Vinha procurando esses dados há mais de seis anos: os candidatos a presidente do Brasil no primeiro turno das eleições de 1989.
As pessoas, hoje, não parecem fazer idéia do que aquelas eleições representaram. Eram o fim definitivo da ditadura, as primeiras eleições diretas para presidente em 29 anos, e a primeira vez em que pessoas com 16 anos votaram.
Aquelas eleições foram um dos maiores espetáculos de democracia que este país já viu, traduzido na imensidão de joões ninguém que disputaram a eleição. Para mim, pessoalmente, foram o ponto máximo de minha participação política como cidadão. E como a minha vocação para político só não é menor que a vocação para desfilar na Visconde de Pirajá vestido de baiana, deve continuar assim.
Eu me lembrava da maioria dos candidatos; as exceções eram Zamir, Lívia Maria, Eudes Mattar, Antônio Pedreira e Manoel Horta, que não sei de onde saíram e muito menos aonde foram. Aquela eleição foi o ápice de Marronzinho (por acaso sergipano), que aparecia amordaçado no vídeo. Foi quando Enéas apareceu e se tornou lenda, o suficiente para um terceiro lugar em 1994 e, em 2002, para carregar nas costas a Havanir (também sergipana; se junta a Marronzinho e a Lourival Fontes como as grandes contribuições políticas de Sergipe ao Brasil).
Lembro de no Congresso da UBES em Santo André, ainda em setembro, me indignar com os bobões da Convergência Socialista, que queriam o apoio da entidade a Lula já no primeiro turno. Definitivamente, os trotskistas não sabiam fazer política (o PT acabou dando um pé na bunda deles, que formaram o PSTU). Lembro de uma certa simpatia pelo Celso Brant, de uma grande antipatia por Roberto Freire, o divisionista, e de ficar assustado com o crescimento de Afif — por uns quinze dias. Lembro do jingle de Affonso Camargo (“Dois patinhos na lagoa”) e de achar graça na tentativa de substituírem Aureliano Chaves por Sílvio Santos, que chegou a fazer uns dois programas.
Aquela eleição marcou o início da decadência de Brizola e o enterro de Ulysses. Deu 15 minutos de fama a Ronaldo Caiado (não por acaso goiano). Terminei aquela eleição pesando pouco mais de 60 quilos, passei o Natal de cama com febre de não sei quantos graus, mas valeu a pena, sim: no dia 8 de novembro, nós paramos o comício de Lula para que nos vissem chegar, certamente uma das maiores passeatas de estudantes que esta cidade já viu. Eu asseguro: o impeachment de Collor não foi nada perto daquilo. E fomos nós que fizemos aquilo.
Talvez não tenha dado muito certo naquela hora. Nós queríamos um novo Brasil e tudo o que conseguimos foi um Brasil Novo. Mas que valeu a pena, valeu. E isso só quem viveu sabe o que foi.
CANDIDATOS A PRESIDENTE EM 1989
Fernando Collor – PRN/PST/PSL
Lula – PT/PSB/PCdoB
Leonel Brizola – PDT
Mário Covas – PSDB
Paulo Maluf – PDS
Guilherme Afif – PL/PDC
Ulysses Guimarães – PMDB
Roberto Freire – PCB
Aureliano Chaves – PFL
Ronaldo Caiado – PSD/PDN
Affonso Camargo – PTB
Enéas Carneiro – PRONA
Marronzinho – PSP
Paulo Gontijo – PP
Zamir – PCN
Lívia Maria – PN
Eudes Mattar – PLP
Fernando Gabeira – PV
Celso Brandt – PMN
Antônio Pedreira – PPB
Manoel Horta – PDC do B
(Os números da eleição podem ser encontrados aqui.)
Voltei no tempo com esse post. Minhas lembranças são muito parecidas.
Eu também detestava o Roberto Freire, que tinha boa parte das despesas bancadas pela direita (que tinha medo do Lula passar pro segundo turno). Ele tinha um personagem de cartum, o “Bundão”, que representava a crítica que a esquerda sempre fez ao partidão, de divisionista e coisa e tal.
Ele preferia brigar com a esquerda do que com a direita — e é assim até hoje, quando ficou o governo Fernando Henrique inteirinho namorando o PSDB e logo no início do governo Lula deixa a base de apoio e faz campanha oposicionista agressiva (a mais agressiva de todas).
Eu lembro de um programa de TV dele, até bem feito, tipo entrevista coletiva entre vários jornalistas “isentos”, mas com o Ziraldo no meio, puxando o saco de forma patética, e levantando todas as bolas pra ele.
