sloper. Seu mundo onírico exigia acessórios belos de tamanho pequeno, pequenas quinquilharias que ela pudesse encaixar facilmente no seu sonho. Era mais fácil assim.
A louca da Sloper não roubava nada, e em um mundo mais amigo em que os loucos eram todos velhos conhecidos, ela era tolerada pelos funcionários das lojas. A Mulher de Roxo não incomodava ninguém, nem mesmo quando pedia dinheiro a quem passava, provavelmente porque ninguém a interessava de verdade. À louca da Sloper só interessava mesmo o mundo em que ela vivia sozinha, abandonada pelo noivo.
Ela nem sempre estava de roxo. Vestia preto, também — e não é coincidência que ambas as cores tenham significado luto ao longo da história. A Louca da Sloper viva em eterno luto. Mas tenho a impressão de que se engana quem pensa que seu luto era pelo noivo, ou mesmo por ela. Seu luto era por algo mais etéreo, era pela vida que poderia ter tido, que deve ter antecipado durante meses, enquanto tomava decisões que para ela teriam conseqüências drásticas.
A Sloper fechou como fecharam as outras lojas de departamentos, e a Mulher de Roxo desapareceu. Os jornais sabem aonde ela foi: encontrada agonizante em uma calçada, foi levada para o Hospital Santo Antônio, da irmã Dulce, onde morreu.
A Mulher de Roxo, um dos grandes personagens de uma Bahia que não existe mais, que fragmentou seu espírito pelos subúrbios e legou o centro velho aos turistas, morreu sem que ninguém saiba qual foi, realmente, a sua história. Melhor assim, talvez.
Como sempre to rindo muito … é muiiiiiiiiiito bom o jeito que vc escreve!
um xero
criquinha
Olá, Rafael
Achei super interessante o seu texto( bem legal).
Estava navegando a respeito do Centro Antigo de Salvador, pois estou cursando o 7° semestre de publicidade e comecei a minha monografia, que fala da aplicação da Propaganda nesta região no tempo em que ela viveu o seu apogeu.
Gostaria se possivel, da sua ajuda, na disponibilização de algum material que fale do centro antigo, ou de textos afins que embasaram a sua escrita .
Cordialmente,
RAFAEL AMORIM
raftc@pop.com.br
TEL:3281-8170
9159-0591
Parabéns pelo artigo!
Sou professora e adoro essas pesquisas!
Fiquei com pena dela, desconhecida a pobre,sem história, apenas uma lenda…
Nem como lenda está viva e fundamentada como alguém que veio da histórica cidade baiana!
Pana…
Abraços e se souber de algo queria saber mais,tadinha!
Esta mulher me instigava a imaginação e também me dava medo. Parecia de fato uma aparição.
Na época estava na adolescência e tudo isto me assutava , hoje como adulto entendo esta mulher como um personagem das ruas da nossa querida cidade.
Parabéns pela pesquisa
Não moro em Salvador, mas tive a oportunidade de conhecer a Mulher de Roxo, sim, lá mesmo, na porta da Slooper, sempre perambulando naquelas imediações. Achei muito interessante seu artigo, pois você fez um resgate dessa figura histórica, que muitas vezes causava medo ou desprezo das pessoas. Parabéns !!!
Pasei minha infância e boa parte da adolescencia no centro da cidade. Conheci bem a mulher de roxo ( D. Forinada ) diziam que ela era dona de uma av. de casas na Bxa dos sapateiros e era clienta da Sloper e foi largado no altar pelo noivo. Por isso ficou louca perdendo todo seu dinheiro, apesar da loucura e da pobresa ela nunca perdeu a classe a educação ela era uma mulher educada.
A nossa cidade se dispersou, deixou de ter um centro onde todos s encontravam e boa parte disso deve-se à criação do CAB e aos os Shoppings. Não existem mais figuras populares como as que eram encontradiças no velho centro da cidade como a Mulher de Roxo, Jacaré, Cuíca de Santo Amaro etc. Se de insubstituíveis os cemitérios estão abarrotados, estes são exceção á regra.
Muito bom o texto…
Parabéns!
Bijuterias – João Bosco e Aldir Blanc
Pergunto: será que tem a ver com a Dona Forinada, a Mulher de Roxo?
Intro: (E/D Dm7/9 F#m7 F7+
A#7/9 A7)
Em setembro
Se Vênus me ajudar
Virá alguém
Eu sou de virgem
E só de imaginar
Me dá vertigem
(D4/7 G7/9)
Minha pedra é ametista
Minha cor, o amarelo
(C5+/7+ C6)
Mas sou sincero
Necessito ir urgente ao dentista
F#7
Tenho alma de artista
B7/6
E tremores nas mãos
A#7/5+
Ao meu bem mostrarei
D7+/9 F#m7
No coração. Um sopro e uma ilusão
Em C#m5-/7
Na idade em que estou
F#7/5+ B7+ F E7 A7+
Aparecem os tiques, as manias
E/D Dm7/9
Transparentes Transparentes
F#m7 F7+
Feito bijuterias
B7/6 A7
Pelas vitrines
Dm7/9
Da Sloper da alma
Cada ex funcionário da Sloper tem estórias para contar, algumas tristes outras engraçadas. Trabalhei durante quase dez anos na Sloper de Petrópolis. Tinhamos clientes que eram cleptomaníacos, depois o marido passava para pagar, pessoas com problemas psiquiátricos que paravam na porta da loja e gritavam palavrões, nos metendo medo. Hoje são apenas lembranças de uma epoca de aprendizagem e muitos sonhos.
Um abraço.
Ah! a Sloper. Quem nao a conheceu e nao guarda ate hoje na lembrança. Bela loja, muito chic. Nossos sonhos de jovem, se transformava diante de tanta beleza e pompa. La algumas funcionarias se achavam o maximo. Atender bem so as dondocas que saltavam de seus cadilaques exibindo seu poder.Tambem nos , funcionárias da Sul América , belo predio que era um marco da rua chile. E a saudade toca nesse momento, lembrando quao bom e seguro era trabalhar na Sul América Cia Nacional de Seguros de Vida ! Mas num fatidico dia a Sul America que tinha como lema ¨tao seguro como o pao de açucar¨derreteu nao o seu pao, mas o pao nosso de cada dia.Lagrimas, muitas lágrimas… Assim é a vida. Como a vida da mulher de roxo e de tantos outros marcos desta nossa bela e doce vida!