Diante de Moisés

A estátua de Moisés esculpida por Michelangelo (uma martelada e “Agora, fala!”) fica na Basílica de São Pedro Acorrentado, edificada sobre o lugar onde São Pedro foi condenado à morte, em Roma.

É uma igreja escura, fria, por onde passam milhares de pessoas todo dia, lentamente, como a fila no velório de um ídolo; metade delas não conseguirá ver direito a estátua. Nenhuma delas poderá tocá-la. Nenhuma pode tirar fotos, avisados de que o acúmulo do flash das máquinas danificará o mármore, mas sempre há alguém que desrespeita essa norma; pedir tal coisa a um japonês é pior que enviá-lo ao harakiri. Lá fora, dezenas de camelôs tentam vender algum souvenir aos turistas, camisas e chaveiros e estatuetas e livros ilustrados. Punguistas rondam a praça atrás de uma vítima desavisada.

Olhando para ela, e conhecendo-a de livros e vídeos, você se pergunta qual a grande diferença real entre ver a estátua ao vivo e em fotos que dêm uma visão completa da estátua. Qual a diferença entre aquele objeto real e o que você construiu em sua cabeça, juntando pedaços e pedaços de informação, é o que você não consegue entender. Como Pasolini no final de Decameron, você se pergunta por que realizar, se imaginar é tão melhor.

One thought on “Diante de Moisés

  1. Não sei… ver ao vivo, em tamanho natural, uma obra que já se tornou uma parte da vida, quando apenas vista em livros, me parece uma emoção indescritível. Não sei realmente se a percepção intelectual se modifica, mas é um presente para a história emocional de cada um.

    Quando vi aquela ascensão de Jesus Cristo, do El Greco, no Prado, não resisti. Estava com uns vinhos na cabeça e tentei disfarçar as lágrimas que não paravam de vir.

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