Ainda Israel

Juro: eu sabia que o Rafael Caetano ia deixar um comentário ao último post sobre Israel.

a invasão do Líbano, por mais que possa ser criticada (e foi muito criticada mesmo dentro de Israel), _também_ foi para se defender. Os palestinos bombardeavam Israel a partir do Líbano. Não faz o menor sentido dizer que foi expansionista. Nem os sionistas mais radicais tinham interesse em colonizar o Líbano. No máximo esperavam um acordo de paz com o governo libanês (o que não aconteceu).

A invasão do Iraque também. Chamaram isso de “guerra preemptiva”.

Na verdade, todos sempre têm uma razão para a guerra, todos têm uma razão para invadir outro país. Hitler, por exemplo, tinha razões bastante válidas, do seu ponto de vista: as humilhações resultantes do tratado de Paris são a principal delas. Invadir a Polônia era uma medida de proteção contra a União Soviética. Tanto palestinos como israelenses podem dar milhões de razões para cada um de seus atos, até aos mais abjetos.

Mas há questões objetivas, e é a partir delas que se pode formar uma opinião. E, objetivamente, o que acontece é que Israel é um Estado que hoje ocupa áreas que nao são suas, que forçou uma situação em que os territórios em questão deixam de ser considerados “ocupados” para se tornarem “em litígio”, e em nome do seu direito a existir obriga as nações vizinhas a aceitarem menos do que lhes é de direito.

por que sempre citam Sabra e Chatila sem mencionar quem realmente conduziu os massacres, i.e., uma mílicia maronita? É mais ou menos como responsabilizar exclusivamente o Reino Unido e a União Soviética por Hiroshima e Nagasaki. E não é que a presença de Israel tenha sido necessária: os libaneses e palestinos se matavam muito antes da invasão israelense.

É verdade, o massacre foi conduzido por uma milícia cristã. Mas isso não redime Israel do seu papel em tudo aquilo, e é isso que o caracteriza, sim, como assassino. O massacre foi planejado por Ariel Sharon, entao ministro da Defesa, e se a invasão do Líbano pode ser vista como apenas um episódio “normal” de uma guerra expansionista (já que ele estava invadindo outro país), Sabra e Chatila, não. Maiores informações podem ser encontradas aqui, na petição inicial de um grupo que quer julgar Sharon por crime contra a humanidade. O exército israelense deu carta branca a à Falange para fazer o que fizeram. Negar a responsabilidade de Sharon — e de Israel — é como dizer que Hitler não é responsável pelo Holocausto porque ele, pessoalmente, não matou ninguém.

A analogia com a bomba atômica que você fez é simplesmente falsa. A Inglaterra e a URSS não tiveram nada a ver com a bomba. E no caso da URSS, foi justamente o contrário. O bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, cidades de um país que àquela altura estava apenas tentando conseguir uma rendição minimamente honrosa, foi basicamente um aviso de Truman aos malditos comunistas (que tinham vencido a guerra na Europa para os aliados, embora a propaganda americana torça esses fatos). A primeira foi para mostrar que os EUA tinham a bomba; a segunda, para mostrar que tinham mais de uma. Que uns tantos japoneses tenham virado pó é só um detalhe, claro. Os racistas eram apenas os alemães. Na verdade, a URSS só declarou guerra ao Japão em 8 de março de 1945, dois dias depois da explosão, tentando garantir uma melhor posição na configuraçao mundial do pós-guerra.

é claro que Israel não quer aceitar milhões de “refugiados”, muitos dos quais são abertamente hostis a judeus em geral e a Israel em particular. Supondo que vai existir um estado palestino (árabe), por que os “refugiados” não vão morar nesse estado então? Eles certamente terão cidadania palestina. Qual é o sentido de existir 2 estados nesse caso?

Rafael, você não percebe o absurdo ético que é esse argumento? Ele tira toda e qualquer justificativa que exista para a formação do Estado de Israel. “Por que os refugiados não vão morar nesse Estado então? Eles certamente terão cidadania palestina” poderia muito bem ser traduzida em 1948 por “Por que os judeus não vão morar nos EUA então? Eles certamente terão cidadania americana”, ou qualquer outro país. Quer dizer então que o que vale para os judeus justificarem a formação do seu Estado não vale para os palestinos?

Os refugiados a que estamos nos referindo são aqueles que saíram por vontade própria, ou expulsos pelas milícias israelenses, a partir da formação de Israel. Que moravam lá antes mesmo da formação de Israel. Gente que tinha suas casas e por várias razões foi obrigada a sair delas. São quatro milhões de almas que, ao contrário do que diz o (ou a, sei lá) Riponga não querem encontrar Alá mais cedo, e sim voltar para o que foi seu lar. Agora você diz que, já que Israel está lá, os palestinos que se virem? Ah, por favor. Parece o malandro carioca que se aproxima de moto do seu carro: “Perdeu, perdeu!”

