Há uns onze, doze anos eu escrevia alguns programas para uma rádio do interior de Sergipe. Foi antes do e-mail, e eles eram enviados por fax. Ainda tenho alguns arquivados. Me bati com um deles dia desses e lembrei que me divertia muito escrevendo os danados. Os primeiros programas, que não deixaram traços, eram uma cozinhada do noticiário que interessava à região, notícias devidamente copidescadas de jornais da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Esse era sério.
O que não se pode dizer de outro programa, diário: “Cenas do Próximo Capítulo”, com as sinopses dos capítulos das novelas daquele dia. Foram os únicos que restaram. Na época a novela das oito era “Fera Ferida”, a de Flamel. Entre os personagens havia um casal formado por uma vitalina chamada Ilka, interpretada por Cássia Kiss, e um ex-jogador de futebol chamado Ataliba, por Paulo Gorgulho.
A sinopse original dizia o seguinte: “Ataliba vai tomar chá na casa de Ilka”.
Acontece que o tal Ataliba era impotente e o chá era pretensamente afrodisíaco. A versão rafaeliana ficou assim: “O ex-jogador, ex-conquistador e ex-homem Ataliba vai tomar um chazinho na casa de Ilka. Como já deu pra notar, Ilka tá louca pra resolver o problema de Ataliba, que é pra ver se Ataliba resolve o dela.” Deveria ser lida em tom de paródia, mas se eu conhecia bem os locutores — um dos quais assassinado por questões políticas alguns anos depois –, o resultado devia ser muito mais trash que o texto.
Outro programa, semanal, era sobre fofocas de artistas. Uma espécie de “Contigo no Ar”. E foi por causa desse que consegui arranjar uma confusão. Um sujeito não gostou de uma nota sobre Michael Jackson — acredite, esse programa era muito, muito mais debochado que o das novelas. Durante algumas semanas fui aconselhado a não pisar na tal cidade.
Não que dizesse falta, claro. Uma cidade em que as pessoas compram briga por causa de Michael Jackson não pode valer a pena.
Rafa, parece óbvio o pedido de todos que, garanto, virá: faça seu primeiro “podcasting” publicando o áudio deste programa!
o doido
rafito… tem coisas que a gente nem deve relembrar! ;>)
Interessante que a maioria das pessoas,”compra” uma briga sem saber o verdadeiro “preço” que poderá vir a pagar!
Oi,
cheguei aqui atraves do Pacamanca. Gostei muito dos teus textos. A reflexão sobre blogs e jornalismo e seu comentário sobre a revista primeira leitura. Morri de rir (quase, ahã, senão como escrever né?) com os sobre as loucuras do Google.
Lembrei dessa novela quando você começou a falar na Ilka e no Ataliba. Ela era uma virgem meio maluquinha que usava uns chapeuzinhos engraçados, né? Aquilo era divertidíssimo. Os nomes de algumas personagens eram inacreditáveis. Ah… Eu, que hoje não tenho mais saco pra novela (são uns porres), fiquei com vontade de rever a Ilka Tibiriçá e o Ataliba Timbó.
Você escrevia horóscopo também? 😀
Pena que não pegava aqui, Rafael. 😉