Situação crítica, porém jeitosa

O Homem-Baile saiu da pista de dança.

O Ricardo Montero resolveu dar um basta, talvez temporário, a um dos blogs mais antigos que leio. Preferiu se dedicar ao Vidas e Imagens, um dos mais interessantes blogs nacionais. E saiu explicando, também, os motivos de seu enjôo com a blogoseira atual.

Em grande parte do que diz, o Ricardo está certo. A maioria dos blogs é ruim. Indo mais além, mesmo a maioria dos posts de bons blogs é ruim. A esmagadora maioria do jornalismo que se faz na blogoseira é de segunda mão, no mais das vezes filtragem e comentários sobre o que outra pessoa apurou. A maior parte dos textos é mal escrita. A maior parte da ficção é medíocre. A maior parte da poesia envergonharia Camões. A gente sabe disso. Todo mundo sabe disso. Se não se fala muito sobre o assunto — além de generalizações como as feitas acima, que não ofendem diretamente ninguém que não seja dono de um grande complexo de inferioridade — nem se dá nomes aos bois é porque, além de uma questão de educação e de prudência, a blogoseira funciona como um sistema de trocas, em que a formação de uma rede de influência é fundamental para que se defina um lugar num ranking imaginário para cada um. Ou seja: eu comento no seu blog, você comenta no meu, passamos a achar nossos respectivos blogs maravilhosos e por aí vai. Que ninguém se iluda: qualquer blog mais ou menos respeitado é o resultado de algum nível de engenharia social.

Portanto, tudo o que o Ricardo escreveu em sua despedida está essencialmente correto. Mas mesmo correto, é parcial.

Porque há o lado bom. Mesmo reconhecendo tudo isso que foi dito acima, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer parte de qualquer panela ou esquema de engenharia social. E isso é possível graças à grande qualidade da blogoseira: a diversidade. Mesmo a mais abrangente das listas acaba encampando apenas uma parte ínfima do que é publicado diariamente na internet. Tem muito mais aí fora para se ler.

O Interney Blogs, sob esse aspecto, é importante — por mais que a auto-promoção e o que identificam como “panelinha” possam incomodar. Eu, pelo menos, acho o IB uma grande iniciativa, extremamente louvável ao buscar o que muitos blogueiros gostariam de ter mas evitam confessar para não parecerem totais fracassados: a possibilidade de ganhar a vida escrevendo o que bem entendem, só isso. Se o IB vai ter sucesso ou não, não importa tanto assim. Assim como no resto da blogoseira, tem blogs bons e ruins. Mas a tentativa é valiosa, e o fato de terem um plano de negócios só pode ser bem vindo.

O mais importante, mesmo, é a diversidade. Se de um lado você tem um empreendimento claramente comercial como o Interney, com todos os defeitos que possa ter — como por exemplo a poluição visual, a perda de independência possível em alguns casos — e as muitas qualidades do projeto, tem também projetos de caráter diverso como o Verbeat ou o Apostos, e até mesmo os lordes botocudos do Wunderblogs. Sem falar na imensidão de blogs isolados, que não passam de meios de expressão de seus autores e que podem ser muito interessantes.

Tem, por exemplo, o Hermenauta mordendo os calcanhares do Reinaldo Azevedo, o chiahuahua da direita brasileira. É o tipo de coisa que só a internet possibilita: o contraponto, a diversidade de opiniões, o confronto de idéias (e por isso o seu é um dos melhores blogs do país, com o jeito canalha do Hermê de encher o saco daqueles de quem não gosta. Como diriam em Salvador, o Adriano é muito “nigrinha”).

No fim das contas, it’s only rock and roll. E eu, que não costumo comentar em blogs, que não faço questão de ganhar dinheiro além dos caraminguás que o Google AdSense pinga na minha conta para pagar a hospedagem e garantir uns livrinhos na Amazon, que me esforço muito para ser simpático e demonstrar ao mundo toda a doçura que mamãe me deu, que sou baiano e acho tudo divino maravilhoso, quero mais é ver o oco.

