Ser beatlemaníaco já foi pior. Antes da internet, tudo era difícil de se encontrar.
Talvez o fato daquele pessoal ter envelhecido e passado a pensar com mais carinho no dinheiro que se pode receber tenha feito com que eles passassem a desovar tudo o que havia nos arquivos. E não era pouca coisa.
Mas o nível a que se chegou em termos de tentar tirar dinheiro dos fãs é impressionante.
No que se refere aos Beatles, provavelmente pelos interesses conflitantes, eles foram mais comedidos. Em 25 anos lançaram um disco ao vivo em 1977, o bom Live at BBC em 1994 e a série Anthology em 1995, que tem coisas boas e ruins (eu, pelo menos, já conhecia praticamente todo o primeiro volume, mesmo antes da internet). Foram discos feitos especialmente para aproveitar um mercado que os piratas vinham ocupando havia 20 anos. Só recentemente é que fizeram uma grande bobagem, lançando o horroroso Let it Be… Naked.
O caso de Lennon é mais triste. Sob vários aspectos, Yoko Ono é uma criminosa: para começar, tirou praticamente todo o senso de humor de Lennon, uma de suas grandes qualidades. Depois de estabelecer-se como parte de uma entidade chamada OnoLennon (como antes tinha sido LennonMcCartney), o pobre John passou a se levar a sério demais. Seus discos solo se ressentem disso. Grosso modo, o conjunto de sua obra é mais inferior em relação aos Beatles do que a de McCartney. É essa mesma Yoko que controla o espólio de Lennon, e pelo visto tem se dedicado a não deixar que a lembrança do beatle se esvaneça, nem que o dinheiro pare de jorrar em sua conta.
Nos 24 anos que se seguiram à sua morte, praticamente todo o tipo de caça-níqueis foi lançado. Sem falar nas exibições de arte, primeiro Yoko Ono lançou as sobras do último disco deles, Double Fantasy, em Milk and Honey, além da canção-título de Every Man Has a Woman (Who Loves Him). Em 1986 foi a vez do Live in New York City, o seu último show, no Madison Square Garde — ruim, por sinal. Menlove Ave., um disco com sobras dos seus dois discos mais fracos e do Rock and Roll, saiu no ano seguinte. Em 1988, uma primeira versão de Imagine, e uma versão de Real Love (que seis anos depois os outros ex-beatles iriam regravar). Finalmente lançou uma caixa enorme, o John Lennon Anthology, com bons e maus momentos. Agora está lançando dois de uma vez: a reedição de Rock and Roll com algumas canções do Menlove Ave. e um take alternativo de outra dessas canções, e o John Lennon Acoustic, uma coletânea de versões acústicas de algumas de suas músicas.
O Rock and Roll não interessa, por ser coisa velha. Mas o John Lennon Acoustic é um caso a se pensar. Obviamente não ouvi o disco ainda, mas pelo tracklist o que se tem é mais do mesmo: versões inferiores de músicas já conhecidas. Pelo menos a versão acústica de Cold Turkey eu já conheço; foi uma das primeiras MP3 que baixei.
Deve ser difícil continuar a ordenhar uma vaca morta há um quarto de século, mesmo quando ela é sagrada.
Uma coisa que nunca consegui entender é porque Lennon juntou-se à Yoko Ono. E essa obstinação dela pelo mito me parece como a única forma de manter-se viva, pois não creio que seja pelo dinheiro. Ela sempre foi uma sombra e sempre soube disso.
Ciao.
Nunca gostei dos Beatles…Bjs e boa semana.
(resmungão e completamente mau humorado por estar prestes a ficar mais velho) NÃO ME CONFORMO COMO ALGUÉM PODE NÃO GOSTAR DOS BEATLES!