Diogo Mainardi

Dois e-mails recebidos pelo Alexandre me deixaram pensando no Diogo Mainardi.

Deve ser falta do que fazer, só pode.

Eu defini uma posição sobre o Diogo há muito tempo. Não conheço o escritor. Nunca li um livro seu. Conheço apenas o colunista da Veja e o sujeito que foi cicerone ou algo parecido do Gore Vidal em sua visita ao Brasil, aí pelo fim dos anos 80, e andou dando umas entrevistas. Também lembro dele como a boa alma que indicou alguns bons livros para publicação pela Companhia das Letras.

E baseado nisso, para mim o Mainardi é apenas um colunista. Só isso, um colunista de uma revista semanal que, embora eu não leia sempre, sei que é a mais importante do país.

Há muito tempo tinha formado uma opinião sobre o sujeito que eu conhecia. Ele escrevia bem, mas caía no equívoco de polemizar por polemizar. Não era apenas a expressão sincera de uma posição firme a respeito de algo; era como se o sujeito acordasse e pensasse: “E com o que é que eu vou implicar hoje”? Era essa a diferença entre o Mainardi, que sempre considerei menor, e o Paulo Francis, provavelmente o melhor jornalista cultural que este país já teve.

Para mim, isso o diminuía. Tanto que quando o Manhattan Connection, aquele programa que já foi muito bom um dia, anunciou que ele iria substituir Arnaldo Jabor, eu torci o nariz (e o resultado foi ainda pior do que eu esperava).

Eventualmente um ou outro artigo seu me empolgava, como aquele em que ele mostrava a via crucis para matricular seu filho, deficiente, em uma escola. Mas no geral eu achava o Mainardi só um polemista vazio. Se era para ser fã, que fosse do seu pai, o Enio, um dos maiores publicitários que este país já conheceu.

Mas essa era a minha opinião antiga. Ela mudou.

Reações tão exaltadas como as que se vê entre aqueles que amam odiar o Diogo Mainardi mostram que o que ele escreve tem uma qualidade inestimável: atiçar a ira dos estúpidos. Pelo visto, o Mainardi é tão bom que consegue o que poucos agitadores conseguem: despertar o que cada pessoa tem no fundo, seja bom ou ruim. Isso não é para muita gente.

E em algum lugar ele acerta quando os imbecis que o criticam usam o nome de Deus e o seu filho como exemplo do castigo, da vingança divina. É preciso ser idiota demais para colocar a vontade celestial em um argumento, e ruim demais para usar um filho, com ou sem problemas, como exemplo. A pessoa que escreveu esse e-mail não passa disso: de um idiota. No sentido clínico da palavra. No lugar dela eu me absteria de escrever qualquer coisa, por pura vergonha. Não gostaria de ver o mundo me apontando como “aquele idiota baixo”.

Se o Diogo Mainardi consegue despertar a revolta dessa corja, alguma coisa de boa ele deve ter. E por isso eu mudei de idéia.

18 thoughts on “Diogo Mainardi

  1. o artigo dele sobre a matricula do filho dele foi mt bom msm, eu acho que as vezes ele se perde na tentativa de ser sempre do contra. e é incrivel a mente de algumas pessoas, como podem ser tão religiosas e ao msm tempo pensar sempre que tem alguem punindo alguem. para essas pessoas nada é fruto do acaso tudo é culpa de alguem ou seja um castigo ou algo de bom, vai entender.

  2. Que louco, eu pensei nisto ontem, com meus botões: “o cara é um dos mais odiados do país e sempre está batendo recordes de correspondências para a revista. Quando eu crescer, quero ser assim…”.

  3. Saber mexer em vespeiro não é sinal de qualidade. Mainardi vai se tornando um cutucador de onça. Sua pauta é: o que provocaria polêmica hoje? Pode ser bom prá vender revista. E é só isto?

  4. Eu acho o Mainardi pobre. Mas para ser franco, desde de que eu descobri os articulistas estrangeiros na internet, nunca consegui ler o congeneres nacionais da mesma forma.

