Há três filmes que sempre penso em colocar na minha lista de 100 melhores.
“O Show de Truman” é um daqueles filmes cuja idéia central é absolutamente visionária, e não são muitos os que podem ostentar esse título. Pode ser visto como uma crítica ao poder da mídia, um elogio ao livre arbítrio, uma crônica do relacionamento do homem e seus deuses. Pode ser uma antevisão dos reality shows que têm infestado o mundo nos últimos cinco anos. Há subtextos suficientes para fazer dele uma obra suficientemente profunda, e sua realização é brilhantemente comedida. “O Show de Truman” poderia, sim, ser um dos melhores filmes da história.
Mas ele tem Jim Carrey.
Não que ele seja um mau ator — assisti de novo dia desses a “Cine Majestic” e, com exceção do seu discurso ufanista e piegas diante da comissão mccarthista, sua interpretação é decente. Mas se hoje ele ainda carrega aquele estigma de humorista careteiro, isso era ainda mais verdadeiro em 1998.
O resultado é que eu não consigo levar Truman a sério. Estou sempre esperando uma piada, uma careta — e em alguns momentos ele chega muito perto disso.
No Oscar 2000, eu torci por “Beleza Americana”. Eu estava errado.
Alguém consegue lembrar de uma frase sequer de “Beleza Americana”? Duvido. Eu, pelo menos, só consigo lembrar dos peitinhos da Mena Suvari — e dos peitões da Thora Birch. Mas “Sexto Sentido” nos deu uma das maiores frases da história do cinema, e você sabe qual é, e lembra exatamente da cena em que ela é dita, e lembra da expressão de quem a diz.
Nenhum filme nos últimos 10 anos conseguiu um lugar tão grande e sólido no imaginário popular.
Por outro lado, “Beleza Americana” não vai muito além de uma narrativa pretensiosamente glorificadora da vida nos suburbs americanos. Uma espécie de “Seinfeld” sem humor: um filme sobre o nada, que provavelmente seduziu a crítica americana por colocar um verniz europeu em toda aquela banalidade.
Mais: “Sexto Sentido” tem um dos mais bem escritos roteiros da história. É um filme redondo, um dos mais redondos que eu conheço. Nenhuma cena é dispensável. Sei de gente que diz ter percebido que o personagem de Bruce Willis estava morto; eu não. E depois do filme passei horas relembrando todas as pistas que Shyamalan vinha nos dando ao longo do filme, maravilhado com a grande peça que ele tinha me pregado. Revi o filme apenas procurando falhas, e com exceção de um reflexo de Bruce Willis numa maçaneta, não consegui achar nenhuma. É extremamente cuidadoso (certo, tem alguns erros de continuidade, mas esses não contam).
Talvez “Beleza Americana” fosse mais ambicioso que “Sexto Sentido”, mas certamente não chegou tão longe.
O terceiro filme é “Amnésia“. É um filme revolucionário, uma história contada de trás para a frente com um brilhantismo absurdo. Há algo de genial quando você consegue contar uma história que faz tanto sentido, e é igualmente eficiente, de trás para frente e de frente para trás. “Amnésia” é um filme pioneiro e brilhante.
Mas eu não vi “Irreversível”.
E serão os 103 melhores ou você resolveu eliminar algum?
Oi Rafael, cheguei até aqui porque alguns blogues que leio anunciaram teu aniversário. Resolvi comentar este post, porque concordo plenamente com tua lista de filmes memoráveis. O Amnésia já vi duas vezes, e sempre fico com a sansação de que perdi alguma coisa. É realmente genial.
Abração!
Obrigado pelo oportuno “verde-melão”. Já mudei o título.:-)
eu tenho um post meio escrito desde agosto de 2003 sobre beleza americana. o filme é bonzinho mas o final é péssimo. é quase como se o autor não soubesse o que fazer com o personagem.
sobre sexto sentido, tem razao. eu meio que adivinhei. bem cedo eu já tinha dito para a moça que estava comigo que o psicologo iria morrer e que o menino iria ajudá-lo. Só nao adivinhei que já estava morto….
