Os anos 80

Durante muito tempo, eu fiquei imaginando que tinha nascido na época errada.

Minha adolescência foi cometida nos anos 80. E nenhuma década foi tão esquisita quanto aquela.

Nada acontecia. Era tudo simples, tudo comum, tudo velho. A revolução sexual sido aproveitada nos anos 70 e começado nos 60. A explosão do rock and roll, o ápice daquela atitude “jamesdeaniana” datava dos anos 50. A geração beat, a sensação de estar reconstruindo o mundo pertencia aos anos 40. Os hobos americanos tinham desaparecido com os anos 30. Os roaring twenties eram história.

Os anos 80 foram ruins, e como foram. Basta imaginar que os ícones da moda daquela época eram aqueles protagonistas de “Miami Vice”, misturas de cafetão com traficante. A moda era ruim (blazers com as mangas dobradas? Saias balonê? Calça verde-limão com camisa rosa-choque?). A música era ruim (a lista é gigantesca, mas basta citar Dr. Silvana, Spandau Ballet, Inimigos do Rei, Toto…); é curioso que gente que havia virado o mundo de cabeça para baixo tenha feito praticamente só discos ruins naquela década, como os Stones, Who, Dylan. O vazio era tão grande que, para tentar preenchê-lo, fizeram revivals dos anos 50 e 60; mesmo filtrados pelos anos e pela estética da época, eram infinitamente melhores.

Eu não gostava de praticamente nada daquela época, e cheguei a pensar que o problema era comigo. Mas hoje, depois que o mundo voltou a entrar em processo de ebulição (fim da experiência socialista, revolução da internet), eu percebo que tinha, sim, razão: os anos 80 foram uma década de merda.

3 thoughts on “Os anos 80

  1. Pra mim o melhor da música nacional aconteceu naquela década.Mas realmente ela pareceu vazia em muitas outras coisas…

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