O que é moda no Rio vira moda no resto do Brasil. As saias de puta suburbana da Darlene, em “Celebridade”, viraram coqueluche no país inteiro. A amplificação que a TV dá a “novas tendências” faz com que as pessoas percam seu senso crítico, porque moda não tem a ver com vestir-se bem, e sim com a tendência demasiado humana de seguir ao lado do rebanho.
Mas este país tem uma riqueza absurda.
No final de julho estava no aeroporto de Salvador, numa das minhas passagens-relâmpago pela cidade que forçam amigos a rodar quilômetros para uma ou duas horas de conversa fiada e implicância. Tomava um café com a Cipy quando ela me apontou uma moça que passava. Usava um vestido laranja com motivos africanos, e Cipy deu o nome da estilista: Goya Lopes.
Se você não é baiano é provável que não faça idéia de quem seja ela. Mas na Bahia ela é famosa, seus vestidos vendem, e ajudam a criar uma estética regional própria, que independe da força de marketing de veículos de massa nacionais como a Rede Globo.
Durante muito tempo, mesmo depois de ter sido expulso do eixo político-econômico do país, o Rio ainda foi a caixa de ressonância da cultura brasileira. Para acontecer no país, era preciso acontecer no Rio de Janeiro. Para que o Brasil conhecesse Dorival Caymmi ou Ednardo, eles tinham que ir para o Rio. Continuassem na Bahia ou no Ceará e ninguém saberia que é doce morrer no mar, ou ninguém perderia Maria Helena para o dentista enquanto engomava a calça.
As coisas, no entanto, estão mudando.
Há alguns anos, passando por aquela favela logo depois daquela entradinha que liga a Av. Brasil à Linha Vermelha, eu vi um cartaz ou outdoor anunciando um show da banda Calcinha Preta.
Se você não é nordestino ou não mora mal, dificilmente ouviu falar da Calcinha Preta. É uma banda sergipana de forró, esse forró brega que começou com o Mastruz com Leite no Ceará e está destruindo a tradição musical nordestina, talvez a mais rica do país. Como ela existem dezenas de outras. E elas cresceram sem precisar da Globo ou da Veja, se firmaram em suas cidades, em seus Estados, e se espalham. Encantados com suas modinhas passageiras de verão, o centro do país não vê o que acontece.
Não se discute aqui a qualidade musical dessas bandas. Elas são ruins. Pior: são deletérias e nocivas. Mas sào também um sintoma de que este é um país maduro o suficiente para permitir a descentralização cultural.
Em tudo isso há uma coisa boa. Talvez um dia o país deixe de se tornar refém de modas artificiais. E a gente nunca mais vai ter que ver as pessoas usando as saias da Darlene.
Mais um belo post, Rafa! É a marca deste blog.
Qto à Goya, identifico sua estampa de longe. Traz uma forte africanidade braslieira, bem baiana, bem colorida, bem misturada, bem bonita.
Essa coisa de moda, necessária pra q se venda tendências, novidades, é efêmera. Estilo, n.
Beijo carinhoso,
Jamais estaremos livres da banalidade da moda imposta pela mídia. Esse país desprovido de cultura não deixará de sucumbir aos modelitos da nova musa das oito.
Tendências da moda são impostas. As novas coleções, consideradas o MUST da temporada, são criadas a partir de poucas cabeças. E uma multidão os acompanha. Ninguém pensa no que gosta mais de usar, em quem gosta mais de ser.
Se a Cléo Pires, incrívelmente votada a mais sexy do Brasil (o que faz uma novela…), começar a usar um chapéu de bananas, veremos milhares de Carmens amanhã.
O problema da Cléo Pires é que foi pegar uma protagonista (sim, porque é isso que ela virou na novela), logo no primeiro papel… Não dá pra julgar a moça por enquanto… O único julgamento que posso fazer por ora, sem ser injusto, é que a moça é bonita pra caramba… Apesar de que lembrar do Fábio Jr. quando se olha pra ela é algo brochante, mas já estou quase esquecendo a semelhança física com o pai, quase… Logo, logo, serei capaz de admirar só a beleza em sí.
