Da superioridade filosófica dos baianos

Todo dia eu acompanho o blog da Lucia Malla. Dia desses li a entrevista que ela fez com o montanhista Waldemar Niclevicz, brasileiro que chegou ao cume do Everest.

Eu acho lindo que as pessoas façam isso. Não chego a vibrar como a Lu por cada alpinista que chega ao cume de alguma coisa, por cada sujeito que vence suas próprias limitações e chega ao teto do mundo. Mas reconheço a vitória humana nessas conquistas.

O problema é que apesar disso eu e a Lu temos sérias divergências filosóficas. Que podem ser exemplificadas em uma constatação muito simples.

Ninguém jamais ouviu falar de um baiano que tenha escalado o Everest.

Porque o Everest é a antítese da baianidade. O que a gente iria fazer ali? A idéia nos é inconcebível. Um lugar com sol, mas com um vento tão desgraçado que não dá para aproveitar. Um pedregulho sem praia. Um frio daqueles que lhe corta os ossos e arranca seus dedos. É um frio que arrebenta seus lábios, e nós baianos achamos que lábios devem estar sempre prontos para beijar.

A gente gosta é de brisa, não de ventos de 150 km/h. E por que subir aquele morro, se seria impossível plantar ali dois coqueiros para armar uma rede e tomar água de coco?

Um demente respondeu, quando lhe perguntaram por que escalar o Everest: “Porque ele está lá”. Sir George Mallory, claro, não era baiano. Era inglês e tinha aquela fleuma esnobe meio destacada da realidade prática. Porque, se Sir Mallory fosse baiano, responderia: “Então deixe o bichinho em paz, que ele não tá incomodando ninguém…”

Mas, como eu disse, Sir Mallory não era baiano, e se fosse não seria sir nem Mallory; seria Jorginho, filho de Oxóssi e chegado nas delícias, nos meneios e nos cafunés de uma cabo verde; e saberia que tudo isso é tão efêmero quanto subir um morro anabolizado, mas há efêmeros e efêmeros, e o efêmero do esforço sem sentido não é tão bom quanto o efêmero das coisas boas da vida.

7 thoughts on “Da superioridade filosófica dos baianos

  1. Sei não, mas acho que um alpinista forte e persistente o bastante para chegar ao cume do Everest deve ser um amante maravilhoso. O lábio sara rapidinho.

  2. Eu juro que tinha comentado esse post… Será que sumiu ou eu bebi demais? rsss. Bem, agora nãosei masi o que era…

  3. Hahaha O texto ficou ótimo. “Pedregulho sem praia”… hehehe

    Bom, sei lá o que um gaúcho faria por lá… subiria e feliz da vida, acho. Ainda mais se alguém dissesse que ele tava com medo de subir. Então, talvez contrariando a gente daqui, pra mim, escalar o Everest um troço sem o mínimo sentido. Tem tanto limite mais interessante para ficar superando. Enfim…

    Abraço tchê! 🙂

  4. Deu no Globo: pesquisa do projeto sexualidade do Instituto de Pediatria da Universidade de São Paulo afirma que o homem baiano é o que tem melhor desempenho sexual entre os brasileiros.

  5. eu tinha uma vaga sensaçao de ter nascido no paraná errado… descobri: sou baiana!!! o meu rei, to me mudando de volta pra casa…

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