Esse país tem um processo de construção de democracia de dar inveja em muita gente — menos nos USA-lovers da direita, que acham que nada aqui presta.
Em 1989 eu já morava em Salvador, tinha 29 anos, estava casado e desiludido da política. Apostei uma garrafa de uísque com o advogado João de Melo Cruz que Lula chegaria ao segundo turno. O sacana nunca me pagou. Me desiludi dos advogados também.
Ciao
Depois que eu larguei a militância na DS (corrente do Raul Pont, do Rossetto) eu só voltei a militar em tempo integral na reta final do primeiro turno e no segundo turno de 89.
Assim como o Marcus, tenho tantas lembranças que o post do Rafael me deu vontade fazer outro(s) sobre isso.
Lembro da correria para tirar o hino da Internacional e colocar o Lula lá de música no último comício em BH, porque nao queríamos assustar. Lembro da extraordinária sensaçao de que íamos passar o Brizola e chegar no segundo turno. Lembro da estúpida recusa em dar o telefonema a Ulysses, recusa contra a qual sinceramente eu gritei muito, do alto dos meus 21 anos na época. Sempre pensei que poderia ter feito a diferença, mais além das tramóias da Globo.
Eu me lembraria para sempre de pensar o que teria sido do Brasil se Lula tivesse ganhado ali, em 89, derrotado o collorido ali na boca da butija, sem os 15 anos de atraso. O que teria sido? O que teria sido se tivesse ganhado ali o homem que era radical demais para ir atrás de Ulysses para confirmar um apoio?
… e que a partir de amanha terá que pedir favores a Severino Cavalcanti? Nao é tudo irônico demais?
Congresso da UBES? Santo André em 1989? Como é que não nos encontramos?! E que história é essa de me chamar de bobona, assim em público? Ah, Rafael, só você pra me fazer ressuscitar…E que coincidência, ando com um sentimento tão retrô, tudo a ver com o que vivi naquela época.
PS.: Continuo vindo aqui todos os dias. Beijos
Aureliano Chaves era o candidato do PFL. O Sílvio Santos tentou concorrer por uma lengenda de aluguel (é o 26!) substituindo um tal Corrêa, que não está na sua lista. A solução, claro, foi extinguir-se o próprio partido (por isso ele não aparece listado, todos os votos dirigidos a ele foram anulados)…
André, eu não lembrava do detalhe da legenda laranja. Mas a armação da candidatura do amigo do Lombardi foi coisa do PFL, mesmo, e por uns momentos me deu a esperança de roubar uns bons votinhos de Collor.
Uma busca no Google resolve o problema: o candidato era Armando Corrêa, o partido era o PMB (Partido Municipalista Brasileiro).
Mudando de assunto, eu tô sentindo falta do Intelligentsia. Ainda não tirei o link daqui.
Desse momento, lembro-me sobretudo das musiquinhas(jingle)produzidas durante as campanhas:
Lula lá, brilha uma estrela … Lula Lá nasce a esperança … (Pode ser a última, mas morre!)
Juntos chegaremos lá … fé no Brasil … com Afif juntos chegaremos lá (Ainda bem que não chegou!)
Bote fé no velhinho … o velhinho é demais … Bote fé no velhinho … para essa Pátria assumir … e acabar com a molecagem … que tem por aí … (E a molecagem continua. Agora com o Severino.)
Quem lembrar que cante outra!
Essa é mesmo “a” eleição. São muitas as lembranças. Fazia parte do Comitê Pro-Lula da Fafich-UFMG. Num certo momento fizemos uma carta para ser distribuida nas ruas. Uma das maiores discussões aconteceu porque o pessoal do PC do B não abria mão da expressão “socialismo científico”. Acabaram vencidos e a carta saiu com “socialismo democrático”.
O Affonso Camargo foi resposável pelos melhores momentos humorísticos. Especialmente quando conclamou a população a usar uma fitinha amarela nos carros como demonstração de apoio à sua candidatura. Lembro dele lendo uma carta de um eleitor que teria pintado a própria casa de amarelo.
O Sílvio Santos tería dado trabalho se sua candidatura vingasse. Nos dias em seu nome começou a circular, estava panfletando na região do Mercado Central em BH e muita gente perguntava: “É do Sílvio?” Como não era, iam embora desapontados…
Little Brown? Ronaldo Sepulcro Caiado? Pêéssitêú? Aureliano Lá Vem o Chaves? Direita x Esquerda? Socialismo científico? Pêcêdubê? Democracia Socialista? Roberto Asshole Freire? Sílvio Agora quem Dá Bola é o Santos? Cheira Collor?
