Pô Rafael, olha a injustiça que você está cometendo. Howard Hawks dirigiu “Jejum de Amor”, “O Inventor da Mocidade”, “Scarface”, “À Beira do Abismo”, “Rio Vermelho”, “Hatari”… Hawks É brilhante, sim, e jamais poderia ser equiparado ao Burton, que fez o belo “Edward Mãos-de-Tesoura”, mas depois alinhavou uma série de equívocos, como os dois Batmans, a refilmagem canhestra de “Planeta dos Macacos”, “Marte Ataca” e o supervalorizado “Peixe Grande”.
Quanto aos filmes japoneses da lista, vai por mim. Se você botou fé na minha recomendação das histórias de Don Rosa, bote mais fé ainda no que vou lhe dizer: alugue, o quanto antes, os desenhos de Hayao Miyazaki. Todos, sem exceção, são de uma beleza simplesmente embasbacante, com roteiros que fazem a gente ter inveja de tanto poder imaginativo: “A Viagem de Chihiro” (não à toa foi o primeiro desenho animado a ganhar Urso de Ouro em Berlim), “A Princesa Mononoke” (cujos diálogos foram traduzidos nos EUA por Neil Gaiman), “Meu Amigo Totoro”. Você pode ter certeza: se todos eles emplacaram o top 250 do IMDB, não foi só por causa dos japoneses – Miyazaki é admirado no mundo inteiro.
Quanto a Howard Hawks, o Ina tem toda a razão. Na verdade, foi um exemplo crasso de texto mal escrito. Misturei em uma frase só alhos e bugalhos. A idéia original era dizer que Burton era tão superestimado quanto Hawks era genial; e acabei escrevendo uma grande besteira confusa. Hawks é um dos meus diretores preferidos, embora eu não ache “Hatari!” grandes coisas e considere “O Inventor da Mocidade” bobinho. Mas Scarface é genial, e “À Beira do Abismo” e “Rio Vermelho” estão entre os meus filmes preferidos.
Eu não vejo graça em Burton; para mim lhe falta consistência — e por favor, ele destruiu o Batman, que foi transformado em uma mistura de Robocop com Jack Torrance. Vi “O Planeta dos Macacos” há pouco tempo, na TV; não tive coragem de assistir no cinema. Achava que ia ser uma tragédia total, mas ele tem pontos positivos: achei excelente a transformação da sociedade símia em uma mistura de república romana e III Reich. Mas ele consegue fazer só besteira a partir daí.
Como eu devo ao Ina a descoberta da maravilha que é o Don Rosa (e o seu próprio blog), vou dar um jeito de ver os filmes que ele recomendou. Mas tem um problema: eu não gosto da estética dos mangás. De qualquer forma, vou dar uma conferida, assim que puder. Nem que seja para falar mal depois.
Tim Burton é um dos diretores mais visuais de Hollywood, se quer apenas uma única razão para admirá-lo eu dou: estilo visual. Ele bebe numa fonte esquecida há décadas, o expressionismo alemão, brincando com elementos visuais desses filmes e reutilizando-os nos seus filmes. O mérito dele é o visual e a atmosfera que cria. É o único diretor em Hollywood que faz contos-de-fadas adulto; é o único diretor que mantém consistência visual em todos os seus filmes. É basicamente por essa razão que ele é considerado tão importante. Não é pouco.