Depois da decepção diante do deserto marciano, é bom olhar a foto mais uma vez.
O espaço sempre foi um sonho humano — talvez o mais grandioso deles, por parecer inacessível. Grandes sonhos são os impossíveis: como dizia Borges, “a um cavalheiro só interessam as causas perdidas”. E nenhuma parecia mais perdida que a conquista do espaço.
No século passado o sonho ficou mais próximo. Foi quando pareceu possível pela primeira vez, quando o homem percebeu que sim, que ele poderia desafiar defintiivamente a gravidade e ultrapassar a última fronteira. Algo nos seres humanos foi atiçado, então, e uma chama nova foi acesa. Depois de Gagárin as crianças puderam sonhar em ser astronautas.
As fotos de Marte dão, pela primeira vez, uma sensação de familiaridade ao espaço. Não é algo exótico e distante como os anéis de Saturno; a partir dessas fotos o espaço nos parece conhecido, parece ter uma simplicidade terrestre a que já nos acostumamos. Agora podemos fazer analogias mais simples com o que parecia tão distante.
Ainda que Marte seja um deserto árido e desagradável, essas primeiras fotos em cores trazem o espaço para a janela de casa. O espaço é logo ali.
O espaço já está realmente se aproximando, e Marte está logo ali mesmo. Já virou paisagem de foto e estou aqui olhando para um céu cor de burro fugido e um terreno cheio de pedregulhos. E fico pensando que mesmo assim não sabemos bulhufas sobre que porra é essa de Universo. Melhor mesmo é relaxar, esquecer isso tudo e pedir uma pizza.
E apois.