Poucas vezes fiquei tão orgulhoso de um comentário deixado neste blog.
O Neil Ferreira é um dos meus ídolos. É, na minha opinião, talvez o maior redator publicitário que este país já viu. O Neil criou campanhas memoráveis, daquelas que as pessoas ainda lembram, mesmo sem saber que foi ele. O baixinho da Kaiser, por exemplo. Ler um anúncio seu é uma aula para qualquer redator, mas é principalmente uma prova de que uma atividade primária como é a propaganda pode dar ao mundo textos de altíssima qualidade.
Por tudo isso, eu tinha escrito, há algum tempo, que sentia falta de uma “Síndrome de Neil Ferreira” na publicidade atual (ia escrever moderna, mas podia parecer deboche). Falta de redatores que tenham prazer em escrever e gostem de um texto leve, sedutor, convincente; que traduzam com talento e graça um bom raciocínio de marketing. Que criem grandes campanhas, e não apenas anunciozinhos bonitinhos, quando muito. Eu sinto falta de campanhas brilhantes e, principalmente, memoráveis. O que provavelmente quer dizer que sinto falta de redatores que tenham orgulho em saber que a peça que criou está sendo elogiada por gente que ele não conhece.
Semana passada o Neil Ferreira deixou um comentário no blog que transcrevo aqui:
Um amigo leu seu comentário a meu respeito e deu seu endereço. Agradeço. Gosto de ler e de escrever quando tenho o que dizer. Sou fascinado pelas palavras. Sou um feliz free lance que conquistou o direito de escolher os clientes. Não trabalho com quem não sinta prazer de trabalhar comigo. Trabalho é como uma refeição, precisa ter “sustença”, mas precisa também dar prazer a quem o faz e a quem paga por ele. Assim está quase garantido o prazer do público alvo. Pelo que tenho visto na tv, não acho que os publicitários sintam-se felizes com o que estão fazendo. Não quero estar na pele de quem escreveu “Beba Fanta e fique bamboosha”. Nem de quem escreveu “Kuat sem nhé nhé nhé”. Mas como estamos no país que deu 60% de votos para o lulla, talvez eles estejam certos e eu errado. Sinceramente, neil ferreira
É bom saber que um ídolo seu leu o que você escreveu. E fico ainda mais orgulhoso por uma coincidência. Já faz algum tempo que penso em escrever um post sobre essas campanhas de refrigerantes — bamboocha, schrubbles, nhé nhé. São de uma estupidez alarmante. Escritos (ou traduzidos) por gente que não pensa. Eu não tomo mais Fanta porque tenho medo de ficar como eles dizem: bembrocha. São uma prova de que o mercado publicitário passa por uma fase de decadência horrorosa — uma fase que, aoi que tudo indica, está longe de passar.
E nessas horas eu viro tiete, mesmo. Fico até com vergonha de dizer que eu fui um dos 60% de brasileiros que votaram em Lula, e que devo ter ajudado a conseguir alguns milhares de votos em Sergipe para o sujeito.
Agora é esperar o Paul McCartney deixar um comentário aqui, e então eu fecho o blog, porque não haverá mais para onde ir.
Um amigo meu me passou este blog. Fico feliz que pessoas lembrem de mim como um ídolo e não como alguem que, puff, bate em mulher? dá pra acreditar que tem gente que acha que bater em mulher é errado? Ah, mas como estamos num mundo que, em regra, condena as ditaduras de direita, talvez eles estejam certos e eu errado. Sinceramente, Paul.
dear galvão, i read your blog frequently. now you can close this.
goodbye and…
‘rubber soul’ is the best album of the beatles.
Mas Rafael, é bobagem se preocupar com bamboocha e ver a semelhança disso com “bem brocha”. Na verdade, a maioria das pessoas c*g* e anda para mensagens publicitárias. No máximo elas olham, não entendem e continuam tomando.
Mas, de fato, os conteúdos publicitários atualmente estão bem ruins. Mas um conselho: se v. quiser propagandas pavorosas, basta digitar no YouTube: “piores comerciais”. O frango da Estônia e o sorvete da Suécia são piores que qualquer umas dessas propagandas citadas.
Eu não votei no Lulla, mas não recrimino quem o fez – muitos deles votaram no Collor também. O povo não é soberano? Só não adianta reclamar depois.
Parabens pelo blog, Rafael. “As alegrias que o Google me dá” são a coisa mais divertida! Continue assim.
certo mesmo …
o melhor comercial de refrigerante q nunca fizeram foi o do cara que toma uma coca geladássa (estalando), olha pra câmera, arrota barulhosamente (rs), e vem o mote: “coca-cola é isso aí!” …
comerciais e propaganda são uma delícia, tal como os da brastemp, etc, só para citar mero exemplo …
esses de refrigerante q vc citou só perdem praqueles da seven boys antigos, que até eu, que era criança , tinha vergonha (reflexa) de assistir …
rs
realmente tá difícil
Também acho que grande parte das campanhas apela pela idiotice, mas ainda dá pra pensar na publicidade brasileira como algo muito, muito bom.
Na época que eu acompanhava os Clios, o que se dizia é que era uma das melhores do mundo, eu costumava acreditar nisso. Acho que ainda acredito.
Parabéns pelo leitor, ainda que não seja um eleitor interessante.
Não sou o MacCartney, mas quero dizer que um comentário inteligente é o combustível que nos faz seguir pilotando nosso blog. Principalmente se partindo de alguém que admiramos.
gd ab
Então, tambem não sou o tio mac, mas sou sua leitora assídua e devo dizer que estou orgulhosa com você! Parabéns !!! Ser elogiado por quem admiramos é como afago de mãe.. freud explica, mas é daquelas sensações maravilhosas e inexplicáveis…viva o poder da web!!
