O meme dos cinco livros

O ídolo de Reinaldo Azevedo, o Hermenauta, me passa um meme meio confuso, que ao que tudo indica a gente interpreta como quiser.

Cinco livros.

Quando vi o meme lembrei de um post que eu tinha escrito sobre livros que, de uma forma ou de outra, foram importantes em algum momento. No momento, não ando lendo nem bula de remédio. Por isso resolvi reciclar o post, acrescentando uma ou outra coisa, porque vida de preguiçoso é assim mesmo. Dizem que a crise é a mãe da criatividade? Mentira. A mãe da criatividade é a preguiça. A preguiça é o motor do mundo.

Quis fazer uma listinha com os 10 livros que de uma maneira ou outra mudaram a minha vida, mas não consegui imaginar um só que me tenha feito dar uma guinada no meu modo de ver o mundo. Por mais que eu goste deles, um livro é só um livro. Devo ter lido, por exemplo, “O Apanhador no Campo de Centeio” tarde demais, rápido demais, porque nunca achei que tivesse nada em comum com Holden Caulfield, ou que o sujeito fosse um modelo que eu deveria seguir. Para mim é só mais um livro; nunca consegui compreender, de verdade, o impacto que ele teve em uma geração inteira.

Em vez disso fiz a lista dos livros que foram importantes em algum momento. Não são os que mais gostei ou admirei — muitos estão longe disso, e a melhor prova é que a lista não inclui nenhum Balzac. Mesmo assim não chegam a 10, não que eu lembre. E fiquei envergonhado ao ver que não posso dizer que “A Montanha Mágica” ou “No Caminho de Swann” foram tão importantes. Cada um recebe o que merece.

As Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain
Durante um tempo — fim da década de 70, começo da de 80 — eu queria ser Tom Sawyer e viver numa cidadezinha quase rural, às margens de um rio onde pudesse brincar de pirata.

O Cobrador, Rubem Fonseca
A linguagem do conto que dá título ao livro foi uma porrada. Literatura urgente, seca, brilhante. Durante anos fui alucinado por Fonseca, que hoje se arrasta repetindo as mesmas palavras, cada vez mais débeis. E ele conseguiu me surpreender mais uma vez, com “Lúcia McCartney”, provavelmente o melhor livro de contos da literatura brasileira. Não é todo escritor que consegue isso.

Beleza Negra, Anna Sewell
Não sei se o meu fascínio por cavalos veio antes ou depois de ler este livro; provavelmente antes. Mas ele foi fundamental para me dar uma visão humanista da relação homem-cavalo. Obviamente, essa viadagem de “humanismo” foi pras picas no dia que o primeiro cavalo tentou me derrubar e eu me vi obrigado a mostrar quem mandava naquela bodega.

Como Era Verde Meu Vale, Richard Llewellyn
Já falei sobre ele, mas é sempre bom lembrar: a linguagem do livro é divina. Há algo de épico nela, de quase bíblico. E eu recomendo a tradução do livro em português. Essa grandiosidade fica ainda mais presente nela, o que configura um caso raro de tradução à altura do original, eventualmente até melhor.

O Relatório Hite, Shere Hite
Ah, eu recomendo que todo adolescente do sexo masculino leia esse livro. Vai lhe poupar muitos erros na vida e ensinar muitos atalhos, porque só o caminho da salvação é pedregoso, e o que interessa aqui é sacanagem, não contemplação: atalhos são fundamentais. Acima de tudo, é imprescindível que ele nunca esqueça que a meta é superar o conhecimento inestimável contido ali.

Minha Vida, Meus Amores, Frank Harris
Autobiografia de um sujeito que marcou época como editor de uma revista na virada do século XIX para o XX, com uma mistura interessante de sacanagem, literatura e muita mentira. Eis ali um sujeito que soube viver. E que me mostrou o valor da persistência. Infelizmente só li o primeiro volume, que tem cenas memoráveis como a coroa casada que lhe paga um boquete, engole e diz que essa é a maior prova de amor que ele podia receber. É uma boa definição de amor. O livro foi banido em vários países por causa de sua temática e linguagem — que, hoje, é rebuscada e rococó. Mas até hoje lembro de expressões singelíssimas como “páramos do prazer” (que significa “uma gozada fenomenal”) e “relicário do prazer” (nome chique para boceta).

Brás, Bexiga e Barra Funda, Antonio de Alcântara Machado
Outro daqueles livros que trazem uma linguagem fantástica. Eu fiquei fascinado pela rapidez quase telegráfica, pela concisão do sujeito. É um pequeno grande livro, aqueles que lhe deixam bobos na adolescência, e que mostram que um texto pode ter mil e uma possibilidades.

A Experiência Burguesa – Da Rainha Vitória a Freud, Peter Gay
Livro do autor de uma excelente biografia de Freud, que me fez entrar em contato com o básico do pensamento freudiano. É algo próximo ao que chamam de psico-história e é fascinante e erudito. Para um pseudo-marxista ignorante como eu, era uma visão de mundo completamente diferente. São cinco volumes imensos, ao todo, e cada um deles vale a pena.

Pranto por Ignacio Sanchez Mejías, Federico García Lorca
Foi o livro que me ensinou a gostar de poesia.

6 thoughts on “O meme dos cinco livros

  1. vai fazendo a lista bicho
    vai fazendo
    incrementa …
    não precisa ser marcante, nem nada .. apenas boa leitura
    reedita o site dos filmes tbm
    e porai vai
    vai fazendo .. vai fazendo…
    rs
    grande abraço

  2. Rafael, creio que vc vai ficar meio pu… ops, meio chateado, pois já vem aqui a enésima pessoa, a quinta a comentar e vai falar sobre poesia, e ótica de mundo.
    Eu teria a falar de mais dois livros aí na sua lista mas mais importante: e teria também que falar sobre essa imensa diferença, – originalidade sua – entre livros que mudam nosa vida e aqueles que foram importantes num determinado momento.

    E agora ao reler sua lista, imagino que leitura é uma espécie de biografia, que nos diz como fomos e como estivemos vendo a vida numa certa linha do tempo.

    –Quanto à poesia, não é fácil a poesia de Lorca e por isso tenho que concordar com o Ulisses. Lorca é mesmo uma viragem revolucionária na vida de quem o lê, e sei que você *SABE LER*, if I make myself clear enough!
    🙂

    Nem sei como terminar este comment, a não ser dizendo que você tranformou um *meme* de quase definitivo e fechado a aberto e a circunstancial, no sentido filosófico do termo.
    E isto não é pouca coisa.
    Shere Hite? hahaha, então deve ter feito muitas garotas acharem vc o homem ideal:-))).

    Qualquer hora, ainda esta semana, vou lembrar *aquela autorização*
    Um beijo, com a minha admiração maior ainda a partir de hoje, deste post (e se disserem que eu vivo dizendo isso, não acredite. È intriga!
    🙂
    Meg

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