Sobre os fenômenos incompreensíveis

Entre as tantas coisas que não entendo, que olho com olhos asininos e opacos e boca aberta da estupidez, estão aqueles sujeitos que colocam moças em suas costas durante shows de rock.

Sempre tem um ou dois, garotos cujas namoradas afoitas se balançam sobre suas costas, enquanto o coitado fica ali embaixo, fazendo força para não derrubar a moça que pula sobre seus ombros.

Talvez eu não entenda porque para carregar nas costas já tenho a minha cruz, uma cruz pesada demais, às vezes intolerável; uma moça bonita estrebuchando sobre meus ombros seria mais do que eu poderia agüentar.

Por não compreender o fenômeno tento imaginar o sujeito ali embaixo, feliz da vida porque a namorada está encarapitada em suas costas, se balançando e fazendo gracinhas para os músicos no palco, quem sabe até mostrando os peitos? Mas ela sequer está do lado certo, está atrás dele e não na frente como deveria ser, apertando com força a sua cabeça; a única compensação que o sujeito pode ter é uma lombalgia, um torcicolo, algo assim.

E imagino que no dia seguinte ela lhe dá um pé na bunda, e o coitado se recrimina por ter se sujeitado a papel tão ridículo e se o show foi filmado ele pode rever e dizer aos amigos: “Tá vendo aquela gata ali? Eu sou o otário embaixo dela”, e eles rirão de sua cara, algo assim, e disso ficará apenas a lembrança de ter pago, um dia, um mico por uma mulher que o vento levou.

Ou melhor, não. Talvez haja, sim, uma compensação, pelo menos a única compensação válida em que consigo pensar: a lembrança boa e permanente de que um dia seu pescoço foi o melhor lugar do mundo, e que durante alguams horas ele poderia aspirar o melhor perfume que pode existir.

10 thoughts on “Sobre os fenômenos incompreensíveis

  1. Eu estando nesse show, se a mina não mostrar os peitos leva lata de cerveja na cabeça. E tênis e pedra, e o que mais tiver à mão.

    Abraço! 🙂

  2. E você conhece a moça e ela se apresenta “ Oi, eu sou a Gard”
    Você fica imaginando que ela se chama Gardênia.
    Só consegue descobrir, depois de horas com a infeliz no ombro, que o nome dela é Gard de Gardnerella “…e que durante alguams[sic] horas ele poderia aspirar o melhor perfume que pode existir.”

  3. Não sei se é muito possível ele sentir o perfume ao qual você se refere, rapaz. Da nuca ao nariz, quando se trata de um cheiro que você QUER sentir, o caminho é muito longo e geralmente intransponível para os odores.

  4. Tem umas coisas que as pessoas fazem que não dá para acreditar. Putz! Tem que ser muito otário mesmo. Talvez o idiota fique ali boas horas aguentando a tal moça, aspirando o melhor perfume do mundo e, mais tarde, outro quem vai saborear. rsrs

  5. Credo, que ranzinza…eu acho legal ter um pódio para assistir shows.E não é só em shows de rock. Em show sertanejo também.

  6. Galvão, pode reparar: em 99% dos casos, o sujeito que se digna a carregar uma louca nos ombros, está usando boné. Porque o sujeito que sai de casa à noite, usando um boné, não serve para muita coisa…

  7. hahahahahahahaha essa foi boa.
    e o cara ainda corre o risco de ser chamado de ‘pódio’, como a cris falou. só digo uma coisa, pódio em show de sertanejo não deve ter a menor graça, nesses casos, o rock é fundamental para compôr o enredo. =p

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