A imagem da moça não me sai da cabeça: moça pura, na casa dos vinte, com um desejo que queima sua carne mas que não é tão forte quanto tudo aquilo que está na sua cabeça.
Foi ela quem foi parar no Monicômio atrás de uma informação que talvez seja fundamental para o seu futuro: “macumba para ser vadia”.
Ela cansou. Cansou mesmo. Ela queria ser mais solta, queria reagir melhor a toques grosseiros de homens apressados, queria ser como suas amigas e dormir hoje com um, amanhã com outro. Ela queria desencanar, porque algo lhe diz que ela não está adequada ao mundo em que vive. Seu comportamento talvez fosse louvável em 1904; mas agora, duas guerras mundiais e um sem-número de revoluções depois, ela é como um peixe fora d’água.
Sente que se conseguisse ser diferente, se suas pernas abrissem com menos hesitações, ela seria mais feliz. Talvez se ela passasse a usar lentes de contato, quem sabe? Talvez se mudasse a cor do batom.
Assim como até hoje ela não conseguiu ver graça na vida que leva, aquela vida insossa regrada por preconceitos que sua mãe colocou em sua cabeça desde cedo, também a vida com que sonha está começando errado. Porque para ser vadia ela não precisaria de macumba, não precisaria que a Mãe Gorete de Oxum tirasse o seu dinheiro para lhe dizer o óbvio.
Para ser vadia ninguém precisa da ajuda dos orixás, não precisa de banhos nem de ebós na encruzilhada, não precisa sequer da pombagira. Para ser vadia, vadia de verdade, daquelas que as senhoras de Santana olham com nariz torcido, ela precisa fazer apenas uma coisa: dar.
Portanto dê, minha filha. Dê muito. Dê o quanto quiser: sentada, deitada, em pé, de ponta-cabeça. Dê com a mão na cabeça para não perder o juízo.
Mas simplesmente dar não caracteriza ninguém como vadia. No máximo fica uma fama de promíscua, o que se resolve quando achar um inocente que se case com você.
Para ser uma vadia, mesmo, você precisa apenas misturar prazer e negócios. Precisa se conscientizar que seu capital de giro está entre suas pernas.
Isso não quer dizer cobrar pelo que você dá, porque então você não seria vadia, você seria uma puta. Há uma diferença; talvez pequena, mas há.
Uma verdadeira vadia funciona em função de presentes. Não pagamentos, repito: mas presentes, vantagens, agrados. Mas, diferente das prostitutas que batem calçada, ela não dá para receber presentes; ela recebe presentes por dar. Há uma troca, claro, mas enquanto prostituição é uma profissão, o ser vadia é só um modo de vida
Portanto, minha querida moça cheia de dúvidas, esqueça essa conversa de macumba. Um copo com água deixado de lado por sete dias só vai lhe trazer mosquitos da dengue agora que o verão está começando; um despacho só vai lhe custar o dinheiro que seria melhor aproveitado em um conjunto de lingerie tão provocante que ultrapassa o limite do bom gosto.
Deixe a macumba de lado. A não ser, claro, que uma de suas fantasias seja dar em um terreiro ao som dos atabaques que imploram a descida de Oxum. Em vez disso, lembre-se de Chico Buarque:
Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma jóia falsa
Um sonho de valsa
Um cinema, um botequim…
Ser vagabunda é o máximo, nem que seja ser vagabunda de um homem só (que o amor não vai ser besta de extinguir tamanhas delícias).
E que a moça seja persistente no seu desejo. Se digitar novamente no Google “macumba para ser vadia”, agora ela acha a resposta. 🙂
Acredito que “os freios” que a moça colocou nela própria,não sejam assim tão fáceis de ser tirados.
Seria preciso primeiro um desprendimento de tudo aquilo que ela enfiou em sua cabeçinha durante estes anos todos de submissão aos valores morais.
Na minha humilde opinião,ela jamais será uma vadia de carteirinha…rs
ô, gente!!! me vê aí uma MACUMBA PRA SER VADIO!!!
Não me acusem de machista, mas as vadias não são as mais sensuais e divertidas?
os homens preferem as vadias, mas se casam com as putas
“Dar com a mão na cabeça…” Desde Salvador que não lia (ou ouvia) essa frase.
Bons tempos.
Ciao
Se conseguir ser vadia de verdade, dar com a mão na cabeça vai ser melhor ainda. Ela vai sentir o juízo escapando por entre os dedos. 😉
são as DUAS mãos na cabeça ou apenas UMA?
Não Ricardo, as vadias não são mais sensuais ou divertidas, só são vadias. E tem muita vadia sem graça por aí. O certo é que é melhor uma vadia na mão que duas putas na esquina.
Quem sabe se ela encontrar um homem que lhe tire os freios e bote uns arreios…