    E se ele atiça paixões é mais um sinal da pobreza do ambiente intelectual brasileiro, que se divide entre o panfletismo barato pseudo-marxista de DA Universitário e o conservadorismo de madame que lê o Jornal da Tarde.

    A Veja já teve momentos que era de fato influente.
    Hoje, sei lá. Do que ela tem falado, as revistas femininas da Abril falam com mais propriedade.

  5. Imbecilidade ou é engraçada ou revoltante e o Mainardi não é lá muito engraçado… Acho que gerar reações de ódio é fácil até demais, cuspa na Bíblia e os evangélicos vão te xingar por semanas, diga que os negros são isso ou aquilo e terá reações, fale que lugar de mulher é na cozinha e elas vão mandar e-mails de revolta pra ti, etc. Enfim, não vejo méritos no Mainardi e acho que as pessoas dão importância demais pra ele, seja pra criticar ou pra elogiar. Pra mim ele é um polemista gratuito e de argumentação fraquíssima e superficial. Ponto. A reação que ele gera nos imbecís é tão imbecil quanto seu método.

  6. Mainardi é um gato! É lindo! Tem umas sobrancelhas maravilhosas! É uma pena que seja casado! Vou rezar prá Santo Onofre prá ele se livrar da Anna e ficar comigo!

  7. As vezes fico puto com a liberdade que Deus nos deu…deixar um cara como Diogo Mainardi abrir a boca é a mesma coisa do que merda que boia em um rio. Fede e bóia mas gosta dessa presença. Não é mesmo Diogo?

    Esse cara não sabe o que fala… gosta é de aparecer achando que levanta uma bandeira do “isso é injusto aquilo é certo” mas que é julgado por ele mesmo. Apenas um egoísta. Disfarça suas magoas escrevendo pra veja. Olha o que o cara me fala em umas de suas colulas “Lula da azar” hahahaha e outra vem falar que “O PT é Coronelistmo” desculpe mas vc não é nada cara. Se é rico e tem dinheiro grande coisa! talvez esse seja o seu limite ser rico e ter merda na cabeça! VOCÊ TEM QUE PROVAR O QUE SUA BOCA DE LIXO ACUSA. Quero comprar uma briga de frente com vc topas?! Como os manos da periferia falam vc é “Vacilão”. O Brasil fica podre com uma mente dessas.

  8. Ola…sou jornalista da radio ABC e estou fazendo um documentario sobre patriotismo…e para colocar os dois lados da moeda estou usando como base aliada o livro “Brasil-mito fundador e sociedade autoritaria” de Marilena Chaui e a controversia o livro “Contra o Brasil” de Diogo Mainardi, mas para isso precisaria que o Diogo nos concedesse uma entrevista seja por telefone ou pessoalmente se for possivel. Aguardo um retorno. Cordialmente Fabio Martins