Me corrija se eu estiver errado, mas a luta judaica por seu Estado foi muito parecida com a luta atual dos palestinos. Isso quer dizer que os judeus apelaram para os mesmos métodos terroristas que hoje execram nos muçulmanos. Na época, não era feio dizer que a Inglaterra era uma potência colonial e criminosa. Mas hoje é uma inverdade dizer o mesmo de Israel.

O mundo é, definitivamente, engraçado. Mas talvez a gente deva seguir o exemplo da velha e boa Golda Meir:

Este país [Israel] existe como o cumprimento de uma promessa feita pelo próprio Deus. Seria ridículo pedir que justificasse sua legitimidade.

9 thoughts on “Ainda Israel

  1. Uou!
    Excelente post – o que é redundante, eu sei. Resume o que eu penso sobre o assunto. Muito obrigada!

  2. Rafael, caí aqui de para-quedas. Venho somente deixar um ponto que me preocupa nessa história toda. Tentar justificar ou defender qualquer um dos lados me parece absurdo. E algumas das suas afirmações não são de todo corretas, como a luta judaica pelo seu estado foi parecida com a luta atual palestina. Aqui há uma grande diferença e ela está justamente fincada na religião. O Terrorismo foi a “arma” que os palestinos encontraram para lutar contra os judeus. Se justifica porque um é imperialista e o outro conolizado? Ao meu ver, não, não justifica, por mais que se tente demonizar o estado de Israel. Veja bem, eu não defendo em absoluto a postura militar atual de Israel com os palestinos, e muito menos a ocupação de áreas palestinas em nome da segurança israelita da mesma forma que não defendo terrorismo. Eu acredito que pelo exercício da memória da história talvez seja possível aprender. O problema é que o Holocausto parece dar um brevê a Israel para agir. Veja bem, se assim o fosse, não nos esqueçamos que 20 milhões de russos morreram na II Guerra, contra os 6 milhões de judeus. E é justamente esse exercício que parece faltar. Israel parece repetir o mesmo erro ao qual foi submetido no passado. E isso é triste de ver. Porque só podemos constatar que o sofrimento gera a justificativa para que eles mesmos perpetuem o que foram submetidos. E, não nos esqueçamos, palestinos e judeus lutaram juntos contra a Inglaterra na reivindicação das terras. Juntos, lado a lado. SE não é razoável a palestina aceitar parte das terras que um dia teve? Bem, a mim, me parece menos razoável continuar nessa matança, mas isso sou eu. Que sentem, que cheguem a um acordo, que atinjam algo. Ficar nessa guerra desmedida é o que não faz sentido. E nesse sentido, ambas as partes têm levado nota zero.

  3. Essa discussão é realmente incrível porque nunca, jamais, never ever ever terá fim. O Estado Israelense foi criado como um pedido global de desculpas por terem deixado metade de uma religião (religião essa berço das outras duas grandezinhas) morrer em tão pouco tempo. Os Palestinos nunca vão aceitar o Estado Israelense e Israel, país dominante apesar do seu tamanho, também nunca irá ceder mais do que achar ‘o mínimo possível’. O quanto isso realmente representa não dá pra saber.

    Qual a solução para o ‘caldeirão do Oriente Médio’. Sei lá, honestamente. Discutir soluções é muito fácil quando você não mora lá e assite tudo pela BandNews e pela CNN, lê o NYTimes de vez em quando e assina O Globo. Com os EUA tentando dominar o norte do OM (Iraque, Irã e Afeganistão), estou sinceramente mais preocupado com a damer que vai dar lá em cima do que com a discussão ‘Israel-Palestina’… mais uma guerrinha inventada pelo chimpanzé da Casa Branca para instaurar a democracia na maneira mais imperialista possível.

    Realmente o mundo é um lugar muito interessante. Pena que odeio praticamente tudo o que há de interessante, porque simplesmente me irrita demais. Se o mundo fosse ateu só nos restaria o racismo, o fascismo, o neoimperialismo, entre tantas outras coisas. Ah, como seria bom. 😉

  4. Puxa, como eu sou previsível. 🙂

    Mas eu também sabia que você incluiria uma comparação com Hitler.
    “todos sempre têm uma razão para a guerra, todos têm uma razão para invadir outro país.”
    O ponto é que algumas razões podem ser válidas. Por favor, pretextos que Hitler tenha inventado não têm nada a ver com a história. A invasão preemptiva do Iraque tampouco. Israel não invadiu o Líbano porque tinham suspeitas de que seria atacado, e sim porque os palestinos _já estavam_ atacando Israel a partir do Líbano (claro que isso não é justificar tudo que Israel tenha feito durante a ocupação do Líbano).

    Minha analogia foi infeliz, admito. O ponto não é que os israelenses tenham sido inocentes, mas os reais assassinos não são mencionados, ou só de passagem. Essa petição que você linka menciona de passagem a milícia falangista, mas onde está o nome do comandante ou do presidente do Líbano? E outros massacres, antes da invasão israelense? Isso sem falar nos massacres de maronitas pelos palestinos (nunca vi esses tribunais acusando Arafat). Tenho a leve impressão de que a idéia não é buscar justiça, nem preocupação com as vítimas, é só culpar Israel. A comparação com Hitler é muito duvidosa, porque há farta documentação e testemunhas de que ele de fato planejou matar _todos_ os judeus.

