Notícia interessante no Christian Science Monitor (a propósito, um grande jornal apesar do nome).
Muçulmanos espanhóis estão querendo que o governo lhes restitua o direito de rezar na Mesquita de Córdoba. É um direito que lhes foi tomado em 1236, durante o processo de reconquista da Espanha pelos cristãos. Agora, a Junta Islâmica está pedindo que o direito seja restaurado.
A questão é mais delicada do que parece.
A discussão que o pedido levanta na Espanha é: a quem pertence a história? O edifício foi construído por muçulmanos, mas a Espanha é um país cristão há vários séculos. Essa consciência da identidade nacional não leva em conta, claro, que lá vivem mais de 500 mil muçulmanos, a maioria vinda do Marrocos. Ou talvez leve até demais.
Os argumentos dos opositores à idéia são simples, e tentam passar ao largo do apelo fácil ao medo que muçulmanos inspiram no primeiro mundo hoje em dia, graças aos malucos de Osama: o país se distanciou, e muito, da tradição islâmica nesses últimos séculos. Como disse o arcebispo Michael Fitzgerald, do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, os “muçulmanos devem aceitar a História”.
É uma questão de coerência que a sociedade civil organizada européia apóie o direito dos muçulmanos de rezarem em seus locais sagrados. As ONGs européias, afinal, são as mesmas que angariam dinheiro e espaço na mídia para defender o direito dos índios brasileiros — como o cacique Pio Cinta-Larga e sua camisa Lacoste — de terem o seu próprio torrão. São as mesmas que se referem à colonização portuguesa do Brasil como “invasão” pura e simples, com o maniqueísmo típico dos ungidos por Deus.
Se os nossos índios não têm a obrigação de aceitar a História, parece lógico e justo que os muçulmanos espanhóis também não.
Apoiado!Nada de dois pesos e duas medidas!
Pode parecer utópico demais, mas parem um segundo que seja pra imaginar, como seria o mundo se todos os povos se respeitassem? Será que um dia a raça humana conseguirá evoluir a esse ponto? Ou nos aniquilaremos antes disso?
Pra quem não sabe a tal Mesquita virou Catedral a quase 800 anos. Realmente o ideal seria que todos pudessem rezar lá, alternar seus cultos e serem legítimos filhos de deus (minúsculo mesmo, por convicções pessoais). Mas, se o mundo real e as mentes humanas não permitem tal “absurdo”. Melhor que se “aceite a história” como disse o arcebispo. É também o que deveria ter sido feito por ocasião da idéia de se criar um Estado judeu na Palestina. Ora, os árabes estão lá a quase dois mil anos, não foram eles que expulsaram os judeus, mas, sim, os romanos. Que direito os judeus tem de quererem tirá-los de lá? O melhor que poderiam fazer, se civilizados fossem, é conviver pacificamente juntos, uma vez que a terra é “santa” para judeus, mulçumanos e cristãos.
Só uma coisa que esqueci de mencionar: Quando a tal mesquita foi construida na Espanha os invasores eram os árabes. Afinal, quem tem direito ao edifício? Os invasores que a construíram ou os invadidos que retomaram as terras? Viu, é por isso que concordo com o arcebispo, mas, acrescento, já que não há ponderação suficiente para que sejam capazes de dividir, melhor que se aceite o que a história consolidou.