Lembranças da academia

Da série “por que eu não gostava do curso de direito”.

Em 95, empolgado com a internet, tive a idéia de fazer uma daquelas pesquisas porcamente financiadas pelo CNPq (na verdade, como eu estava duro como pão de anteontem, precisava que a universidade financiasse a cachaça que eu tomava nos bares próximos à universidade. Era a única razão pela qual eu ainda ia àquele cu-de-mundo — e se alguém vê conflito de interesses aí, aviso que não havia nenhum: juro que aprendia mais nos bares que na universidade).

O assunto — ou aquilo que eles chamam de “objeto de pesquisa” ou outro nome mais feio — seria o direito e suas relações com a internet. Eu tinha a impressão de que havia uma série de questões jurídicas que a Internet iria afetar; na época eu não pensava em direitos autorais e circulação de conteúdo, mas principalmente direito penal e civil.

Falei com o professor encarregado de orientar os alunos, depois que soube que não poderia fazer a pesquisa sozinho. E ele disse não. Alegou que ainda era um tema novo demais. Não adiantou dizer que era para isso, afinal, que servia uma pesquisa, para dar respostas ou pelo menos instigar mais perguntas. A resposta continuou sendo não.

Típico da mentalidade acadêmica, mas mais típico ainda dos “operadores do direito”: fazer pesquisas apenas sobre o que já se sabe. Eu não entendia. Foi quando compreendi que é esse o espírito do direito que se ensinava ali: “restrinja-se a não estragar o que outros fizeram antes de você”.

E ainda hoje tem gente que não consegue entender por que abandonei aquele curso.

2 thoughts on “Lembranças da academia

  1. Corporativismo? Ou ele estava apenas obedecendo ordens? Questionar nem sempre foi o caminho mais seguro para obter respostas, principalmente quando se deve afrontar os próprios professores.
    Ciao

  2. Olá Rafael,
    isso me lembrou do meu projeto de fim de curso na faculdade de Psicologia, em 1997. Eu queria algum professor para me orientar numa pesquisa sobre a interação homem-máquina em ambientes de trabalho altamente automatizados, e a resposta que recebi do departamento foi: não há nenhum professor disposto a te orientar porque esse assunto não interessa a Psicologia!

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