Recebi um e-mail intitulado “Cada um tem o governo que merece”. Anexadas, algumas fotos de chefes de Estado: a família real britânica, a sueca, duas que não reconheci e, finalmente, Lula e Mariza vestidos como caipiras. A intenção óbvia é mostrar o descompasso entre a nobreza européia e nosso casal presidencial proletário e irreparavelmente brega.
O governo Lula tem uma série de deficiências, algumas das quais irritantes. De certo modo, até o tal Arraiá do Torto é exemplo delas. Por um lado reflete uma certa demagogia populista de um governo que, em muitos aspectos, está perdido e com muitas dificuldades; por outro perpetuou em sua estrutura alguns dos velhos vícios da política brasileira, como bem sabem Zezé de Camargo e Luciano. Pode-se acusar o governo de incompetência em algumas áreas, de continuísmo em outras.
Mas não é disso que o e-mail trata. Ele não trata de política ou economia; trata de estética. E nisso reflete uma postura elitista brasileira, os preconceitos de um povo que sempre se recusou a ver sua imagem no espelho.
Somos uma sociedade que tentou, sem sucesso, instituir o chá das cinco para nos diferenciar da gentiaga que comia quitutes vendidos por escravas descalças. Nossa história é a de ricos enfatuados em roupas pesadas e suando, suando e suando sob o calor insuportável do verão carioca. Tentamos falar francês como a aristocracia russa, outra que sempre se recusou a se ver como era e acabou nas mãos dos revolucionários bolcheviques. Somos brasileiros, com orgulho, mas não queremos nas costas toda a carga que isso nos traz.
Uma coisa é tentar se superar, e é isso que a grande maioria dos brasileiros faz todo os dias; outra, completamente diferente, é tentar ser o que não se é.
Estabelecemos comparações entre a nossa breguice luliana e a sofisticação da corte elizabetana, mas extrapolamos a medida da vontade de superação quando fazemos questão de esquecer que, tendo-se em vista a história recente dos Windsor, é muito melhor ser Mariza do que Elizabeth e seu cotidiano de pequenas tragédias humilhantes, que fazem a delícia dos tablóides ingleses.
O diabo é que a imagem que vemos no espelho incomoda. E acaba nos cegando.
Não tenho nada pra dizer sobre esse post.Vc jah faz isso mto bem.
Ah vc sua msg no meu blog sobre as info do post.Como sabia?Eu peguei a notícia de um jornal,a pessoa q redigiu q escreveu errado.É talvez eu deveria ter pesquisado..ehhe..mas foi como vc disse.A idéia ao menos eh válida.
Também recebi esse e-mail e achei pra lá de idiota. Na verdade, não vejo mal nenhum nem demagogia em fazer uma festa junina e se vestir de acordo. Festa junina é a coisa mais comum, todo mundo já foi pelo menos vinte vezes a festas juninas. o Lula então que é “do povo” como dizem, não faz nada que já não fizesse antes de ser presidente quando participa de tal festa. Que que nós temos com isso??? A imprensa deu atenção porque tudo que presidente faz vira notívia mesmo e a estranheza foi só porque os outros presidentes não faziam isso, mas e daí???
…Tô mais pra essa gente que ainda come os quitutes vendidos pelas ex-escravas descalças.
(Aliás, sabe que você me deu uma ótima idéia? Vou sair e comprar feijão e dendê pra fazer uns acarajés.)
Ciao.
tou com o roger!