Fim de tarde, comecinho de noite, a entrevista acabou e todo mundo foi embora, ficamos apenas o dono da casa, o poeta que tem uma pinimba com os ingleses e eu, diante de uma garrafa de uísque que não bebo. Fala o poeta, desdenhando um comentário sobre as crônicas que nos manda por e-mail; talvez por ser poeta ele possa se dar ao luxo de fazer pouco delas:
“Sabe qual é o meu compromisso, Rafael? É com a poesia, essa peste.”
Eu abro um sorriso porque agora ele entra numa seara que não é a minha, e nessas horas sorrir é tudo o que você pode fazer.
“Essa danada tem um chicote que me açoita.”
E o meu sorriso bovino continua, porque eu não conheço essa vadia, com chicote ou sem chicote. Ela não liga para mim, nunca ligou, e quando me viu disse que não estava interessada e passou por mim de queixo levantado e arzinho insolente de vós quem sois. Para gente assim a minha vontade é esticar o pé para que ela se estabaque no chão numa queda, daquelas quedas que tiram para sempre a empáfia que possamos ter — você sabe, aquelas quedas de pernas abertas para o ar, que deixam o mundo ver suas vergonhas e lhe dão calafrios toda vez que voltam à sua lembrança, mesmo muitos anos depois. É nesses termos que eu e essa rapariga chamada poesia estamos, sempre estivemos.
Então me perdoe, poeta, porque é a inveja que me faz falar assim, inveja e despeito de quem pode assumir esses compromissos e estar à altura deles; eu normalmente não estou à altura sequer dos compromissos de que desdenho. Mas se um dia essa senhora que se finge doce, apenas finge, chegar perto de mim depois de tantos anos me esnobando e destratando, eu não me responsabilizo pelo que farei com o chicote dela.
Fazer tropeçar o poema… que metafórico! ;D
Pobre daquele que vê a poesia como uma senhora, sendo o mesmo um escravo dela.
A poesia não escolhe ninguém sozinha, ela se encontra com o outro ao acaso.
São privilegiados aqueles que a deixam entrar em sua vida, não como um compromisso, mas sim como uma paixão.
não me açoita nem a prosa, nem poesia
🙁
Rafael:
Deixe de complexo de inferioridade. Não existe esse negócio de não entender de poesia. Como definiu Nietchze, a poesia não precisa ser explicada, ela, a poesia, é um excesso de sentimentos de vai dentro dos afortunados e não havendo como guardar esse excesso é vomitada em forma de palavras. O resto é música sertaneja ou pagode.
Ora…eu vejo poesia na sua prosa, my dear.
amor e odio quando se encontram , pode ser de subir no lustre, não subestime, rogo para q. se esbarrem