12 thoughts on “Situação crítica, porém jeitosa

  1. é mais ou menos o que eu penso, diante da discussão sobre o atual estado da blogosfera. há espaço para iniciativas de todo caráter – e está no preceito: blog é suporte. não conteúdo. os conectores sociais podem impulsionar esferas particulares e passar em branco noutras, sem que ninguém perca no processo.

    quanto à qualidade, é simplesmente uma questão de escala. ascensão social e ‘fortuna’ firmam-se, também, motivações para blogar, além do hobby.

    de resto, inquietudes na blogosfera. salutar 🙂

  2. É por isso que eu tenho saudades da época em que isso aqui era uma putaria despretensiosa. Em que o importante era só ser divertido, quando ainda não havia todo essa papo sobre ‘como blogs são uma nova mídia’ e toda essa bobagem estúpida dita por jornalistas de terceira categoria, que passaram a ver nos blogs a chance de conseguir colunas que não terão nunca em veículos de comunicação mais difundidos.

    Qualquer um que entre nessa onda querendo produzir ‘material de qualidade’, seja lá o que for isso, corre o sério risco de desenvolver uma úlcera em pouco tempo.

    Ter um blog já atesta que o tal ‘material de qualidade’ produzido pelo cidadão em questão não tem tanta qualidade assim. E é um porre ver gente incapaz de encarar essa obviedade ululante.

  3. Veja só que coincidência. Pois hoje mesmo falei de um post do Mundus Minor com preocupações semelhantes às do Montero.

    Hummmm…..

    (no mais, obrigado pela menção, você também é lindo) 🙂

  4. Foi um chiste, Rafa. Não leve as coisas tão a sério.

    Como diria Alex Castro, isso não é um debate. É apenas sua opinião e minha ironia. Mas, ora, eu preciso ficar explicando ironias?

    Afinal, é apenas um post.

  5. Bom, adoro seu blog, adoro seus textos. Além da evidente qualidade, sempre acho que tem tema pra divã. Se eu fosse terapeura, faria a festa. Mas como sou terapeuta de botequim…só pergunto:

    1) lógico que todos usam estratégias pra ser lidos, uai…quem não quer ser lido, guarda o texto na gaveta.Nenão?

    2) chutar a bunda de todo mundo e bancar do “fodo todo mundo merrrrrmo” tb não é estratégia? barraco sempre vendo,ô se vende….;0)
    é uma inteligente
    ( e eficiente) “engenharia social”.

    3) vc não faz questão de ganhar dinheiro mas apela pros caraminguás? porra…eu quero ganhar dinheiro com blog, mas se a única opção for essa, tÕ fora. Mas isso não significa nada, sãop opções..só isso.;0)

    4) eu comno blogueira semi virgem ( kkkk..um ano dá pra ser semi virgem, vai…) acho super engraçado quando outros blogueiros, mais veios de guerra, dizem coisas como ” eu não comento praticamente nunca”. Po, não comenta e pronto, não precisa berrar.
    Parece aluno nerd mque tira dez e grita na sala de aula “naõ estudei naaaaaaaaada, não estudei..”;

    Tudo bem, eu ainda te amo.
    ehhehe.

  6. Entre a crítica do Monteiro e a sua opinião, fico com a pouca imparcialidade da sua parte.

    Sobre blogs bons e ruins: Tenho a impressão que a maioria dos blogs nascem com a pretensão de serem apenas uma extensão do comportamento e/ ou pensamento de seus autores.

    Blogs de notícia: Também não gosto de blogs que querem ser noticiário… Mas ainda tem seu lado bom, pois mesmo sendo mal escritos estão dando algum tipo de informação.

    Os de Ficção: Pode apenas ser os devaneios e anseios de pessoas um pouco mal compreendidas…

    Os de poesias ruins: talvez os autores estejam aprendendo.

    Sobre engenharia social: fico com a opinião do Viven postada hoje. Além do mais dificilmente uma pessoa vai comentar em um blog que não seja um pouco dela. Por tanto há a possibilidade de ela estar apenas querendo trocar pensamentos.