    E o texto ainda tem trechos hilários:
    “The Palestinians are still dreaming of a multinational state between Jaffa and the Jordan River.”
    Ah tá, então Hamas e Fatah só querem um “estado multinacional”?

    A questão dos refugiados dá vários posts, mas vou responder aqui esta parte:
    “Por que os refugiados não vão morar nesse Estado então? Eles certamente terão cidadania palestina” poderia muito bem ser traduzida em 1948 por “Por que os judeus não vão morar nos EUA então? Eles certamente terão cidadania americana”,
    Não, não poderia ser traduzida assim. Primeiro, tenho lá minhas dúvidas se os EUA aceitaria todos os milhões de judeus. Agora, o caso dos palestinos é bem diferente, porque exigem um Estado árabe independente (“ao lado de Israel”) que certamente aceitará todos os “refugiados” palestinos (até aí tudo bem), mas ao mesmo tempo querem o direito de morar em Israel. Os palestinos sabem e admitem abertamente que o direito de retorno significa a destruição de Israel, e que a solução de 2 Estados é apenas temporária; então se você é a favor desse direito, diga logo que é a favor do fim de Israel.

    “São quatro milhões de almas que, ao contrário do que diz o (ou a, sei lá) Riponga não querem encontrar Alá mais cedo, e sim voltar para o que foi seu lar”
    Tem certeza que os 4 milhões pensam isso? Não é o que muitos deles dizem. Eles ensinam suas crianças que é bom morrer explodindo judeus, e que isso é mais importante que as questões sociais, que os direitos; você está dizendo que isso é só pra impressionar, e que no fundo eles são pacifistas?

  5. Todos sabem que a Biblia é um livro de sangue. É a história
    de assassinatos cometidos por judeus em nome de Deus.
    Que êles se acham o povo eleito e sòmente êles merecem
    a terra prometida e por esta razão é que lutam pela
    terra
    que seu Deus teria prometido a êles. Que para êles esta
    guerra é santa, mas para os mulçumanos é terrorismo.
    Mas, contudo isto, não se justifica a matança feita
    pelos
    Nazistas. Aliás, os próprios judeus, agem hoje como
    os
    nazistas, mas, ainda assim, não se justifica. Um erro
    não pode justifdicar outro. o Sionismo é uma ideologia
    que há de ser combatida, mas não os judeus em si. Existem
    sim, judeus de boa fé. Estes, entretanto, são calados
    pela grande mídia sionista. Antes da criação do Estado
    Judeu os judeus viviam na Palestina em perfeita harmonia
    com os árabes palestinos. Existem judeus em todos os
    países árabes e vivem em perfeita harmonia. Logo, o
    mau
    não o homem judeu, mas a ideologia sionista. Abaixo,
    portanto, o Sionismo. El Carmo.

  6. Sinto muito, mas parece que seu post está cheio de generalismos. Tentar comparar as bombas atômicas com as ações do exército de Israel contra as guerrilhas é no mínimo gritante até para um observador leigo dos eventos. O mesmo para Hitler, pelo que eu li aqui vi muito de Maquiavel. Novamente sair comparanto contextos históricos isolados não dá frutos. Mas rende um bom sensacionalismo sim.

    É tudo muito engraçado como as pessoas pensam que existia um país chamado Palestina naquele território anteriormente. Qual era a moeda desse país? Já viu ele em alguma lista da ONU, ou olimpíada ou qualquer coisa do tipo? Tem certeza que havia um PAÍS ali?

    O termo Palestina foi dado à região por um imperador romano que queria apagar o nome Israel do mapa literalmente, por causa das guerras e da resistência dos judeus frente ao poder militar romano vigente. Logo, o território atual de Israel era nada menos uma parte do território do Líbano, Egito, e Jordânia.

    No acordo da ONU para a criação de um Estado Judeu, o território foi diminiundo diversas vezes, por reclamações dos países árabes (que não queriam um país de judeus perto deles).

    Enfim, não vou contar a história do Estado de Israel aqui. Há bons livros de história, faça um bom uso deles antes de atirar pedras a esmo sem entender o mínimo da situação, de como todas as guerras que Israel enfrentou começaram do lado Árabe, inclusive a dos Seis Dias, onde todos os países de fronteira tinham blindados e infantaria nas bordas (chama-se manobra militar), e Israel atacou primeiro para não ser cercado.

    Israel dá cidadania israelense para qualquer etnia e religião, há árabes trabalhando em Israel, e os árabes tem REPRESENTAÇÃO no parlamento israelense, o Knesset, pena não poder dizer o mesmo de países mui amigos como o Irã. Nunca é tarde para rever os seus conceitos.
    Abraços

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