Observações pessoais:
1) O Show de Truman realmente seria melhor com um ator que não fosse tão marcado.
2) O mais interessante me Beleza Americana é a demolição da hipocrisia do american way of life – o que, convenhamos, não é pouco para um enlatado roliudiano.
3) Amnésia é um pastiche das narrativas – estas sim inovadoras – de Tarantino.
4) Sexto Sentido foi – ao menos para mim – previsível. Fui um dos que sacaram que o Bruce Willis já estava morto… Acho esse cineasta de nome impronunciável (nem me arrisco a escrever) a maior hype dos últimos tempos.
Abraços!
Eu também não tinha adivinhado que ele estava morto e também repassei os momentos para descobrir alguma pista…a que consigo lembrar nesse momento é a que ele vê sua esposa com outro.
Amnésia, sem comentários, assisti muitas vezes e adorei a composição alinear.É um filme que vale a pena.
Qto a frase de Aristóteles, não se preocupe…eheh…eu tbm não sabia que era dele, e pra dizer a verdade até agora estou duvidando…rs
pra mim o show de truman é um filmeco com uma boa idéia. agora… o carrey está melhorando muuuuito como ator… nesse brilho eterno de uma mente sem lembranças (esse sim um filme para entrar numa lista de 100, o kaufman e O CARA hoje, sem dúvida!) ele esta ÓTIMO!
…
a direção de beleza americana é sublime. o roteiro é ok e os atores estão ótimos, o kevin destrói com aquele ar blasé.
…
a atração de amnésia é isso, da história ser contada de trás pra diante. tem bons momentos, claro. mas em termos de criação fica a anos de irreversível.
O Show de Truman é absolutamente brilhante. Acho o Jim Carrey caricato em algumas passagens, mas no geral ele me convence, e muito. Além disso, o Ed Harris dá um show em cada cena que aparece. Se eu fizesse uma lista de 100, teria vaga garantida./// Eu percebi que o personagem do Bruce Willis tava morto antes de ser revelado. Mas só porque não assisti na época do lançamento e ouvi falar do filme durante 3 anos. Fora dessa condição, seria impossível eu perceber que o cara tá morto. Mas eu não devo ser tão inteligente – ou, pelo menos, não tão mentiroso, pra usar uma citação daqui mesmo desse blog. Ainda assim, continuo achando que tava certo quando torci por Beleza Americana. Gosto muito, acho que tem passagens memóraveis. Me lembro não de uma frase, mas de diálogos inteiros. Acho magistral a condução da trama.E Kevin Spacey,
Annette Bening e Chris Cooper têm ótimas atuações./// O filme recente que mais tem epaço no imaginário popular, e que, a despeito disso, eu acho uma grande bobagem, é Matrix./// Filmes a ser lembrados pra possivelmente entrar numa lista de 100: Pulp Fiction,Quero Ser John Malkovich, Adaptação(principalmente) e Brilho Eterno(pois é, Biajoni, também acho Kauffman O cara).
Amnésia é bom na ordem “correta” tanto quanto na ordem “inversa”.
Já Irreversível é um filme incrível, enquanto na tela as coisas ficam cada vez mais bonitas, o futuro dos personagens, já conhecido do expectador, parece cada vez mais tenebroso. (Numa análise incrivelmente rasa.)
Kauffman é o cara, Adaptação é sublime, Brilho Eterno quase chega lá (ah… a Dunst pulando na cama de calcinha), corrigindo, Brilho Eterno é melhor.
Não gostei de “Beleza Americana” Pode ter sido “demolidor, ácido, desmistificador da felicidade hipócrita da sociedade” e outras bobagens ditas à época, lá pros states e pras negas deles. Na minha opinião, é um pastiche do que Nelson Rodrigues fez trinta anos atrás. Com a vantagem que o velho safado
deixava claro nas entrelinhas que se considerava tão canalha quanto seus personagens. “Beleza” não, eles levam a “denúncia” a sério.
