RSS

Acho que ninguém mais lembra do Pointcast, um programa que apareceu aí por 97 e que permitia ler notícias offline. O Pointcast acabou, mas nos últimos tempos um substituto ainda melhor vem tomando corpo.

O RSS está sendo anunciado pelos quatro cantos da internet como a próxima grande revolução da internet. Derivado do XML, significa Really Simple Syndication. É um formato usado para o envio de notícias, principalmente por sites jornalísticos e blogs. Isso quer dizer que você pode receber manchetes, notícias e posts sem precisar ir a cada site. Lembra muito a Usenet, do ponto de vista do usuário. Mas é ainda melhor.

Para quem, como eu, tem mania de receber notícias por e-mail, o RSS é maná caído dos céus. Infelizmente o Blogger não fornece a alternativa de agregar RSS ao meu blog, mas o Movable Type, sim. Talvez por isso seja o sistema de blogging preferido por jornalistas e escritores nos EUA.

Boa parte dos blogs estrangeiros que eu visitava regularmente oferecem essa opção. O que quer dizer que raramente entro em sites como o Gothamist ou o Internet Nexus, para ficar apenas nos blogs.

Há vários leitores de RSS disponíveis. Quem usa o Outlook provavelmente gostaria do NewsGator, que funciona como um add on. Como eu não uso, fico com o NewzCrawler; mas há uma infinidade de clientes por aí, muitos dos quais gratuitos — o que quer dizer que não é preciso crackear o programa.

Bia, por que você não coloca feeds RSS no Tiro e Queda?

Os lordes da Veja

Não sei se é só para mim, mas a Veja parece uma revista cada vez mais chata. Não só pelas matérias aparentemente pagas ou pelas posturas políticas escancaradas; mas pela forma como tenta convencer o povo a acreditar nas bobagens que diz.

A campanha que ela vem fazendo contra Lula chegou a um ponto que beira o ridículo. Nas últimas edições vem descendo a lenha na viagem ao Oriente Médio. Seu argumento básico é o de que deveríamos estar cortejando os países ricos, e não os pobres.

Uma nota na coluna Radar da edição desta semana, no entanto, traz uma informação bastante interessante: a Vale do Rio Doce está estudando a compra de minas em Angola, Moçambique, China, Gabão, Chile, Peru e Mongólia.

Até onde sei, o Gabão não é exatamente uma Suécia, nem Angola tem padrão de vida dinamarquês. É justamente por isso que a Vale está lá: porque países pobres oferecem um mercado aberto para um país sub-desenvolvido, mas não tanto, como o Brasil.

Esses mercados insignificantes, como os julga a Veja, podem representar uma boa oportunidade de negócios. A falácia da globalização nos termos americanos esbarra nas mesmas barreiras que prejudicam, por exemplo, o aço e o suco de laranja brasileiros nos EUA. É tudo muito bonito, mas na prática o buraco é sempre mais embaixo. E isso se formos pensar apenas em matéria-prima. Porque no que traz maior valor agregado, como produtos com alguma tecnologia e serviços, é simplesmente impossível vender para os países desenvolvidos.

Mas o Terceiro Mundo pode absorver mais produtos brasileiros, e são um mercado bastante interessante. Parece lógico vender para os mais pobres que o Brasil; alguém acha que a Gradiente conseguiria exportar aparelhos de DVD para o Japão? Improvável. Mas certamente poderia vender para a Costa do Marfim.

É por isso que, em que pesem equívocos graves como passar dois dias na Líbia e oferecer apenas 10 horas à Arábia Saudita (justamente recusados pelos sauditas, que se respeitam), a viagem de Lula é válida. Atitude não é só ficar reclamando contra Bush e Blair, é tomar providências. E estão fazendo isso.

Mas isso é só o que Rafinha Galvão acha. Os lordes da Veja devem saber mais. Os barões da Exame também — ontem mesmo eu estava olhando uma edição de 2000, com Peter Drucker na capa (na verdade uma cópia da Business 2.0), em que eles diziam que o risco de racionamento de energia em 2001 estava afastado.

Lembranças de outra infância

Minha filha tinha dois anos.

Entre os exercícios que eu fazia com ela, desenhei um coelho, uma cenoura e uma linha pontilhada ligando os dois. A linha era ondulada, cheia de sobe-e-desces. A idéia era fazê-la cobrir a linha e ligar o coelho à cenoura.

Ela olhou para mim como quem não conseguia entender como o seu pai pode ser tão idiota, às vezes.

E com uma linha reta ligou o coelho à cenoura.

O sonho não acabou

Estão dizendo por aí que há uma fita de uma reunião dos Beatles em 1976 (ou 1974, dependendo da fonte consultada).

A notícia já tem algumas semanas, mas só agora chegou à grande mídia.

As músicas gravadas na fita são: Happy Feeling, Back Home, Rockin’ Once Again, People Of The Third World e Little Girl. Estão anunciando um leilão delas.

Só não anunciam que tudo isso é uma grande farsa.

