O casal de namorados chega à piscina, ela na frente, ele atrás. Calados, cabeças baixas, olhos duros. Ela se senta na borda, ele mergulha e vai para o outro lado, para a parte funda, e fica de costas para ela, queixo e braços apoiados na borda, dez metros de água azul entre eles.
Sentada, balançando os pés na água, ela olha para o namorado que lhe dá as costas ostensivamente. Ela funga algumas vezes, controlando o choro.
Imóvel, ele continua do outro lado da piscina, de costas para ela.
Fecho o livro e tiro o olho da minha filha e da minha sobrinha que brincam perto dela. Olho para os dois, ele imóvel, ela de cabeça baixa olhando para ele.
O que está em jogo agora é quem vai ceder primeiro, quem dará o passo para a reconciliação. Ele está apenas negociando sua rendição, vendendo mais caro a reconciliação em troca da mágoa que ela talvez lhe tenha causado. Mas continua imóvel, fingindo uma dor maior que a que sente.
Ela não agüenta muito tempo. Entra na piscina e vai até ele. Fica do seu lado, faz um carinho em sua cabeça, fala alguma coisa, beija seu ombro. Passa a mão em suas costas, sorri entre triste e acanhada, beija novamente seu ombro.
E então ele se rende, sabendo-se vencedor da pequena guerra sem importância, agora homem e feliz por seu blefe ter funcionado. Beija a namorada com carinho, com um olhar apaixonado e grato. Talvez, durante aqueles poucos minutos em que uma piscina representou a maior distância que pode separar um casal de namorados adolescentes, eles tenham julgado que tudo tinha acabado, e cada um desempenhou o seu papel com a maestria instintiva dos apaixonados.
Minha câmera está na minha mão, mas não tenho coragem de fotografar o casal. A beleza em tudo isso é justamente o fato de que, sem uma foto, essa pequena briga nunca existiu, e por isso se repete, dia após dia, casal após casal, e sempre tão igual.
Linda cena.
E a nossa memória não é de papel.
É…melhor seria se estas pequenas brigas sem importância nunca tivessem existido!
Mas como dizem por aí:
-Faz parte!
Em certos casos, o que acaba com um relacionamento é a sucessão dessas briguinhas sem importância. Elas, muitas vezes, machucam mais do que uma grande e definitiva briga. E como é complicado contê-las.
Muito bonita essa cena.
Beijos
Ando sensível demais nos últimos tempos, essa pequena cena que você descreveu fez minha vida passar na tela da memória por um breve instante.
Me comoveu Rafael.
Uma foto dessas não tem preço, especialmente se for tirada sem que o casal-brigante perceba.
Engraçado, não sei se é a idade, tempo de convivência, mas aqui comigo o script já tá pronto. E nem por isso é menos agradável o momento de fazer as pazes. O mais legal é que não tem muito jogo duro. A coisa é quase simultânea, e fica difícil saber quem tomou a iniciativa de abrir a guarda. Um olha pro outro, faz uma caretinha e pronto.
Mas… Acho que a foto nem ia conseguir capturar esse momento mesmo não. O interessante disso tudo só funciona em movimento.
Cada cena inusitada que acontece perto de nós e mtas vezes não notamos ou não somos capazes de captar aquelas singelas sensações que ficam no ar.Inusitada ainda que comum no dia dia.Vc devia ter tirado uma foto,ainda q depois tivesse que se explicar…. 🙂
Grande prazer poder encontrar um blog inteligente ao acaso na internet, quero sua permissao para linka-lo (sim, eu li o post sobre links) lah em meu bocapio.
Abracos
As melhores imagens são aquelas registradas só na memória.
Ciao
Bonito Rafael. 🙂