A Farra do Boi

Em julho de 88, em Goiânia, uma catarinense contava, a mim e a um amigo, a sua versão da farra do boi, que na época tinha alcançado as manchetes de jornal graças à sua crueldade desorganizada.

(Era um congresso de estudantes, o momento político era de agitação, achavam que discutíamos o futuro do país ali e tudo em que eu e esse amigo pensávamos era em arranjar alguém com quem dormir naquela noite. Em Goiânia fazia frio.)

Ela mentia. Ainda lembro de sua voz, de seu sotaque e da sua expressão de ultraje, dizendo “Não, mas a minha farra do boi não tem nada disso!” Sua amiga, calada, apenas concordava com a cabeça.

Tudo bem. A gente mentia, também. Descaradamente. Bons velhos tempos, em que a verdade podia ser tão sutil e tão pouco importante, porque a gente ainda sabia o que realmente valia a pena.

Originalmente publicado em 11 de outubro de 2003.

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