Fala séeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerio! Ainda bem que com 14 aninhos eu não precisei votar naquela eleição…
eu não era nascido em 89.
mas o millôr (de novo!) tem uma ótima, acho que li no BÍBLIA DO CAOS, sobre essa eleição… ele dizia: “para fugir do comunismo só votando no roberto freire!”. hehehehe…
é que a tônica da campanha, de maneira geral, foi a divisão de renda e etc…
ironia ou não, entra o collor e bota todo mundo com 50 MERRÉIS no bolso. o collor foi o presidente mais socialista do mundo!
Lembro bem dessa época,da cara de santo do Collor.(Ele nunca me enganou)
E depois,da palhaçada do confisco.
Imaginem só como esse país poderia estar se o presidente eleito fosse o Mário Covas. :c) Saudades do Governador.
O Lula tanto tentou que conseguiu.
Será que o Enéas também consegue?
Engraçado é que em 89 eu tinha 13 anos e como adolescente que era adorava colar adesivos na janela do meu quarto. Naquele ano, minha janela ficou lotada de adesivos de quase todos os candidatos a presidente… rs
Beijos, rafex!
Naquele tempo eu tinha 22 anos, já votava, mas também preguei os adesivos no vidro da janela…
Foi muito importante porque foi a primeira vez pra presidente após 25 anos de ditadura.
Eu tinha 9 anos, morava nomato e ouvia TODOS os programas eleitorais no rádio, enquanto ordenhava as cabritas. E cantava TODAS as musiquinhas no caminho para a escola, com minhas irmãs.
E éramos brizolistas, meu pai prometeu (mas, infelizmente, não cumpriu) que ia sair do país se ele não fosse para o segundo turno.
ê vida…
O meu xará lembrou bem: o Silvão substituiu o Armando Correa (entrou o “é o 26, com SS chegou a nossa vez) e saiu um banana (cuja propaganda era Acorda Brasil). Outra coisa: os patinhos da lagoa eram o Afif (22, do PL). O Affonso Camargo era do PTB (o pai do bilhete único). Gostava da propaganda do Gabeira (ele não aparecia, era só uma frase “gabeira presidente do Brasil”). Particularmente, tinha mais medo do Caiado. E do Collor, claro.
E o Armando Corrêa não era aquele candidato da zebrinha… toda vez que eu via aquilo lembra do Leo Batista. ehehehe
Eu lembro que no último comício do Lula eu perdi a voz e fiquei com uma tosse desgraçada por quase uns 3 meses… Mas a minha revolta maior foi não poder votar! E olha que eu já tinha 16 anos, só que nasci 1 dia depois da data permitida para poder tirar o título.
E claro que continuei insistindo e insistindo e votando no Lula. Só não votei na última eleição porque não estava no Brasil. Meu pai vive dizendo que ele não ganhou antes por minha culpa… Será?!
Oi Rafael,
Tenho acompanhado seu blog, nao constantemente (nao tenho paciencia para acompanhar, nao somente o seu mas outros tambèm), mas admito que e muito bom, pois foge ao padrao do blog “diario pessoal” que a gente encontra na internet.
Discordo de voce com relaçao a Convergencia Socialista, nao somente por ter estado proxima a tendencia (que depois se tornou Partido), mas por ter vivido a historia da formaçao do Partido. Eles nao foram expulsos do PT, eles viram que era hora de sair, pois ja que possuiam, uma linha politica propria, um jornal, um quadro de militantes, e tantas outras particularidades que fizeram eles tomarem a decisao de sair do PT e nao a serem expulsos como disse voce.
Essa historia da expulsao, foi uma desculpa moral que o PT criou para dizer que estava “arrumando a casa” , mas a historia nao e bem assim. Quem VIVEU dentro da CS, pode contar de maneira tranquila o que aconteceu. O importante, hoje, e que mesmo sendo um pequeno Partido, o PSTU, se identifica com suas linhas, e isso eu espero que va adiante, independente e livre pra seguir seu objetivo. Se e errado ou nao, nao importa, o importante e ter adquirido a liberdade de expressao.
Um abraço
Essa eleição foi realmente “a” eleição, inesquecível! Havia paixão, famílias se desintegravam, pessoas passavam a se amar ou a se odiar de acordo com as escolhas políticas. O comício do Lula na Cinelândia foi o evento mais emocionante em que já estive, 1 milhão de pessoas juntas, acreditando que o Brasil podia mudar.