Não houve reunião dos Beatles em Los Angeles em 1976. Primeiro porque Lennon já tinha se mudado de Los Angeles e estava mais ocupado cuidando do filho. Segundo porque Harrison não falava com Lennon a essa altura (Lennon morreria ainda brigado com o amigo). Se os quatro Beatles tivessem se reunido para gravar na época, pode-se ter certeza de que o mundo inteiro saberia. E se houvessem gravado qualquer coisa realmente nova, pós-1970, teriam lançado algumas dessas músicas nos Anthologies, e nos poupariam de Free as a Bird e Real Love. As gravações de John e Paul juntos em 74, irritantemente ruins, são muito conhecidas. E os títulos das músicas, sinceramente.

Por favor, alguém acorde esses malucos e deixe o sonho acabar.

Notícias d’além mar

Tempos de pouca produtividade, estes. Fodas, fodas e mais fodas têm-me mantido ocupado. Na época natalícia é sempre assim: o que não falta são cricas cujo berbigão palpita, ansioso de levar com o presente.

Rechear de nabo crica italiana em Londres conta como foda britânica, foda transalpina ou foda lusa? Sabendo que a pachacha italiana está em Inglaterra há alguns meses, é justo considerar que os humores segregados pelo pito transalpino estão a nascer já em solo britânico. Ou seja, a massa da greta é napolitana, mas o molho é inglês.

Tanta coisa que eu podia dizer da punheta! Quantas vezes, nos meus 15 anos (nos 25 também, confesso), rezei para serem verdade os mitos que profetizavam o nascimento de pêlos na palma da mão do punheteiro competente! Se tal fosse verdade, teria a direita sempre escanhoada, simulando crica rapadinha e profissional, e a esquerda gadelhuda, imitando pachacha sopeira e descuidada. Depois, era só escolher… Mas sonho.

O gajo é bom. Aliás, o gajo é foda.

Em Algum Lugar do Passado

Há um pequeno pecado que não costumo confessar: eu gosto de “Em Algum Lugar do Passado“, o filme com Christopher Reeve e Jane Seymour.

É, o filme é bobo. É implausível. Mas eu gosto dele, e acho que sei por quê.

Vi o filme no dia 12 de novembro de 1981. Estava esperando por ele havia meses, desde que lera a crítica na Veja — e quando se tem dez anos, um mês é tempo demais. Como praticamente todo garoto da minha idade, eu queria ser Christopher Reeve quando crescesse. E bem que tentei: pelo menos saí do cine Liceu, um ano antes, voando como o Superman, braços esticados e pulando da calçada para a rua e vice-versa, fingindo que aquilo era voar.

Quando finalmente assisti ao filme, naquela quinta-feira, a história de amor derrotado pelo tempo, mas que não esmorece, me deixou extasiado. Descobri que estava apaixonado pelo nariz de Jane Seymour — algo esquisito, já que ela tem um nariz longe de perfeito e, cá para nós, qualquer mulher tem coisa melhor para se admirar do que um nariz; ainda mais quando o admirador tem 10 anos. Estava deslumbrado com “Rapsódia Sobre Um Tema De Paganini”, de Rachmaninoff, a música-tema do filme, que procurei em vão durante anos. E continuava querendo ser Christopher Reeve.

Eu fui para a primeira sessão no Cine Tamoio, às 2 da tarde. Queria ficar para ver uma segunda, mas não tinha dinheiro para voltar para casa e me apavorava a idéia de andar sozinho à noite pela Av. Sete; preferi garantir a carona dos meus pais, que trabalhavam perto do cinema. Mas nunca consegui esquecer o filme.

O tempo passou e revi o filme umas duas ou três vezes. A cada vez eu o achava pior, mas isso não me impedia de continuar gostando dele. Acho que na primeira vez que o revi, já na década de 90, fiquei impressionado em ver como ele era hermético. Não no sentido cinematográfico, claro. Mas o círculo vicioso que ele cria é curioso. Collier só volta no tempo porque Elise se apaixonou por ele. Elise só se apaixonou por Collier porque ele voltou no tempo. E se alguém conseguir explicar como o relógio que atravessa todo o filme e serve de elo de ligação entre os amantes foi fabricado (Collier o recebe de Elise em 1972, que por sua vez o recebe de Collier em 1912) eu agradeceria.

Já cheguei a acreditar que esse filme, que me parecia ser uma bobagem romântica, é na verdade uma tragédia, daquelas tristes, que nem sempre conseguimos julgar. Collier arruina a vida de Elise, que por sua vez espera 60 anos para arruinar a dele. No fim, revendo-o o mais uma vez, fico com a mesma impressão que tive quando era criança: é só uma história de amor.

É, é bobo, eu sei. Que bom que seja bobo.

Dos delitos e das penas

Jim Thompson termina The Getaway (livro que foi filmado duas vezes, a primeira com Steve McQueen e Ali McGraw, a segunda com Kim Basinger e Alec Baldwin) com uma alegoria. Os ladrões estão ricos, mas para garantir sua segurança vivem num mundo à parte que na verdade é uma prisão surreal, e em que tudo o que compram custa muito, muito caro.

Saddam foi preso com com 750 mil dólares. Se o que diziam da fortuna que tinha consigo era correto, se esconder durante quase um ano lhe custou muitos milhões.

O crime não compensa.