    Ah, quanto ao meu blog: Não tenho pretensão de que ele seja bom, nem mesmo gostava de blog até o mês passado. Eu o uso como um exercício emocional… Estou aprendendo a dizer para ninguém o que eu sinto, pois não faço isso, mesmo com os diversos amigos que tenho.

  7. Cada blog tem um estilo, alguns são inteligentes, outros não. Concordo que a maioria dos textos, mesmo dos “bons blogs” (tão pessoal isso…) é ruim.
    Depende do objetivo da pessoa qdo faz um blog. O meu, eu volta e meia fico com raiva do texto, e apago, sem dó, dias depois de ter escrito, pois a maioria das coisas que escrevo é idiota mesmo. Mas o que observo é que tem gente que ama o blog como se fosse algo, sei lá, algo muito precioso. Nos blogs todo mundo parece ser o fodão (ou fodona) e acho que esse é o motivo principal do sucesso dos blogs. A pesoa tem um mundinho só dela, onde ela pode dizer qq coisa, dar opiniões que muitas vezes parecem lições de vida (coisas que às vezes a pessoa não falaria, ou faria, mas escreve), dizer “verdades” que ela sempre quis dizer na “real life” mas não teve coragem. Meu blog é bebê (fiz em agosto), já excluí duas vezes, e tem dias nos quais preciso muito escrever. Certeza que a maioria dos (poucos) blogs que leio seria incluído em alguma lista de “blogs ruins”. Mas eu gosto de cada um por motivos diferentes, alguns são tipo diário mesmo, outros tem variedades, outros eu leio pelo motivo principal: eu tenho simpatia pela pessoa que escreve, identifico-me com algum traço da pessoa (seja uma experi~encia, o jeito de escrever ou o assunto de um post) então tô me lixando se o texto é bom ou não, eu vou todo dia mesmo.

    Não leio mais que dez blogs, no total. E só para constar, Mr. Rafael, seu blog é um dos primeiros que li, já faz uns três anos. E a-d-o-r-o.
    Identifico-me com o jeito ranzinza do autor, ahah. 😉
    bjo

  8. continuando…
    É claro que se vc quer ganhar dindim com o blog, tem que abrir mão de algumas coisas, como a liberdade total para escrever coisas idiotas.Mas é uma opção, né? Acho válida qq forma lícita de ganhar dinheiro.
    E adoro o “Pensar Enlouquece”.
    bjos

  9. to com a cris e não abro
    e dai q é ruim
    é e é, pronto
    mas tem bons tbm, e os que sempre leio, geralmente me agrandam, como o teu, o do bia, do alex, do cardoso … e se eu vou em algum outro mais, é só pra fuçar tbm, q eu não tenho saco mesmo
    de resto o teu é bom, apesar de vc (as vezes) não achar
    bjo na bunda paraíba

  10. Rafa, eu tenho um blog que apenas 20 pessoas – no máximo – conseguem ler. É um blog fútil, que fala exclusivamente da minha vida, das minhas opiniões e experiências. Ele não está no ar pq essas 20 pessoas gostam dele. Ele não está no ar pq a blogsfera é boa ou ruim. Ele está no ar pq eu quero. Pq eu preciso escrever em algum lugar e com sorte tenho essa audiência. Eu não conseguiria ganhar dinheiro com o que escrevo. Eu tenho erros inadmissíveis para uma publicitária. Ele não tem nada de inteligente. Ele não acrescenta em nada para ninguém. É um modo de alguns saberem o que se passa comigo e não precisarem me ligar. Só. Se a blogsfera é boa, se é ruim, se comentam ou não, se gostam ou não…nada disso é motivo para coloca-lo ou não no ar. O motivo é minha vontade de escrever e ponto final. De tudo isso a única coisa boa é que talvez o Vidas e Imagens – o quarto blog que mais gosto de ler – vai ter mais posts. Só. O resto como diz o Bia: é GUEIZICE.

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