A concordância é tranquilizante… Uma vez disse que Clarice era literatura das mais fantásticas que poderia conhecer, mas a danada me dava uma canseira. Alguém concordou comigo em meio a horda de pessoas que me vaiou. (Clarice não pode ser criticada, nem quando a crítica é deficiência daquele a lê) Foi bom. Por mais que busque um pensamento e articulação focado e bem fundamentado, âs vezes se cai num pseudo solipsismo – já que a mairoria das pessoas somente reproduz o que vêem por aí e você vira imbecil por descordar de uma mairoria. O que não significa que ora não me ache um imbecil… mas um pouco menos, afinal um imbecil que reconhece a si mesmo. Nisso conheço um monte que concorda comigo – hehe
Fico esperando novas concordâncias comigo por enquanto.
abraço
“fique baboocha”, “o unico com schrubbles”, parece q esses refris estão tão sem argumentos pra convencer o consumidor que precisam apelar pra alguma babaquice indefinivel e com um nome sonoro. Encheu o saco e já ficou manjado. E o Schrubbles ainda é plágio da Transamérica FM ou da Jovem Pan, não lembro qual, que surgiu com essa parada de sBRubbles fazendo uma campanha-teaser onde o grande mote era criar curiosidade em cima disso…
e não sei se piora a decepção ou se consola, mas o “bamboocha” é claramente uma campanha gringa traduzida.
Sempre fui fã do Neil. Eu o conheci por volta de 1985, quando ele ainda estava na DPZ.
Também sinto saudade da boa propraganda. Época em que uma agência baiana pequenininha era capaz de ganhar um Leão de Ouro em Cannes (refiro-me a um comercial criado por Almir Fonseca e Carlos Verçosa para a Telebahia).
Acho que o medo de errar engessou a propaganda.
cadê o comentário do macca? foi banido?
Olha, se no lugar do Paul servir um clone do John, me avisa que eu falo pro Bia Jones quebrar teu galho! Abs!
Tá vendo… seu ídolo dando uma lição de civilidade pra você… 🙂
Então você é Team McCartney?
Ele poderia ter evitado as considerações finais. Para alguém a quem é atribuída excelência na composição de textos a conclusão é leviana, se não infantil e sintomática.
O que nos leva a pensar que é cada vez mais largo o espaço entre ética e técnica.
Eu sei como se sente em receber esse comentário. Eu também ficaria feliz em receber comentários de pessoas que admiro, e ter a confirmação que elas realmente leram o que escrevi. Indireta mais que direta! (rs*)
A pior propaganda veiculada no momento, é uma tal que fala “eu não sou um Zé Ruela” ridícula, viu??
Beijus
não é pra ser chato, mas faz uns dias que li o post e tentei, tentei, mas não consegui lembrar que diabo de baixinho da kaiser é esse. deve ter sido no tempo que eu não via tv nem se me pagassem…
Deve ter sido mais ou menos como quando você deixou um comentário lá em casa.
Eu fiquei muuuuuuuuuuito feliz quando você deixou um comment no meu blog. Muito feliz de verdade, pq acho que você tem força e poder nas palavras. Precisei deletar o blog por problemas pessoais, mas confesso que adorava ser lida por algumas pessoas, uma delas era você. Sou uma publicitariazinha de meia pataca (ainda) e hoje sei o que significa meia pataca. Mas quem sabe eu não consiga vencer na profissão…enquanto isso me delicio no seu blog, no do Alex e no do Bia…adoro vocês…hehehe…olha eu tietando!
Essas campanhas publicitárias, particularmente as de refrigerantes e cervejas, são mesmo muito “retards”. Todas! Não escapa uma.
E por falar nisso, fiz um artigo outro dia estilo “protesto, mas com conselho” justamente a respeito do texto publicitário. Mesmo sem muita pretensão ele até saiu – para minha surpresa – em dois veículos, um impresso:
http://www.kntz.com.br/image/textopublicitario.pdf
e outro digital:
http://acontecendoaqui.com.br/at_311.php
Na pele de redator, nos últimos tempos, tenho feito mais roteiros para vídeos empresariais e planos de comunicação que propriamente anúncios. Minha teoria é que o tempo para a leitura se reduziu com o aumento da quantidade de informação distribuída. As pessoas ainda gostam de ler, e lêem muito, mas se habituaram ao fast-food da comunicação em geral. A publicidade foi envolvida nisso, virou “commodity ad hoc” e deixou de ser o recanto onde escritores e jornalistas naturais passavam parte de suas carreiras. Hoje as agências precisam apenas de “criativos” com baixos salários (ex-estagiários), normalmente associados àqueles que se viram nos trinta e sabem mexer com programas gráficos, que escrevem tão mal quanto se vestem e precisam de revisores (geralmente estagiários que gostariam de ser redatores). Fazer o que para melhorar o status quo da redação publicitária? Escrever um texto para consertar o mundo? Difícil, pois nem a Bíblia ou o Corão conseguiram isso ainda. Enfim, o mais chato é que a história ensina que os períodos clássicos são substituídos por períodos escatológicos. Só que cultura não deixou de ser ruptura. Cada vez mais eu acho que os redatores publicitários de outrora precisam se tornar os escritores do amanhã. E fazer pela humanidade o que fariam pelo seu melhor cliente, começando por eles mesmos. Precisamos de um Oliviero Toscani redator, já pensou nisso?