Qto a Calcinha Preta, conheço sim. Afinal, sou um homem que “circula”… hehehehe Já esbarrei com eles uma vez, com as dançarinas mais precisamente. Também já estive num churrasco com a tal Banda Calypso, etc… Minha opinião? Também não gosto. Só não acho que as coisas novas que surgem tenham necessáriamente o poder de destruir as antigas, acho a música tradicional nordestina (forró, xote, baião, xaxado, etc, etc, etc) ricas demais para morrer.
É mais ou menos como quando surgiram os neo-caipiras, essas duplas sertanejas conhecidas, que abandonaram a música caipira de raiz e começaram a fazer som elétrico, pop-romântico, etc. Muita gente disse que eles matariam a música tradicional, mas não mataram. Pelo contrário, muitos que não se interessavam por música caipira, começaram a ouvir os neo-sertanejos e depois descobriram a música de raiz, infinitamente mais rica e original. Acabou que a música tradicional manteve o espaço que sempre teve no meio-oeste (são paulo, paraná, minas gerais, goiás, mato grosso do sul) e os neo-sertanejos se estabeleceram no Brasil todo.
Pode parecer bobagem, mas essa aparente uniformização tem um lado bom. Nota-se mais facilmente quem tem estilo próprio. Quando, numa sala de embarque, observa-se uma criatura lendo Rubem Fonseca, é impossível não começar a pensar: “deve ser alguém interessante…”. 😉
A saia da darlene é a pior coisa que aconteceu no Brasil depois destas calças desfiadas todinha. Nem sei explicar como é a calça. Eu sou basicona adoro um jeans bem apertado e uma malha básica. E tênis não tem preço claro.
Clacinha preta não dá para engolir. Mas eu fico muito. muito feliz por perceber que Veja e Globo consegue ficar de fora de coisas que acontecem no país. Tudo que tem o aval destes dois meios de comunicação é extremamente comercial e quase nunca com algo realmente regional e com particularidades do autor, pintor, cantor…
Rafa, eu lembro bem dessa faixa do show do Calcinha Preta. Passava ali na entradinha da Linha Vermelha todos os dias.
Agora, eu discordo dessa história de “destruindo a tradição musical nordestina”. É simplismo. Se fosse assim, o pagode mauriçola paulistano, que foi um fenômeno muito mais robusto que o do forró mauriçola, teria exterminado o bom samba da face da terra. Como se vê no Rio, hoje em dia, o samba de raiz está mais do que vivo, assim como o chorinho também, enquanto o pagode agoniza, assim como esse forrozinho fajuto.
Enquanto isso, qualquer show de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Forroçacana, bombam aqui no Rio. Lembra do Cantoria? Pois no show de reencontro deles no ATL Hall não tinha lugar que chegasse. Eu estava lá.
Nenhum estilo destrói o outro. Isso são fases, são ciclos. Quem procura a cultura musical desse país nas rádios populares ou no Domingão do Faustão pode acabar achando que isso realmente acontece. Procuremos Lenine então, digno representante da cultura nordestina e o mestre de cerimônias da música brasileira no Ano do Brasil na França. É por aí. IMHO.
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país.
A moda as novelas é totalmente imposta pela Globo de acordo com interesses comerciais. Não segue tendências internacionais (seja lá o que isso signifique), não cria um espaço para a divulgação de genuínos talentos regionais (e, céus! quantos temos!). Basta uma passada num shopping pra ver como todas as vitrines estão pasteurizadas.
Pelo menos as saias de darlene substituíram as saias de Babalu hehehe.
Uma prova de que a doença não está se espalhando mais como antes é o funk carioca, pra mim a pior coisa que aconteceu na música brasileira, não ter chegado aí por cima.
Ou chegou?
Valha-me, Deus!
Claro que todos batem quando o assunto é novela e a imposição de conceitos e costumes goela abaixo pela mídia. No Brasil isso se intensifica muito mais ainda devido a ignorância popular que facilita a imposição dessas idéias ou modismos, ou o que seja que esteja sendo vendido na TV.
Mas, a verdade é que no mundo inteiro isso existe, a imposição do conceito, da moda, da idéia, do certo. Temos a falsa impressão que mundo afora as coisas são melhores, as pessoas mais cultas. Isso é um engano.
Conhecemos apenas o que nos é veiculado, e o que é mostrado ao turista pelo guia.
