Não gosto de briga de galo. Acho um dos hobbies mais cretinos que alguém pode ter. Só quem já viu sabe o quanto ela pode ser cruel.
Mas não me importo se outras pessoas gostam, desde que gostem longe de mim. Já disse antes: eu sou um antropocêntrico consumado. Não gosto de crueldade com animais pelo que isso faz a mim, não a eles.
Acompanhei no domingo a repercussão sobre a prisão do Duda e fiquei impressionado com duas coisas: a imediata politização do episódio, com o mundo descendo a lenha na Marta como se ela estivesse lá, com ele, e o fato de todo mundo (naquele esporte favorito da classe média brasileira, bater em “marqueteiros” em época de eleição) detonar o caráter do Duda por ele gostar dos galos.
Pelo menos uma das melhores pessoas que conheci adorava briga de galo. Seu caráter estava acima de qualquer questionamento. Outra, meu bisavô, criava galos e seu enterro foi um dos maiores da história da cidade. Como ele não tinha um tostão, não deve ter sido pela sua importância.
Essa mania imbecil de fazer julgamentos de caráter a partir de aspectos pessoais isolados é irritante, como é essa idéia de que todo mundo que gosta do que eu não gosto é ruim.
Mas talvez eles tenham razão.
Agora vamos fazer isso com os maconheiros. Porque para fumar tem que portar, e porte de entorpecentes é crime. Vamos chamar todos os maconheiros de maus-caracteres, vamos chamá-los todos de criminosos. Você conhece um maconheiro? Denuncie-o à Polícia Federal imediatamente, porque você está compactuando com um crime federal. Eu, como não fumo maconha, me sinto totalmente à vontade para fazer isso. E essa é a regra, não é?
Um dos comentários me chamou particularmente a atenção: dizia que Duda não pode ser um grande profissional porque não tem curso superior.
Dá para pensar outra coisa que não em uma pessoa que estudou anos e anos e não conseguiu ir muito longe, e se ressente disso? É triste que um monte de diplomas não substituam talento, competência e sorte.
A coluna da Dora Kramer de domingo fala sobre o caso dos galos. É interessante.
Antes de a juíza Denise Frossard cruzar seus caminhos, os bicheiros faziam como Duda Mendonça. Tratavam com naturalidade a infração. Eram tão naturalmente bem recebidos que nem eles mesmos consideravam-se infratores. Delinquiam sem que ninguém lhes condenasse a delinqüência.
(..)
Não faltarão agora os denunciadores do farisaísmo a dizer que, enquanto prendem Duda por causa de um entretenimento, deixam soltos traficantes e assassinos; não faltarão os apologistas das conspirações a enxergar astutas armações político-eleitorais por trás da operação da PF na rinha dos galos.
A intenção óbvia é comparar Duda aos bicheiros, como se estivesse envolvido em mortes e tráfico de drogas. Por essa eu passo, não vale a pena; não vale sequer lembrar que eles continuam aí, firmes e fortes. A não-tão-óbvia é mais interessante: justificar a ação quase inédita da PF pelo simples cumprimento da lei. Essa é batata. Afinal, ninguém pode ser contra isso.
Mas só posso repetir o que já disse antes: a aplicação seletiva da lei é a maior forma de injustiça que conheço.
O que se comenta entre os políticos do Rio, esses dias, é que a Polícia Federal de lá é disputada por três grupos rivais. O delegado que prestou esse grande serviço ao país, desbaratando aquela quadrilha de meliantes perigosos no Club Privê, teria sido “rebaixado” para o setor de crimes ambientais e armado a batida por sacanagem e para aparecer. Pode ser. Mas eu continuo não acreditando em coincidências em época de eleição.
E a aplicação seletiva da lei continua sendo a maior forma de injustiça que conheço.
Alguém poderia abrir a contagem de rinhas estouradas pela PF, por favor? Algum jornal ou revista calculou a existência de 120 rinhas no país. Vou fingir que não estou rindo da estimativa e levá-la em consideração. É razoável esperar que consigam fechar pelo menos 12 até o fim do mês.
Em toda eleição muito disputada qualquer fato, mesmo banal, serve para atormentar o adversário. Ninguém fica procurando problemas no comportamento dos assessores do Paulinho, da Erundina e de outros menos cotados. Mas pequenos detalhes na vida da Marta ou do Serra (ou de assessores) são utilizados pra tentar prejudicar o adversário. Nenhum deles é inocente e ambos se utilizar desses artifícios. Poderia não ser assim, deveria não ser assim, mas é. A natureza humana força a se utilizar de qualquer arma quando nos sentimos ameaçados.
Pergunta mal humorada: Será que o País não tem problema mais importante pra delegar pra Polícia Federal? Cuidar de briga de galo poderia ser tarefa da guarda municipal.
Suas opiniões sobre o assunto mais uma vez se mostram indispensáveis. É interessante a questão: você aponta uma suspeita bastante pertinente sobre os motivos dessa patuscada da PF, e as pessoas começam a discutir outra coisa, ou seja, se o PT é melhor que o PSDB!
Essa disputa partidária está sendo levada pelas pessoas a todos os lugares. Eu não abro mais a caixa de comentários do Noblat, pois é impossível ler pessoas que só estão interessadas em falar mal ou bem de tal ou qual partido político.
Você levantou pontos muito mais interessantes, a respeito do cumprimento das leis, de leis que “pegam” e outras que “não pegam”, da questão da “tolerância zero” e outras, tudo en passant, tudo da forma inteligente e não-sectária como você sempre escreve, mas parece que muita gente não está interessada em discutir, nos comments, o que o autor escreveu, mas algo que só remotamente tem a ver com o assunto do post.
Além dos críticos ao PT, vi nos defensores dos animais, como a Cora e outros, uma postural radicalmente anti-Duda. Eu já tive oito gatos, amo os animais, mas não dá pra levar a sério essa gente, sinceramente.
Cora Ronái é uma pessoa tão insignificante pra mim, tão “senso comum”, tão “indignação burguesa de plástico”, que me abstenho de comentar mais um de seus textos burros. Deixo apenas o link para mais um dos absurdos retóricos dela, denunciado no blog antigo do meu irmão. Clique no meu nome para ler.
Ops, falei da Cora mas a sua citação é da Dora Kramer… well, já te dei uma opinião bastante generalizante e muito sincera sobre o que penso de colunistas de jornal… e o link está valendo (acima, no meu nome).
Vamos ser sinceros, essa lei é para o Estado que se ilude achando que repreende crime, mas o cidadão que gosta de galos, não é criminoso, tem consciência disso, lei de contra-mão não pega, sempre foi assim, e continuará… os hipócritas perseguindo, os galos brigando….e os imbecis criticando.
Bem as rinhas de galos nunca vai terminar. Pois isso não é crime. Crime é liga nossa tv.