Olá, adorei o conteudo do site, mas gostaria de saber quantos votos cada candidato teve, e mais informações sobre os candidatos e partidos da época .
um abraço
Odair
As eleições de 1989 foram um momento sublime da história recente do nosso país. Lamentavelmente o presidente eleito Fernando Collor envolveu-se em atos de corrupção e foi destituido em 1992 (lembrem das meteóricas manifestaçoes populares clamando pelo Impeachment). O Brasil teria outro rumo na história caso Brizola fosse no segundo turno no lugar do Lula e “despachasse” Collor naquele 17 de dezembro.
Tá MAIS DO QUE CLARO (ou seja, concordando com o comentário do Odair Dias)QUE O BRASIL SERIA OUTRO HOJE SE O BRIZOLA TIVESSE IDO PRO 2O. TURNO NA ELEIÇÃO DE 89 PRA DAR UMA PEIA NO COLLORIDO EM 17.12.1989!!! PRINCIPALMENTE, PELO FATO DE QUE PARA O PDT A EDUCAÇÃO SEMPRE FOI ‘A PRIOPRIEDADE DAS PRIORIDADES’! JÁ PENSOU O VELHO BRIZOLA DURANTE 4 ANOS ESPALHANDO CIEP´S POR TODO O PAÍS. E POR OUTRO LADO, SE OS PETISTAS NO SECULO 21 ESTÃO FAZENDO TANTA LAMBANÇA E DEIXANDO TANTAS LADRÕES À VONTADE, QUE DESGRAÇA TERIA SIDO NO INÍCIO DOS ANOS 90! TRISTE SINA, COITADO DO BRASIL.
P.S.: MAS NÃO TEM NADA NÃO, EM 2006, A GENTE VAI DAR O TROCO NESSA CORJA DE CORRU-PT-OS, VOTANDO PDT 12 NA CABEÇA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
As outras musiquinhas eram “Afonso Camargo, é PTB, meu voto agora é pra valeeeer”; “Chegou a hora de acabar cos marajá!sou Coooollor”;e aquela musiquinha do do Afif me emocionava “Vamos, grande éa nossa terra, vamos levantar essa nação, Com afif juntos chegaremos lá!”
Estive pesquisando muito pra encontar um site como este, me matou saudades, lembro que em 89 eu estava colhendo café com minha mãe, e logo após ver o primeiro programa político naquela tarde de vento de agosto, cantei fiquei encantado, e pensei que aos 12 anos de idade eu veria um país ser mudado facilmente com tanta gente bem intencionada pra governar o Brasil!
poxa, da uma saudade desse tempo. tempo de esperança de mudança, eu adorava quando meu pai dizia que o lula era o representante do povo pobre, eu tinha 10 anos. eu vivia sonhando com um país melhor mais justo, onde meu pai pudesse compra uma bicicleta e parece de reclamar do preços das coisa. eu via em lula o grito de socorro dos mais pobres. eu via na eleição do lula a vez do Brasil, da reforma agrária. quando collor ganhou parece que o desalento tomou conta de todos. quando lula ganhou em 2002, eu não esperava mais a mesma coisa, o sistema conseguiu amansar o lula e o PT ficou sendo um partido menos de direita do que os outros. o sonho do socialismo tinha acabado. o sonho tinha acabado… mais vamos lá, deixe para os mais jovens o desejo de mudança que os mais velhos não mais carregam
Parabens pelo Blog e informações
ando ultimamente pesquisando muito sobre as eleições de 89 pela Internet e posso dizer, mesmo nao tendo ainda nascido naquela epoca, já guardar uma admiração por essa disputa eleitoral, pena ”termos” elegido o pior que poderia vir.
já vi tambem um video da manipulação da Globo nessas eleições, batendo em Brizola no 1ª turno e Lula no 2º, e depois de 2 anos, derrubando Collor..
mas bom, a esperança continua, quem sabe daqui 4 anos não surge uma.. 3ª Via
Abraços a Todos
Rafael, vc tem a data certa do comício da Cinelândia? tou feito doida atrás da data, o do segundo turno.
Obrigada
Bah o mais legal dakelas eleiçoes,nao comentado por ninguém ainda eram os emocionantes debates…acalorados…e sempre sem a presença do collor…lembram dakela q o lula disse q competencia pro maluf é competir competir e nunca ganha…ehehhehe…e o Brizola chamando o collor de filhote da ditadiura;tinha tbém os ataques de baixo nível do ronaldo caiado em cima do Lula q nem dava muita bola…e a ultima fala do BRIZola no ultimo dedate,quase chorando,implorando q nao se votasse no collor…ah…quanta emoção,q saudades