Meus livros ficaram encaixotados desde que vim do Rio, ano e meio. Chegaram em novembro e só agora arranjei coragem para arrumar os coitados.
Não vou falar do trabalho miserável que é tirar livros de caixas, colocá-los na mesa, limpar e arrumar cada um deles. Não, ninguém merece isso. Minhas costas já sofreram o bastante para eu precisar descontar em cima de alguém. Prefiro colocar uma foto ao lado: ali está a primeira leva, as primeiras duas caixas. Havia mais algumas me esperando.
Eu tenho cá meu sistema de organização. Simples ao extremo, que eu não sou bibliotecário e Dewey para mim era apenas um promotor que queria ser presidente. Mas é eficiente.
São, basicamente, alguns níveis de divisão. O primeiro é simples: ficção e não-ficção. Tenho notado que o tempo age implacavelmente sobre mim; se há dez anos eu lia preferencialmente ficção, hoje em dia leio cada vez mais não-ficção. Os interesses mudam com o tempo.
Em ficção eu separo, em primeiro lugar, por país. Literatura brasileira, americana, inglesa, russa, etc. Cada uma dessas é subdividida em autores, em ordem cronológica. Primeiro os autores mais antigos. E cada autor, por sua vez, está classificado também em ordem cronológica. Não faço distinção entre prosa e poesia. Não me parece apropriado classificar poesia como ficção, mas tampouco é não-ficção. Fica aí, mesmo, e a minha Marianne Moore, paixão de muito tempo, fica entre um livro de contos do Edmund Wilson e um livro quase bom do Malamud. Além disso, eles são muito poucos. Como são muito poucos os livros de ficção latino-americana. Atrás de todos eles está o meu livrinho de 1500 dólares (comprado por um), Quiet Days in Clichy.
Há uma última divisão: literatura policial. Mas segue os mesmos padrões, com uma diferença: primeiro vem Hammett, depois Chandler, depois MacDonald, minhas três grandes preferências. James Cain. Chester Himes. Walter Mosley, o último autor a me empolgar. E então vem o resto. Jim Thompson, de quem já gostei mais, tem lá o seu lugar.
O que me espanta, aqui, é o número de livros ruins. “Os Versículos Satânicos” está lá, em literatura inglesa. Os livros de Evelyn Waugh se espremem entre um Joyce e um Greene — estão em boa companhia; mas é em literatura americana que está o maior número de lixo. Eu quase não acredito que tenha três romances de John Updike, e um de Gore Vidal, dois romancistas abaixo do aceitável (em compensação tenho dois belos livros de ensaios de Vidal e a autobiografia e uma coletânea de resenhas de Updike. Updike não chega aos pés de Richard Ellman, mas seu texto é melhor).
A parte de não-ficção é mais interessante.
As subdivisões são poucas, e como foram os primeiros a ser arrumados, na prateleira mais alta, ainda precisam ser ordenados. Há a parte do que eu chamo de “negócios”, o que inclui jornalismo, publicidade, marketing e marketing político e livros sobre algumas empresas (a história da IBM me fascina, por exemplo, desde que li a biografia de Tom Watson Jr). Há as biografias, a parte sobre música (desculpe: Beatles), cinema. História, política, ensaística e crítica literária. Os livros de arte se arranjam como podem, de acordo com seu tamanho.
É curioso que eu tenha tão poucos livros sobre publicidade, e menos ainda sobre marketing político. Mas tenho pelo menos tudo o que David Ogilvy publicou de decente, embora só precisasse, mesmo, de um: Ogilvy on Advertising. Se alguém fosse ler um livro, e apenas um, sobre propaganda, esse seria o livro que eu indicaria.
Há algumas curiosidades. “Minha Luta”, de Hitler, está ao lado de Hitler’s Willing Executioners. Talvez só eu ache isso engraçado.
Ali também descansam livros que, decididamente, eu não sei direito como foram parar ali: “O Óbvio e o Obtuso”, “O Ser e o Nada”, “A Reconstrução dos Direitos Humanos” (do Celso Lafer sobre a chatíssima Hannah Arendt).
Definitivamente, quem tentar me conhecer pelos meus livros não vai descobrir absolutamente nada sobre mim. No máximo vai conhecer o mal que eles fazem às minhas costas.
… se há dez anos eu lia preferencialmente ficção, hoje em dia leio cada vez mais não-ficção.
Eu prefiro ficção. Vamos (ou melhor, vou) ver o que me cabe daqui a dez anos.