Lá fora a influencia é a mesma, ou ainda é maior nos países desenvolvidos onde o poder aquisitivo é maior, a mídia bombardeia ainda mais fortemente com “compre, compre, compre ou morra”, e tb conduz o pensamento, até mais que aqui.
Nessa história é tolice julgar que apenas nós os cegos.
Ah! Rafael, a nova sensação agora é a Calypso.
Concordo com o que o Bruno disse mais acima.
Toda vez que eu volto ao Brasil de férias, eu me espanto com a uniformidade dos modelitos nas lojas de roupas e sapatos. Se você não curtir muito o que está na moda do momento, não tem nem muita opção para comprar.
Acho que o que precisa amadurecer não é tanto o consumidor, mas os estilistas de moda, os programadores das rádios, e por aí vai…
Discordo de você.
Primeiro porque o forró no Rio ganhou força com os salões da Lapa (tinham fechado, abriram, fecharam e etc). Depois com a abertura da Feira dos Paraibas, a coisa cresceu. Por isso faz tanto sucesso aqui. Mas veja bem, ainda existem coisas que fazem sucesso apenas no Nordeste, assim como existem coisas que fazem sucesso apenas no Sul e etc.
Eu não tenho nada contra a saia da Darlente, calça da Gang e etc.
Eu tenho uma bunda gostosa ué, que que eu posso fazer?
Leila, dê uma olhada aqui: http://www.goyalopes.com.br (n a conheço … só a sua arte) e veja uma estilista diferente. Concordo c vc q é difícil encontrar coisas interessantes e diferentes, mas é possível. Aqui em Salvador temos algumas opções. Pelo jeito baiano de ser … pode ser.
Um beijo,
Rafael, tem muito comentarista por aqui, cada um fala um pedaço do que se queria falar. 🙂
Tema para o próximo post: “O que é moda natural?”
Abraço.
Vocês é que assistem pouca tv (sorte de vocês, eu sei que esse meu hábito é mais horroroso que fumar compulsivamente). Mas essas bandas “Calcinha Preta” e “Calypso” são atrações de domingos trash na tv aberta não é de hoje (me lembro pq sempre me choquei com a bizarrice de ambas). E quando digo domingos trash incluo Globo (só não posso afirmar com certeza absoluta pq obviamente eu não sei diferenciar Gugu de Faustão nas minhas memórias tenebrosas).
Sobre a Cléo Pires, eu já superei a semelhança dela com o Fábio Jr nesses últimos dias que ela tem aparecido mais. Aquela risada dela é deliciosa e não digo isso com tendências lésbicas, devo frisar…
Agora deixa eu ir pq eu tô perdendo Oprah (eu disse, é um vício asqueroso, heheheheheheh, um dia me interno).
É realmente terrível ver o tamanho da influência da mídia nas pessoas…”Botas América”, “Lambada com a Rainha da Sucata”, Crise política pela visão “global” (este não interessa muito neste país). Não é sem motivos que esta infuência já foi até assunto em destaque na Super Interessante. Agora a moda é ver o Calypso no Gugu…Mas no fundo isso não se aplica só aqui…Veja as propagandas ridículas dos americanos vendendo suas fórmulas mágicas com uma pláteia tosca dizendo “wow wow…” Varia só a cultura…ou a falta dela (rs).
Abraços!
É triste ver pessoas maduras (para não dizer velhas) amarradas a modismos feitos para adolescentes de 15, 16 anos… Quer se fartar disso? Passe algumas horas em dois shoppings localizados em um condomínio fechado com fachada de “nobre” na grande São Paulo. São tristes figuras.
Quanto à música do Rio.. Nem comento. Só posso dizer que tenho ojeriza quando ouço letras desencontradas, forradas de conotação sexual e que nada agregam à nossa parca e faltosa cultura nacional.
Beijos e sucesso.
Pess
GENTE EU SO ENTREI NESSE SITE PARA SABER ONDE ENCONTRAR A SAIA DA LURDINHA!!!DESCULPA AÍ!!!
Um abraço do cantor big mar para o Rafael Galvão
Rafael o forró está conquistando as pessoas
Big mar revelação do forró sua musica de sucesso é big brother vocé pode ouvir no site Radionline.com.br