Prefeiro “Os sete gatinhos”.
Olá,
O Show de Truman realmente é um excelente filme que leva a questionamentos interessantes quanto a relação Deus, Homem e livre arbitrío.
O show de truman é bem sacado e o Carey está bem, apesar de não abandonar seu eterno papel de comediante. Sexto Sentido não assisti (mas sei que a história é engenhosa), nem Amnésia (tenho vontade). Beleza Americana é ácido, mas no fundo não me convence muito. Bjs. Ah, felicidades pelo aniversário!
beleza americana nao tem nada de demolidor. que filme vcs viram? é como achar que um livrinho reacionário como apanhador no campo de centeio questiona alguma coisa. é um filminho feijao com arroz que repisa muitos outros filmes e livros que posam de contestadores e nao contestam nada
Ahhh, não sejam tão maus!!! “Beleza Americana” é muito bom filme. A cena em que o Lester e Carolyn discutem à mesa é uma das melhores brigas que o cinema já produziu. Kevin Spacey finalizando cada frase com “Pass the asparagus” é sensacional. E sem essa de que o final é ruim, o final é bom (“Because” tocando após o monólogo de Lester já morto foi muito legal)
Truman tem uma grande idéia, deixou a desejar na execução, sim, Carrey tem culpa nisso.
Sexto Sentido é bom, mas, não foi surpreendente para mim. Demorei para ver o filme e só assisti depois de ver Os Outros, ninguém me contou o final, mas, logo no começo, já tinha sacado que o Bruce estava morto.
Beleza Americana para mim é ótimo. Não achei impactante, mas, muito bem escrito e realizado. Muito oportuno aquele questionamento de cheguei nos 40, não sou velho ainda, mas, estou quase ficando. Que fazer da minha vida? hehehehehe A loirinha também é um tesão.
Truman é um filme brilhante e sim, Ed Harris é o show do filme. Jim Carrey não me incomodou no filme. Beleza Americana tem uns lances bonitos – a cena das pétalas de rosa é magnífica – acho o final triste (óbvio) mas não considero tão impactante assim. Sexto Sentido I see Dead People tem que frase impactante, I see dead people?
Entre Memento (oh please, o nome em inglês tem mais significado) e Tarantino, fico com Pulp Fiction, que é contado fora de ordem e é um filme ótimo. Tarantino tem uma mão perfeita para histórias contadas sem ser na ordem sequencial dos fatos. Não sei se considero Nolan um grande diretor. Insonia é meio chato. O homem está fazendo Batman com Christian American Psycho Bale. E eu já sei que todo mundo vai achar que a melhor coisa desse novo Batman é a Katie Holmes… predictable. Vou sapear sua lista dos 100 e volto depois pra dar palpites 😉
rrrrrrrr!!!!!
…
“apanhador” de novo? de novo, alexandre?
rrrrrrrr!!!!!
……
pega ele, nicolau!
Beleza americana é um filme de personagem, de demônios pessoais e relações extremas, é um filme intimista e bonito, não é impactante, é intropactante (existe?). O Sexto Sentido é incrível por tudo que você disse. O delicioso é justamente remontar tudo que mostra o que você não conseguiu ver e era tudo tão simples, estava tão evidente. A turma do “eu já sabia” tem que mostrar uma gravação, uma prova, pensar somente nâo vale. O Show de Truman? Aprendemos como esvaziar uma boa idéia. Amnésia, não é só rodar o disco ao contrário, tudo foi escrito neste sentido para que o encadeameno tivesse sequência. Tarantino? O verdadeiro hype. Ao menos um bom produtor.
Sou fã do Jim Carrey, suspeito para falar sobre ele, portanto. Mas em “The truman show” e em “Eternal sunshine of the spotless mind” ele simplesmente está fantástico. Isso porque eu ainda não assisti “The man on the moon”, dizem que ele está soberbo.