Rafa, uma arrumação eficiente é a q permite a quem manuseia recuperar a informação …
Qto às suas costas, vai uma massaginha aí? rsrsrsr
Beijão, querido!
Ainda bem que eu escrevi este texto antes de você. A confusão da sua arrumação é um caso à parte.
Minha mulher é formada em biblioteconomia. Mesmo assim é impossível organizar todos os meus livros. Parte está na casa da minha mãe, devidamente arrumados; parte está na biblioteca do meu pai (que afirma que ali só entra. Sair, nem pensar!); parte na casa do meu sogro, encaixotados, aguardando serem transportados para a Itália; o restante está comigo. Tem um espacinho sobrando aí?
Ciao
Concordo quando vc diz que Versos Satânicos é ruim. Não consegui chegar ao final. Já O último suspiro do mouro do mesmo Rushdie é muito bom.
Mas, me diga uma coisa: vc também é daqueles que compram livros só pelo prazer de possuí-los, mesmo que não possa-queira-consiga lê-los ?
eu sempre ouvi dizer que livros fazem mal para os OLHOS!
eu tenho poucos livros. mas a melhor parte é arrumá-los. adoro arrumar livros.
já ler… 😛
Rafael, que dor nas costas que nada. Isso é uma festa. Faltou você chamar um bom amigo blogueiro (eu, eu, eu) junto com um livro (digo, litro) de whiskie para ajudar. Iria demorar dias.
O que Allan, um espacinho? Eu tenho, eu tenho, eu tenho.
(hoje tô oferecido)
Ultimamente meu critério de clasificaçao ficou muito mais simples, bem menos sofisticado que o teu. Dividi tudo e em uma prateleira tenho os começados nunca terminados, em outra os empoeirados e esquecidos e outra ainda com os nunca lidos mas desejados. Que inveja de quem tem tempo para ler! Nao vejo a hora de me aposentar.
Psiu… e o Hemingway?
Não me vem com essa historia dele ser bla bla bla zzzzzzzzzzzzzzzz… Pelo menos O velho e o mar…
Eu tenho pouco livros, uns 50 no máximo. Os do Hemingway ficam em um canto. Eu arrumo por autor. E tem um coleção bonita, que eu só tenho 2, mas toda vez que sobra um dinheiro e tem um sebo por perto eu procura pra tentar terminar.
Eu tenho um padrão pra arrumar, eu não sei qual é. É o mesmo padrão que eu arrumo os links do meu blog. Os dois primeiros da lista são a minha motivação, o resto tá lá… pq minha cabeça mandou…
Blá!
Impressionante como consegues transformar uma arrumação/organização/classificação de livros em algo gostoso de ler. Ainda por cima, deu vontade de organizar os meus. Pena que metade deles estejam em Porto Alegre…
Que que você acha Galvão?
Eu seguia por esse caminho, já estava acumulando uma boa biblioteca de clássicos, e resolvi chutar o balde. Comecei a dar meus livros, foram 3 para um primo no natal, outros 4 para outro, e outros ainda. E não compro mais!
“Definitivamente, quem tentar me conhecer pelos meus livros não vai descobrir absolutamente nada sobre mim”
Ah, vá. Tá querendo enganar a quem ?? 🙂
Não gostas de ficção-científica?
Oi, Quase xará!
Tudo bem? Nao pude resistir e lembrá-lo que a biblioteca é o único lugar em que Hitler pode estar ao lado de Lenin. Mas adorei a sua organizacao os seus livros. Lá em casa, apesar de duas Bibliotecárias (mae e filha, é uma dinastia rs) a CDD passou longe… Estao organizados por afinidades mesmo de autores e pela preferencia pessoal. É claro que nao resistimos e ordenamos um pouco por assunto. Por enquanto, eles estao proibidos de entrar lá em casa por falta de espaço! A dor nas costas é algo grave mesmo, melhoras, pois uma coisa que pesa muito é o danado do papel!!!!
Abs,
Eu organizo por época de chegada à minha mão, pra lembrar como vivi, pelos livros que li ou quis ler. Dentro de cada época(divido minha vida em 7 “grandes épocas” até agora), em três categorias: comprados, recebidos e roubados(essa categoria nem tem na época atual, mas, não sendo hipócrita, eu já roubei muito livro), aí eu divido entre os que mais me acrescentaram algo e o que menos me acrescentaram.
O maior problema desse tipo de organização é que às vezes leva horas até eu achar um livro antigo pra consultar. Mas fico feliz sempre que olho pros minha “biblioteca”.