Ah, um dia eu vou deixar de ser só um paraíba, e vou afiar o meu inglês tão pouco usado, e então vou escrever neste blog misturando as duas línguas.
Vou me sentir como a aristocracia russa, aquela que falava francês em seus salões enquanto nos aposentos de empregados a revolução fermentava, até que os mujiques grosseirões, incapazes de admirar a beleza dos ovos Fabergé só porque não podiam comê-los, tomaram conta do Kremlin e aquela aristocracia sobreviveu apenas como paródias patéticas nos livros de Nabokov.
Farei isso porque almost everything que leio na internet é em inglês, e às vezes uma expressão me vem mais facilmente na língua do bardo do que in portuguese, e o tempo que gasto para achar sua correspondente na última vagabunda do Lácio é tempo perdido que não vou recuperar nunca. Fazer parte desses 10% de brazilians que têm internet me serve como desculpa, e então finjo que o meu crazy nigger’s samba é praticamente uma obrigação e um compromisso com a modernidade. Tenho certeza de que algumas pessoas vão acreditar.
Farei isso para me sentir elite, maluco, para mostrar a todo mundo que sei inglês, you see, e não vai adiantar nada, absolutamente nada alguém dizer para mim que em tempos de universalização falar inglês não significa que sou chique, que apenas denota uma jequice inenarrável, uma sensação de ser lorde na W Flagler St em Miami, que quase fechou em 1998 quando a ilusão de sermos saxões foi destruída pela desvalorização do real e percebemos que, no matter what, éramos apenas botocudos arremedando um colonizador que mal conhecíamos.
Mas so what? Eu quero viver assim, e o jeito como vivo não é nobody’s business, vou ser feliz olhando para a etiqueta da Brooksfield na minha camisa e fingindo que a comprei na Harrod’s. E eu, criado no pão com ovo, vou fingir que em vez disso tomo o meu chá das cinco, e vou olhar para o mundo com aquele olhar que pretendo fleumático mas é só deslumbrado por algo que apenas finjo compreender.
Eu não quero mais ser naïve. Vou fugir da naiveté como fujo hoje da bourgeoisie que me acorrenta em seus grilhões de mediocridade, e essas serão as únicas palavras em outra língua que não o English que usarei, porque a New Yorker me disse que anglo-saxão que fala assim é mais chique que o anglo-saxão que fala yo!, disse, sim.
Ninguém diga que tudo isso é oh so twatty; it’s only words, and words are all I have, e não importa que eu cite Bee Gees porque afinal de contas this is oh so English. Ou oh so Australian. So proper, anyway.
E então meu blog vai sofrer a much needed upgrade, e vou viver happily ever after.
Eu vou ser um viralata de lacinho.
Viralata, Rafa? Er … pra quem gosta de mulheres cachorras … 🙂
Beijos!
In Deed, caro Rafael.
Nem vou falar dos verdadeiros mal-entendidos, there is so many, se usamos expressões portuguesas. Pessoalmente, esses apostos ficariam mais legais em latim, mas… they will not get it.
Só pra não perder a viagem: o português não é a última vagaba do Lácio – é penúltima.
o que posso dizer?
Love u, baby! rs
Parágrafos brilhantes. 🙂
Vou usar meu clichê preferido: essa doeu até em mim. Você é mau, definitivamente.
Dito isso, eu acho até normal usar uma ou outra palavra em inglês, afinal, como mostra o Dr. Plausível (que aliás fez um post sobre o mesmo assunto do seu), no português faltam algumas palavras mesmo.
Você é bom Rafael, gostei. Mas, na verdade, não importo muito com quem usa o inglês. Claro, dá pra notar quem faz isso com naturalidade, porque realmente usa o inglês no dia-a-dia; quem faz como humor intencional, criando um estilo ou personagem; e quem faz por breguice… Abraços
Onde você arruma tempo para pensar em tanta coisa “inutil” e conseguir passar tudo isso com tanta eficiência e sarcasmo?
ihhh… brigou com o tal de Cruz Almeida!!!
Eu ía dizer “wonderful”. Mas fica assim: maravilhoso!
kiss my ass.
:>)
putz, adorei essa do vira-lata de lacinho.
Fuck off, antes que eu me esqueça.
E vira-lata é o c@#$% eu sou de raça!
Outro dia vi um comercial de um festival de publicidade em que o narrador dizia “envie seus cases de sucesso”. Apesar da diferença com o português ser apenas uma vogal, o cara fez questão de não ser confundido com os demais vira-latas sem lacinho.
E dizer “massivo” ao ínvés de “maciço” continua sendo chique, ou só meio chique?
Vixi! Du cacêta. Canelada no joelho. Anarriê e alavantu pra tu. Isso é um marablog. 😉
Fuck Rafael!
Você me deu um nó na cucation, eu e meu embromation, pensando que era tri chique (ops! tré chic) falar spanglish! Mas faz sentido, ó pá!, afinal devemos honrar a última flor do Lácio inculta e bela, que se fodamsse os gringo! certo mano?!
Fabergé, presente ! 🙂
E o pior é que se você reparar direito, o inglês, para ser erudito, usa palavras latinas. Vá entender.
queria que você dissesse isso pra aquele bando que acha que é gringo, faz pose e escreve um monte de bobagens em inglês achando que estão em miami. mas, não. eles estão mesmo é na barra da tijuca. ô, cafonice!
só pra ser redundante, adorei o post.
Kind A: People que vivem no seriado “Will & Grace”, e kind a falta “feelling” para um simancol? Saquei.
Galvão, pá,
que posta excelente. Fillet mignon, ou melhor, do lombo.
Oh, I love english so much that I´ve done a little managem dictionary a while ago.
Falando uma palavra ou outra com chances de errar. Imagina um blogue “made in Brazil” escrito em inglês? Tem um assim lá pelas bandas do sul e pior, o cara quando não sabe a palavra escreve em português. Não é coisa nem pra gringo ler, não dá pra entender.
O seu texto foi brilhante!
Beijus
Eu jamais faria isso! Never!
Uahahahahaha… (Morri).
Já pensei muitas vezes em escrever um texto falando sobre isso, mas achei melhor “maneirar a mão” e acabei não publicando.
Esse post foi melhor do que os “momentos google” que você publica, vez por outra, por aqui.=)
Ou tente o portuñol instead, Rafa: la penetracion és mas grande entre nuestros hermanos de Sudamerica.
Essa não vale, Biajoni.
Tá bom pacas, mas faltou “loser”. Nenhum post deste gênero está completo sem “loser”.
bom, como não sou fina o suficiente ( ainda) vou me expressar como minha vovô: !cazzo”!!
beijos ( bacci )
É como costumo dizer às minhas alunas: Por que não dizemos “simplesmente”, molho de tomate agridoce, ao invés de catchup? (risos) Renato Ortiz explica o porque direitinho e didaticamente… 😉
Encontrar este post hoje foi pura serendipity.
(Sinceramente: dei risada, adorei, love it.)