A Veja desta semana traz uma matéria sobre um documentário de um dos herdeiros da Johnson & Johnson. O documentário ridiculariza os pobres meninos e meninas ricos, cuja vida excessivamente fácil os leva a existências vazias e sem propósito.
Moral da história: só o trabalho dignifica o homem.
Parece que a ética calvinista nos contaminou a todos. Uma vida só é válida se é economicamente produtiva. Não trabalhar, não fazer parte da cadeia econômica é uma desonra e uma humilhação.
O mundo chegou a um estado lamentável, pelo visto. Porque se puxarmos um pouco pela memória, vamos lembrar que o ócio já produziu a melhor parte do conhecimento nos séculos anteriores à revolução industrial. Montesquieu não dava expediente em um escritório.
A combinação de ócio e dinheiro pode resultar em belas coisas. Pode dar grandes mecenas, como no passado; pode tornar possível a alguém realizar grandes feitos, de qualquer tipo. Ou alguém pode simplesmente se dedicar à contemplação, a compreender a vida. Ninguém mais tem tempo para isso.
Além disso, por que trabalhar, se não é necessário? Isso é tão lógico. No entanto, por causa daquele alucinado do Calvino, as gentes se consomem em culpas e falta de propósito, como se simplesmente viver não oferecesse propósito suficiente. Um dos milionários do documentário resolveu sua crise existencial indo suar num campo de petróleo durante dois anos. Isso quer dizer que, provavelmente, um pai de família passou dois anos sem ter como colocar comida na boca de seus filhos simplesmente porque um desocupado resolveu ter pruridos de consciência.
Eles parecem não compreender a profundidade da frase de McCartney: “Eu quero dinheiro. Dinheiro para não fazer nada, e dinheiro para o caso de querer fazer alguma coisa”. Para eles, o dinheiro não é libertação. E essa é a maior ofensa que se pode cometer contra o capital.
Por incrível que pareça, quem deu mais indícios de ter compreendido essa verdade foi o pai do diretor, que a reportagem da Veja ridiculariza como “um sujeito alienado que passa os dias pintando”. Em nenhum momento, quando o filho perguntou o que fazer da vida, ele apelou para um medíocre “vá trabalhar”. Sua sugestão foi a de um esteta: “colecione documentos raros”. A verdade é que esse senhor “alienado” compreendeu que a sua condição lhe possibilita fazer algo maior e mais abstrato pelo espírito da humanidade, livre dos grilhões da necessidade de subsistência.
É por isso que durante muito tempo fui fã de Jorginho Guinle. Vi uma entrevista dele ao Roberto Ávila, no fim dos anos 90. Já quebrado, sem dinheiro, ele não demonstrava nenhum arrependimento por ter esbanjado toda a sua fortuna. Em sua cara, parecia estar escrito: “Vivi como quis, uma vida que ninguém teve”. O dinheiro podia ter ido embora, mas foi embora com uma suavidade e uma joie de vivre que um Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, jamais vai ter.
Mas talvez o que tenha me deixado realmente fã do sujeito foi a constatação de que ele não tinha nada de especial. Não era brilhante, não era bonito, era um sujeito até meio apagado. Era um nada. Devia sua vida espantosa ao simples fato de ter dinheiro e não sentir culpa em se aproveitar disso. Sua honestidade era contagiante.
Dia desses vi uma declaração em que ele finalmente demonstrava um laivo de arrependimento. Diz que errou os cálculos de quanto ia viver, gastou tudo antes do que devia e hoje almoça de favor no Copacabana Palace. Há agora um travo de amargura em suas palavras.
Ah, Jorginho, você podia ter resistido um pouco mais.
Para que o ócio crie é necessário que haja dinheiro e de preferencia um castelo pra se morar.
Acredito que o problema de se ter muito dinheiro…é não saber administrá-lo! E não saber educar os filhos para tanto dinheiro! Enquanto trabalha e acumula dinheiro,o homem esquece os filhos…e qdo vê…”criou” vadios!
Tá muito grande esse post… tô com preguiça de ler. eheheheh
eu queria ser bem RICO.
Concordo. O triste é quando há escravidão. Os deprimidos vira e mexe caem sob o domínio do ócio. E não falo de ócio como dizemos hoje ao nos referir a estar à toa sem ganhar dinheiro. Falo especificamente de não fazer nada, independente do possível “fazer” ser ou não remunerado. Bom, resumindo, uns são escravos do ócio. E outros são escravos do trabalho. EU sou uma escrava do trabalho. Afinal, infelizmente não nasci com a (agora extinta) fortuna do baixinho galante Jorginho. E assim muitas vezes o trabalho me paralisa, pois me impede de viver, de agir, de fazer. E o trabalho acaba sendo um ócio compulsório com relação ao que QUERO fazer, e não quanto ao que TENHO que fazer para ter casa, comida e roupa lavada. Ô vidinha miúda essa dos assalariados. E: ô vidinha microscópica a dos favelados, dos miseráveis, dos mendigos…
Pobres de nós que temos que nos matar para garantir aos filhos do patrão as viagens e os carros de luxo e para os nossos, o leite e o pão… O trabalho dignifica o homem?? Nem sempre… Mas num país como o Brasil ter um trabalho é primordial.
Cara pode acreditar que o trabalho dignifica sim o homem , sobretudo aqueles que seguem a CRISTO…..
Você já leu o Domenico de Masi? Tudo a ver! Ócio e criatividade…
Que se *&%$# estes caras ,logo mais vão aparecer em uma destas letras de Rap dos pensadores Mc´s …
Se tiverem que fazer algo , que façam pelo cinema, mas por favor : autobiografia naooooooooooooooo
rs
“(…)é preciso tempo para ser feliz. muito tempo. A felicidade também é uma longa paciência. e, em quase todos os casos, gastamos nossa vida ganhando dinheiro, quando seria preciso ganhar tempo através do dinheiro”. Albert Camus
“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro, e vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido.” Dalai Lama