Como se sabe, brasileiro é um povo muito tolerante, exceção aberta àqueles milogueiros da seleção argentina de futebol.
Principalmente quando ela usa o seu porta-voz, o Olé.
Na segunda, até que foram sóbrios enquanto choravam a derrota na Copa América. Elogiaram Adriano, falaram a verdade — que a Argentina jogou melhor mas o Brasil teve mais vontade –, no máximo ensaiaram umas provocaçõezinhas dizendo que não íamos para as Olimpíadas porque eles nos deixaram de fora, o que é admissível.
Mas à medida que o tempo passa a má-índole do Olé vai tomando forma. Na terça, ainda tentando entender o que havia acontecido, botavam a culpa no inferno astral de Bielsa, lembravam mais uma vez que as uvas estavam verdes que não iríamos à Grécia, demonstravam que aquela derrota continuaria em sua garganta por muito tempo.
Ontem ele ainda estava remoendo a humilhação de perder para os reservas do Brasil. Uma matéria resolve detonar Edmílson, cujo grande crime é, claro, ser brasileiro, por uma falta pesada — é engraçado que a terra de Simeone reprove alguém por jogar sujo, mas… Nos chama ainda de “los campeones de los arañazos” (que diabo é arañazo?), e Crespo faz do jornal divã, ao dizer que não pôde jogar a Copa América porque precisava de férias para “reencontrar-se“. E depois se perguntam por que perderam. Aliás, se perguntam por que há tempos não ganham nada.
Há também uma entrevista de Luis González avaliando a derrota. Ele diz que pênaltis são sorte. São mesmo, quando você chuta certo. Quando chuta para fora é só incompetência.
Hoje publicam uma entrevista com Edu. O engraçado é que eles têm uma necessidade estranha de nos ouvir dizer que sim, que eles jogaram melhor. Curioso. Freudiano, isso. Obviamente, terminam a matéria lembrando que não vamos à Grécia.
Certo. Mas deixa eu lembrar um episódio das olimpíadas de 96.
Quando a Argentina soube que iria disputar a final contra a Nigéria (que tinha despachado o Brasil), o Olé (ou o Clarín, não lembro) tascou a manchete asquerosa:””¡Que vengam los macacos!”.
Os macacos foram e engoliram os bananas.
Mas parece que os hermanos não aprendem.
Foram os argentinos que passaram quatro anos choramingando e criando conspirações por causa daquela Copa da França?
Detalhe: não foi derrota por penaltis, foi três a zero.
Você tem razão, André. Poucas coisas foram mais chatas do que aquilo.
Mas há uma diferença sutil: as teorias da conspiração vieram do povo. Não lembro de nenhum órgão de imprensa implicando com os franceses por isso.
E ainda que não houvesse, não significaria que eles não têm sérios problemas com o Brasil; cá para nós, foi só uma Copa América. Vergonha maior passaram na Copa de 2002 e nem por isso o trauma pareceu ser pessoal.
Não significa que não há algo errado quando um órgão de imprensa imprime a manchete mais racista e mais nojenta que eu já vi, sabendo que isso será visto tolerantemente pelos seus leitores.
Tampouco significa que tenham aprendido a não contar com o ovo ainda na galinha. 😉
Rafael, chegaram a propor uma *investigação* na CPI do Futebol para investigar isso.
Uma disputa vencida nos penáltis só é considerada justa quando o time que a gente torce vence. Em caso contrário sempre vai ficar meio engasgado.
Eu não li a manchete do Olé(Prefiro o Clarin, La Nacion e o Página 12), mas também não acho que o Brasil seja lá um exemplo de democracia racial – ainda mais com tanta gente com ranços racistas, como Nelson Ascher ou mesmo Paulo Francis, tendo espaço na imprensa e sendo celebrados como grandes inteligências.
Problemas com o Brasil? Oras, eu me lembro que o Gustavo Kuerten tem mais respeito do Clarin do que de que qualquer jornal brasileiro.
Impossível falar na “ARGENTINA” e não lembrar da vergonha da copa de 78!
recebi pela internet: a diferença entre TERRORISTAS E ARGENTINOS: terroristas TEM SIMPATIZANTES!