Sua atuação em “Eternal sunshine…” foi impressionante. Como costumo dizer quando abordo tal assunto, Russel Crowe ganhou um Oscar com muito menos. Comparo a atuação de Jim Carrey à que deu a estatueta ao Kevin Spacey. É um filme belíssimo, o melhor que já assisti até hoje.
Um outro filme que merece estar em qualquer top 100 digno é “Lost in translation” com o Bill Murray. Imperdível.
Oi, quem me “mandou” vir aqui foi o Ina. Adorei.Já está nos favoritos.
Difícil fazer uma lista só com 3 filmes! Mas estes 4 comentados no post com certeza fazem parte da minha lista de 100 melhores.
Acho bárbaro quando uma cena de um filme se torna uma referência, como em Sexto Sentido. Interessante o que o Marcos falou comparando Beleza Americana com Nelson rodrigues. Eles lá também têm seus Nelsons mas a inovação está em Hollywood mostrar esta demolição de valores.
Amnésia é tão bom quanto Pulp Fiction ou Brilho Eterno. Que importa quem foi o 1º a fazer um filme sem estrutura temporal convencional? Todos esses diretores souberam contar suas estórias de maneira brilhante!
I See Dead People!
Também amei… O pirralhinho deu um show!
E como alguém falou lá em cima, o estigma de careteiro de Jim Carrey nem estragou “O Brilho Eterno…”.
Beleza Americana foi cansativo, mas assistível.
E por falar em Amnésia, boa lembrança! Não assisti. Vou dar um “plá” com o Shareaza lá em casa. 😛
Ah, é pra dar pitaco ?? Então eu também vou dar.
Não estou nem aí pra se o Beleza Americana é demolidor ou não. Ele contém uma das cenas mais sublimes que eu já vi, que é quando o desajustado que filma tudo, filho do militar, chama a filha do Spacey pra ver um filme que ele fez de um rodamoinho de vento, com um saco plástico voando no meio. Eu posso ter viajado, mas o que eu vi ali é que todos nós somos isso aí, rodamoinhos de vento com um saco plástico rodando no meio, até que o vento acaba e o saco plástico cai no chão.
Já Truman começou a mostrar o lado mais aproveitável do Carey, que a meu ver bombou em Brilho Eterno. É um grande filme. Concordo com quem falou aí em cima que o Ed Harris é o melhor do filme.
Memento é legal mas não passou em um grande teste que costumo aplicar: estive com o DVD na mão em uma loja e não levei.
Sexto Sentido tem um segredo que eu descobri acho que antes da metade do filme, na cena em que o Bruce Willis está no porão e é impotente para ir esmurrar o cara que está cantando sua esposa na porta de casa. Mas é um bom filme, sim. Eu também vejo gente morta o tempo todo, e o que é pior, elas não sabem disso.
abçs
Rafael, concordo integralmente com o que você escreveu a respeito de “Sexto Sentido” (Shyamalan é para mim um dos melhores cineastas contemporâneos). Mas olhe, para mim “Amnésia” é um tremendo engodo – uma espécie de “Desejo de Matar” passado de trás pra frente.
esse INA só concorda comigo! eita NEGO de bom senso!
Eu nao gostei de Memento. Achei muuuito previsivel, e do meio pra frente, enjoativo. Prefiro um outro do mesmo diretor sobre pessoas q seguem as outras randomicamente pelas ruas – um q eh em preto e branco e q eu obviamente esqueci o nome.
Eu não gosto do Jim Carey, mas devo admitir que o Show de Truman é um excelente filme. Carey devia ter insistido num Grinch II, III, IV… Foi o único filme (Grinch é o título em italiano – aquela refilmagem de “Um Conto de Natal”) com ele que eu gostei. Talvez porque estava irreconhecível debaixo da maquiagem.
Ciao