Resumindo a Veja

Deve ter sido o espírito pascal, eu acho.

É a única explicação que eu encontro para ter comprado a Veja desta semana. Esse espírito de renascimento, de renovação.

Eu cresci numa época em que a Veja era imprescindível. Mas eu fiquei velho e a Veja ficou velha, e agora ela é apenas mais uma revista, uma entre muitas. Eu não costumo ler, e não sinto falta. Mas ontem, com Deus no meu coração e o coelhinho da páscoa me espiando, resolvi comprar a revista.

A primeira impressão que tive foi a de que ela está cada vez mais parecida com a Manchete. Fotos grandes, menos texto. Pode ser só impressão.

Depois vem a matéria sobre a chantagem severínica. Numa matéria superficial como a cobertura do Jornal Nacional, a revista aponta o erro petista que levou à eleição daquela coisa chamada Severino; mas não lembra que a responsabilidade maior é do PSDB e do PFL.

Uma matéria rapidinha sobre a palhaçada das FARC, para não perder de vez a credibilidade, e continua com uma matéria importantíssima sobre o peso do presidente.

Depois, uma matéria de auto-ajuda, “Idéias que paralisam”. Agora está explicada a capa da semana passada. E eu, este injusto, creditando aquilo ao velho e bom jabá de uma boa assessoria de relações públicas.

O resto é bobagem, é a pauta da semana. Mas para mim, que já vi essas notícias e análises na imprensa estrangeira e na blogosfera, muitas vezes ditas com mais inteligência, a revista se torna apenas redundante.

Aí vem a seção cultural.

A revista tece loas ao novo livro de poesias de Nelson Ascher. Nelson Ascher, para quem não sabe, é só um idiota, capaz de versinhos como “Direitos humanos já não perturbam /tirano algum, pois os slogans dos seus / guardiães agora são como o de Durban: / Abaixo o racismo e morte aos judeus”. Como não é demais repetir, Nelson Ascher é um idiota.

A coluna do Diogo Mainardi desta semana é um primor. Sem assunto, convencido e deslumbrado pela idéia grandiosa de que é o iconoclasta messiânico brasileiro por definição, agora ele diz que brasileiro não sabe fazer música, que o melhor que temos a fazer é macaquear a música estrangeira. O pior é que tem gente que vai engolir a provocação idiota.

E então chegamos ao que mais me impressiona.

O Roberto Pompeu de Toledo escreve na última página da Veja há uns 10 anos. Seu texto é elegantíssimo, seus raciocínios são excelentes. Seu último artigo é perfeito.

Mas o Pompeu de Toledo tem um defeito: ele é sensato. E eu aposto com quem quiser que ninguém vai escrever uma linha sequer sobre ele. Vão preferir falar sobre o Diogo Mainardi, que escreveu algo em que sequer acredita.

Pensando bem, não foi o espírito pascal que me fez comprar a Veja. Foi o espírito da Sexta-Feira da Paixão. Aquela coisa de expiação, pagamento de pecados, sabe como é.

14 thoughts on “Resumindo a Veja

  1. Só um detalhe com relação ao Ascher: se eu não me engano ele é judeu e insuportavelmente sionista e pró-Israel.

    http://www.israel3.com/article82.html

    De qualquer forma, acho ele um dos piores colunistas da impresa brasileira. Tendencioso e absurdamente burocrático. É um Olavo de Carvalho de leitura mais chata e sem espaço para piada.

    Um dos seus livros, mesmo não tendo sido lançado há muito tempo, é encontrado em saldões de São Paulo por dez reais. É o presente ideal para amigo secreto se você tirar algum desafeto.

    De qualquer forma, o texto sobre a Veja é perfeito. 😉

  2. A culpa da ascensão severínica ao terceiro posto da República é do PSDB e do PFL? Só pode ser piada…

    Piada pronta pro Homem-chavão, malhar a Veja é um dos maiores lugares comuns…

  3. Parei de ler a Veja lá vai anos… de vez em quando passo o olho numa espera de dentista, médico, etc… fútil, fútil… como sempre vejo as Vejas antigas é mais fácil de constatar a futilidade e superficialidade… não sobra nada… esse Diogo Mainardi então.. qdo me mandam por email algum texto dele sinto o prazer de deletar sem ler.. é muito fraco.. arrogante… e o pior: motivado..já dizia um politico brasileiro (por sinal muito ladrão): nada pior que um idiota motivado!!!
    abraços…

  4. Meu pai assinava a VEJA e um dia ele se tocou que tudo o que ele via na semana anterior no Jornal Nacional (naquela época não havia internet e não haviam tantos telejornais como hoje em dia) ele relia na VEJA, então cancelou a assinatura.
    Sim, a VEJA está mais figura/menos texto. Se você reparar, eles estão querendo imitar a ÉPOCA, sua principal concorrente, que tem muito menos conteúdo e muito mais fotos.
    Essa informação é privilegiada pois tenho uma tia que trabalha na redação da veja hehehehehehe

  5. Ô Donizetti, quis apenas dizer que é chover no molhado. Pô, até a turma do hidrófobo-mor, o homem que ninguém ousa citar, vive descendo o sarrafo na Veja. Pra mim, trata-se apenas de mais um semanário dirigido ao grande público e por isso mesmo tem a profundidade de um pires. O problema é que tem gente que lê essas revistas (Veja, Época, Istoé, Carta Capital, Caros Umbigos…) e acha que delas pode extrair análises densas sobre o quer que seja. Quer se informar de fato? Aos livros, então! Ou navegue, mas navegue muito, na grande rede…

  6. Rafa, aos números:

    Composição da Cãmara: PT – 90, PMDB – 88, PP – 51, PL/PSL – 49, PTB – 48, PPS – 17, PSB – 16, PDT – 14, PC do B – 9, PV – 6, PRONA – 2, PSC – 1, S/partido – 7, PFL – 62 e PSDB – 52.
    Resumindo: Base aliada 377 (73%) e Oposição 126

    1º Turno: Greenhalgh – 207 votos (170 a menos do que o total da base aliada), Severino – 124 e Virgílio – 117.

    2º Turno: Greenhalgh – 195 (182 a menos do que o total da base aliada) e Severino 300.

    Será mesmo que a culpa PRINCIPAL foi do pefelê e do pêéssidêbê?

  7. Merda, preciso divulgar a minha noveleta com pretensões de roman noir, da qual o Ascher é uma das voláteis personagens. Já está no capítulo VII, e tem o título de “Vigoroso Trabalho de Esfíncter”. No Capítulo VII Ascher encerra a sua participação na narrativa, mas não a noveleta, que ainda permeneço não sabendo como e quando irá findar. Vejam os outros capítulos.

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