Satyricon pós-moderno

E mais uma vez uns sujeitos no Japão combinaram pela internet um suicídio coletivo. Dessa vez, 7 bateram as botas.

(Reescrevi o parágrafo acima para não incluir a expressão idiotas. Suicídio é sempre um tema complicado. Com o agravante de, no Japão, ser um traço negativo da cultura do país.)

A idéia de um “flash suicide” não me interessa muito. Mas eu sou um homem de idéias.

Portanto, estou sugerindo aqui o primeiro flash suruba da história.

As pessoas usam a Internet para tantas coisas feias — suicídios, atentados terroristas, sessões de canibalismo –, por que não utilizá-la para algo genuinamente belo? Numa suruba se celebra a vida. E se essa afirmação parece uma forçação de barra, tudo bem, celebra-se a sacanagem. Ainda assim, é melhor cair na sacanagem que abotoar o paletó.

Está na hora da Internet servir para algo mais que simplesmente dar vazão ao que o ser humano tem de mais negativo.

A morte e a morte das alegrias que o Google me dava

O Guga já estava de saco cheio; mas não é por isso que as alegrias do Google estão morrendo.

Na madrugada de 2 de março, quando o Awstats faz seu relatório diário, a lista já estava em 622 buscas diferentes. O limite é de mil frases.

E dessas frases, virtualmente todas são a mesma repetição de sempre:

foto das meninas gostoza
fotos de penis pequeno
fotos de anorexia
diogo mainardi
resumo do livro a morte e a morte de quincas berro d agua
fotos de senhoras nuas
mulher fazendo sexo com cachorro
mulheres preferem penis grandes?
blogs com fotos de sacanagem
fotos de peitinhos
putas de aracaju
contos eroticos irma incesto
sexo com anãs

Eu olho para essas frases e vejo apenas as mesmas taras de todos os meses passados, sobre as quais eu já falei o que tinha que falar — e olha que de algumas tirei até o bagaço, como as piadinhas sobre pinto pequeno.

Então, as alegrias do Google estão morrendo. E a culpa é das pessoas que continuam vindo para cá com as mesmas frases doentes que usaram antes.

Podiam pelo menos ter umas taras mais criativas.

Candangos

Foi o homem-baile Ricardo Montero quem descobriu:

Netinho também defende a raça. No programa dele, elegeu a mais bela negra do Brasil, belíssima, diga-se de passagem. Mas tá na cara que ali não é a área dele, e essa frescura contida pode explicar esse caso típico de violência doméstica. Netinho é um doce lá, com as negas dele. Mas com a branca (que coisa mais previsível), é porrada mesmo.

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Antes de tudo, é preciso que se diga: Julia Roberts embarangou legal, pesado. Quando sorri, ainda mantém uma certa fleuma daquela puta de Pretty Woman, mas de boca fechada parece que engoliu um cadeado. Que porra é aquela? A mulher engoliu o limpa-trilho da Mad Maria! A menina novinha, a stripper, até que tenta mostrar o mexilhão, mas o diretor do filme cismou em colocar sempre um mané na frente. Filme cabeça não tem peito nem xavasca, normalmente porque o diretor é viado, mas isso não vem ao caso.

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Vai malhar uma moça no tapete da sala do apê? Prende a porra do cachorro. Todo mundo que tem cachorro em apartamento sabe dessa merda: na hora que o sujeito está metendo, o bicho vem ali fuçar. Ali no rabo, ali no mexilhão, que seja na planta do pé. Vou dizer, vou dizer. Uma lambida na planta do pé na hora da meteção é uma experiência desagradabilíssima. É um choque, um anti-clímax. Caralho do céu, pirocante em Vênus! O que é isso! O cabra ali, no auge da função, e me vem um puto de um cachorro, que deveria estar roendo osso na putaqueopariu, e lambe a pele tosca do pisante. Dá um nervo, dá um nervo da porra. Aí você lembra, “porra, deixei o cachorro solto”. E projeta em seguida: “esse merda vai vir lamber meu cu”.

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É derrota, foi minha vez de insistir. Tem que pegar os sinais. Por exemplo: a mulher começou a cantar a letra de “Can’t take my eyes of you” na cara do cabra, toda sorrisos, o peitinho encostando no braço estufado do ex-estivador. Eu sei, é foda acreditar que uma mulher, qualquer uma, prefira um brucutu a nós mesmos, os caras descolados que não gostam de musculação. Vá entender essas vagabas. Tomara que levem uma bifa no meio da função.