  9. Seria interessante ler o artigo abaixo. O Diogo Mainardi até tem um pouco de razão:

    Balanço Cívico

    Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de quadrada, agüentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma reação, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, leva a vida ao som do samba, guarda ainda na noite de sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, – reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta;
    Um partido, desmoralizado e materialista, liberal e ateu, cuja Cúpula é o ministério do poder, e cujos responsáveis e afiliados não são mais que tradução em monstruosidade fura-vidas que governa o distrito ou do fura urnas que administra o Estado(1); e, ao pé deste conluio partidário, um grupo casuístico, apadrinhado e apadrinhador, exército de sombras, minando, enredando, absorvendo, pelo mensalão, pela escola, pela oficina, pelo asilo, pelo cabo eleitoral, pelo eleitorado, – força superior, cosmopolita, invencível, adaptando-se com elasticidade inteligente a todos os meios e condições, desde a aldeola íntima, onde berra pela boca epiléptica do fanfarrão milagreiro, até à rica sociedade elegante da capital central, onde o gentilismo é um dandismo de tesouraria, um beatério chic, politiquismo de high-life, prédicas untuosas ( monólogos ao todo poderoso no uso de cuecas valiosas e fralda) e em certos dias, na Sede da moda, o bonito discurso encantador, – luz discreta, flores de luxo, palanque de mogno, cadeiras cômodas, português primoroso, companheiros e companheiras, e frases formosas repetidas dos melhores prosadores da ABL;
    Uma elite, cívica e politicamente corrupta até a medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem caráter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e galhofarias, capazes de toda a veniaga e toda infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política nacional sucedam, entre indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Partido congregado… (2);
    Um Congresso que importa em milhões de reais, não valendo centavos, como elemento de defesa e garantia autônoma;
    Um poder legislativo, meio esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, – como da roda duma ponta de eixo;
    A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara a ponto de fazer dela uma saca-rolhas;
    …partidos… ora, vários… sem idéias, sem planos, sem convicções, incapazes, na hora do desastre, de sacrificar os interesses próprios e mesquinhos… ou meio centavo ou uma gota de esperança, vivendo… do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos atos, iguais uns aos outros como… partes do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no plenário planetário… – de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar;
    Um partido…, quase circunscrito…, avolumando ou diminuindo segundo erros da força sindical…, hoje aparentemente forte e numeroso, amanhã exaurido e letárgico, – água de poça inerte, transbordando se há chuva, tumultuando se há vento, furiosa um instante, imóvel em seguida, e evaporada logo, em lhe batendo dois dias de sol do sertão ardente; um partido composto sobretudo de pequenos grupos regionais, adstritos ao sedentarismo crônico do metro e da balança, dente de balcão, não de guerreiros, com um estado-maior pacífico e desconexo de velhos doutrinários, moços positivistas, românticos, jacobinos e declamadores, homens de boa fé, alguns de valia mas nenhum a valer; um partido, enfim, de índole estreita, acanhadamente político-eleitoreiro, mais negativo que afirmativo, mais de demolição que de reconstrução, faltando-lhe um chefe de autoridade abrupta, uma dessas cabeças firmes e superiores, olhos para iluminar e boca para mandar, – um desses homens predestinados, que são em crises históricas o ponto de intercepção de milhões de almas e vontades, acumuladores elétricos da vitalidade de uma raça, cérebro omnímodos, compreendendo tudo, adivinhando tudo, mudando tudo sem deixar se mudar – livro de cifras, livro de arte, livro de história, simultaneamente humanos e patriotas, do globo e da rua, do tempo e do minuto, forças supremas, forças invencíveis, que levam um povo de abalada, como quem leva ao colo uma criança;
    Instrução miserável, Ministério da Educação nulo, e da Cultura tocado ao som da MPB, agricultura industrializada para o rico e de subsistência rudimentar para o pobre;
    Um regime econômico baseado na inscrição e no empenho clamoroso de um subjetivo homem único contra todos…, perda de gente e perda de capital, autofagia coletiva, organismo vivendo e morrendo do parasitismo de si próprio;
    Liberdade absoluta, neutralizada por uma desigualdade revoltante, – o direito garantido virtualmente na lei, posto, de fato, à mercê dum apadrinhado de batoteiros, sendo vedado, ainda aos mais orgulhosos e mais fortes, abrir caminho nesta porcaria, sem recorrer à influência tirânica e degradante de qualquer dos bandos partidários;
    Uma literatura iconoclasta, – meia dúzia de homens que, no verso e no romance, no panfleto e na história, haviam desmoronado a cambaleante cenografia verde a amarela da classe dominante de…, opondo uma arte de sarcasmo, viril e humana, à fraudulagem pelintra da literatura oficial, carimbada para a imortalidade do esquecimento com cruz indelével da ordem mendicante…;
    Uma geração nova das escolas, entusiastas, irreverentes, revolucionária, destinada, porém, como as anteriores, viva maré dum instante, a refluir anódina e apática ao charco das conveniência e dos interesses, dela restando apenas, isolados, meia dúzia de homens inflexos e direitos, indemnes à podridão contagiosa pela vacina orgânica dum caráter moral excepcionalíssimo.
    E se a isso juntarmos um pessimismo canceroso e corrosivo, minando as almas, cristalizando já em fórmulas banais e populares, tão bons são uns como os outros, corja de pantomineiros, cambada de ladrões, tudo uma choldra, etc., etc., – teremos em sintético esboço a fisionomia da nacionalidade… no tempo da morte de um partido delirante…, cujo reinado de paz podre vem dia a dia supurando em gangrenamentos terciários.
    O advento do materialismo capitalista, inaugurado pela ironia céptica do coronelismo desbravado, acabava pela galhofa cínica do poder canavieiro… O riso da hiena, levemente amargo, estridente, desfechava no riso canalha do garotão de Ipanema. O patusco terminava em malandro.

