Sentimental Journey (1970)
Primeiro disco solo de Ringo, e elemento involuntário no rompimento dos Beatles, Sentimental Journey foi feito para uma audiência especial: a mãe de Ringo. São as músicas de que ela gostava e com as quais ele cresceu. Foi gravado no período em que a banda achava que estava acabando mas ainda não tinha certeza; Ringo, então, mandou a família escolher seu repertório. Ringo sabe quem é, sabe de suas limitações. O disco inteiro tem um ar de paródia, não se leva a sério demais, e é isso que faz dele uma boa curiosidade. Alguns dos arranjos são bem interessantes, mas pertencem ao seu tempo e não saem de lá nem debaixo de porrada.
Beaucoups of Blues (1971)
Uma joia obscura, Beaucoups of Blues é um disco de country music. É nesse gênero que Ringo claramente se sente mais à vontade como cantor, e para acompanhá-lo chamou um elenco estupendo: D. J. Fontana, The Jordanaires, Jerry Reed — e Scotty Moore foi o engenheiro de som. O resultado é um disco redondo, sincero, de uma qualidade absolutamente surpreendente. Ringo poderia ter se reinventado aqui como cantor country num ambiente de rock and roll, mas aparentemente jamais se levou tão a sério assim. Talvez seja o disco mais subestimado entre as tantas dezenas de discos de ex-beatles.
Ringo (1973)
Até aqui, pode-se dizer que Ringo continuava um beatle ensaiando escapadas solo, mais ou menos como Lennon gravando com Yoko em 1968. É como se seus discos solo corressem em uma raia que não a da sua ex-banda, discos que os Beatles jamais gravariam. Um de standards, outro de country. Em Ringo, no entanto, ele parece admitir que o sonho acabou, e adentra de vez o mainstream. Conta com um auxílio realmente luxuoso: todos os ex-colegas de banda contribuíram com canções e participações no disco. Ringo é considerado universalmente o melhor disco de Starr, mas desconfio que isso só acontece porque este é um disco de rock tradicional — e provavelmente porque tem John, Paul e George dando uma ajudinha. Por isso costumam desprezar o excelente Beaucoups of Blues.
Ringo Rama (2003)
Quando ninguém mais esperava nada de Ringo eis que ele se sai com um disco surpreendente. Ringo Rama é decente, dentro das limitações de Ringo, com algumas boas canções, uma atmosfera geral moderna e forte. Não é uma obra prima, obviamente, mas se sobressai de forma muito evidente na discografia de Ringo. Aqui se encontra, também alguns exemplos tardios do grande baterista que é Ringo, em faixas como Instant Amnesia. É um excelente disco tardio, de um artista que não costuma fazer excelentes discos.
O resto
Ringo tem mais um bocado de álbuns. São uns 20 ao todo, sem contar coletâneas e álbuns ao vivo. Nos últimos tempos ele se acomodou em um estilo bem característico: rock simplório, sempre derivado, que estaria à vontade em uma FM tipo easy listening dos anos 80, com letras que muitas vezes mencionam o seu passado beatle. Obviamente uns são melhores que outros, como o bom Goodnight Vienna, de 1974, que poderia muito bem estar nesta lista; e alguns são vergonhosos, como Ringo the Fourth, de 1977, ou Bad Boy, de 1978. Eventualmente uma ou outra coisa pode ser pinçada, como You Can’t Fight Lightning, faixa-bônus no relançamento do Stop and Smell the Roses (1982), que poderia ter sido gravada por Lou Reed. A maioria dos álbuns tem composições de seus ex-colegas de banda, e eles muitas vezes participam generosamente de várias faixas, mas nem isso os salva. Ouça por sua conta e risco.
Pelo repertório de “Sentimental Journey”, os Scousers dos tempos do menino Ringo ouviam de Doris Day a Louis Armstrong, passando por tema de dramalhão com o William Holden. Várias faixas desse disco tocavam no final dos anos 80, início dos 90 na “Antena 1 Light FM”, rádio de flashback aqui do Rio (e acho que de outros estados também). Mas eu fiquei curioso pra ouvir o “Beaucoups of Blues”. Vou catar nos torrents da vida…
Rafael:
Eu vi uma entrevista do Keith Richards, em que ele explica o por quê dele achar que os Rolling Stones não foram maiores que os Beatles: alem da variedade de estilos musicais que os Beatles trafegavam, enquanto os Rolling Stones terem sido mais focados no Blues, ele diz que os Rolling Stones só tinham um cantor, o Mick Jager, enquanto nos Beatles os quatro integrantes cantavam.
Isso me chamou a atenção porque as vezes eu até me esqueço que o Ringo Starr, além de baterista, é cantor.
E bom cantor, certamente melhor que o George Harrison, que tinha uma voz bem chatinha…
Pois é Wagner. Olhe uma prova atual disso.
https://youtu.be/vNSVGoPkiWk
Rapaz, eu acho um porre esses millenials revisionistas e ignorantes que ficam tentando fazer de George o grande beatle, mas vocês passaram do limite aqui…
Lembro que minha prima, que era grande fã dos Beatles, nomeava-os: Paul, John, George e o feio!