Brasília, Eu Vi

Meu ódio será tua herança

Normalmente gosto das traduções brasileiras para títulos de filmes.

A maioria se limita a traduções literais. Pretty Woman vira “Uma Linda Mulher”, Ladri di Bicicletti se torna “Ladrões de Bicicleta” e por aí vai. Esses não interessam.

É quando os tradutores liberam sua veia de escritores obrigados a ganhar a vida de forma pouco glamourosa que a tradução se transforma em arte.

O exemplo clássico é The Wild Bunch, que aqui virou “Meu Ódio Será Tua Herança”. Um título muito, mas muito melhor que o original anêmico. Era a época do western spaghetti e os tradutores estavam com aqueles títulos italianos maravilhosos na cabeça. Aliás, aquele era um celeiro de grandes títulos, escandalosos, escrachados, latinos. Os italianos certamente tinham noção do que era um europeu fazer um western, e pelo visto abordavam a coisa com um tom de paródia que fez muito bem ao gênero. O western spaghetti é uma drag queen.

(Isso só não explica por que The Good, The Bad and The Ugly virou o bobo “Três Homens Em Conflito”.)

Mas o trabalho dos tradutores é mais difícil que isso. Por exemplo, pegue-se Mr. Smith Goes To Washington. É o típico filme de Capra, o sonho americano mostrado através de sua antítese. O título original faz alusão à possibilidade de o homem comum ter voz no centro de poder dos Estados Unidos. E isso todo americano com um nível razoável de educação entende. Mas, como eu não canso de repetir, para um brasileiro mister Smith pode ir para Washington, para o Winsconsin ou para a puta que o pariu, tanto faz. Não dava para traduzir por “Seu Silva Vai Para o Catete”. E então se tem um título como “A Mulher Faz o Homem”, que ilumina um aspecto totalmente diferente do filme, quase transformando-o em um manifesto feminista.

Outra boa tradução é a de Midnight Cowboy. Bom título, certo — mas “Perdidos na Noite” é ainda melhor e traduz perfeitamente o espírito do filme. E High Noon? Enquanto o título original carrega no suspense que permeia o filme, o brasileiro — “Matar ou Correr” — define o dilema existencial de Gary Cooper. É difernete, mas igualmente brilhante.

A maioria dos títulos traduzidos tenta se adaptar à cultura local de sua época, dando a cor que os tradutores acham que o público espera. Rebel Without a Cause virou “Juventude Transviada” por isso, porque esses termos eram mais comuns no Brasil da época. Na mesma linha há “Os Brutos Também Amam”, versão sem nenhuma relação de Shane. Cá para nós, o filme sequer tem tanto amor assim; e a pessoa que mais ama é o garotinho, que nem de longe é bruto. Mas é preciso admitir que é um título muito melhor que o original.

Talvez o melhor exemplo de tradução que acrescenta ao filme seja “Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder. O título original, Sunset Boulevard, se refere à decadência do star system de Hollywood através da decadência de uma de suas ruas mais simbólicas. “Crepúsculo dos Deuses” absorveu essa idéia de degradação e de fim e foi além, dando uma idéia mais grandiosa do que aquele processo de decadência (que se repetiria mais tarde, naquela mesma década) significava.

Em comparação, a versão em espanhol se chamou El Ocaso de una Estrella. Tão pobre.

Mas os maus exemplos não se limitam à península. Unforgiven, aqui, virou “Os Imperdoáveis”. Com o perdão do trocadilho, imperdoável é isso. A tradução errada tira todo o significado do filme. Eastwood, Freeman e Hackman não são imperdoáveis, são imperdoados. Há uma diferença muito grande entre as duas palavras; o título brasileiro retira do filme toda a possibilidade de redenção a que eles almejam. Um se refere ao passado e o outro a uma situação imutável. Do mesmo modo, All About Eve ter virado “A Malvada” tira muito da idéia de biópsia de Anne Baxter. E A Streetcar Named Desire traduzido como “Uma Rua Chamada Pecado” é um crime contra Tennessee Williams. Até hoje me recuso a pronunciar esse nome.