    (1) Há exceções individuais, claramente. A fisionomia geral, no entanto, é aquela.
    (2) Se o Nazareno, entre ladrões, fosse hoje crucificado em plena Praça dos Três Poderes, ao terceiro dia, em vez do Justo, ressuscitariam os bandidos. Ao terceiro dia? Que digo eu! Em 24 horas andavam na rua, sãos como cachorros com coleiras tricolores.

  10. Mainardi esta corretissimo em seus artigos. Quem puder, tem mais e que sair do Brasil. A muitos anos atraz, quando o PT comecou a se fortalecer, eu ja comentava com os meus que, UM DIA, Lula chegaria ao poder. Quando isto fosse acontecer, eu me mudaria para o Paraguai, pois pior do que este pais, so o Brasil o seria.
    Graaaaaaaaacas a Deus, quando isto aconteceu, eu ja estava longe do Brasil e ate do Paraguai.
    Hoje moro no exterior, onde fui aventurar aos 44 anos, e onde me dei muito bem.
    Tenho a Globo internacional em minha casa, e leio a VEJA semanalmente, o que me deixa bem informada do que esta ocorrendo no Brasil, so que… estes dois veiculos de comunicacao proporcionaram para mim um sentimento de “VERGONHA” de ser brasileira. Nem mesmo o Hino nascional nao consegue mais me deixar emocionada.
    Portanto caro Mainardi e todos os brasileiros que tiverem condicao e coragem de sair do Brasil, SAIAM antes que este se transforme em uma nova Venezuela.

  11. Leio a coluna na Veja semanalmente e concordo quando ele diz que jornalista não tem que ter rabo preso com ninguém, é preciso que alguém diga ” o rei está nu”. Não sei se ele é a versão ruim do Paulo Francis, não importa, mas é muito bom ver como ele incomoda muita gente.

  12. Achei o comentário do Roger perfeito: é fácil polemizar…as reações acontecem naturalmente e de forma tão tola quanto a própria crítica. É uma estratégia barata pra vender mais. Particularmente, acho que ninguem deveria comentar nunca o que ele escreve. Deixa o cara bater a cabeça na parede sozinho.

  13. è fácil polemizar,porém o valor de um comentarista é provado pelo tempo.Daqui a 30 anos o que se falará desse cara?Qual foi a causa justa pela qual ele lutou?Falar é fácil,mas o que esse cara fez pelo Brasil?Falar mal do Pt?Falar mal do Lula?Puxar o saco do PSDB?Só isso?Chamar artigos tendeciosos,difamatórios e claramente partidaristas de jornalismos é chamar Bethoven de Restart.

  14. “Não era apenas a expressão sincera de uma posição firme a respeito de algo; era como se o sujeito acordasse e pensasse: ‘E com o que é que eu vou implicar hoje’? Era essa a diferença entre o Mainardi, que sempre considerei menor, e o Paulo Francis, provavelmente o melhor jornalista cultural que este país já teve.”

    Não tenho certeza de que a diferença entre eles, Mainardi e Francis, seja, neste aspecto, tão grande assim. Não duvido de que as polêmicas de Francis baseavam-se nas suas posições firmes sobre as coisas, mas alguém acha que Mainardi — como Francis, aliás — não desgosta firmemente do PT e do estado do Brasil? Além disso, quantas vezes um jornalista cultural, mesmo (ou, talvez, principalmente) “o melhor jornalista cultural que este país já teve”, precisa falar mal ou desrespeitosamente de nordestinos, pobres, gays, sindicalistas, mulheres, negros, jornalistas em geral, estudantes, etc. antes que pareça que ele acorda em NY e pensa: “E com o que é que eu vou implicar hoje??”. Qualquer que seja a cota, creio que Francis esgotava-a em uma semana.

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