Um tempão atrás publiquei a resposta que dei a um sujeito que me mandou um e-mail cobrando de um dos meus tantos homônimos o aluguel de um imóvel em Copacabana. Esse doppelganger caloteiro vive atrasando o aluguel. E por alguma razão seu locador acha que o meu e-mail é o dele.
A resposta, no entanto, não sensibilizou o sujeito. Ele continua mandando e-mails para mim, me cobrando algo que não devo. Deve ser mau corretor, porque sequer sabe o e-mail correto de seu cliente. Por isso escrevi um novo e-mail para ele na esperança de que esse senhor finalmente entenda que está mandando e-mails para a pessoa errada.
Seu Gusmão,
Olha, eu venho evitando falar isso faz tempo: mas o senhor é muito chato.
O senhor sabe que estou passando por uma fase delicada na vida. Perdi o emprego, perdi a mulher, as coisas começaram a dar errado para mim de repente. E mesmo assim o senhor vive me mandando esses e-mails de cobrança.
Eu estou me esforçando, de maneiras que o senhor nem imagina. Mas mesmo assim, mesmo sublocando o apartamento para uma amiga que trabalhava na Help e agora recebe seus clientes aqui em casa, nem sempre é possível pagar o aluguel em dia.
O senhor quer mesmo saber por que eu atraso?
Eu lhe disse que tinha perdido o emprego, o senhor lembra? Não me foi possível arranjar uma colocação à altura da anterior. Inicialmente fui ser piloto de provas numa fábrica de supositórios. Não é o melhor emprego que há por aí, e isso me deixava com uma certa má vontade em relação ao mundo, mas serve para o senhor entender o que estou disposto a fazer para lhe pagar os aluguéis que lhe devo.
Infelizmente fui demitido por causa do meu hábito de beber. Então agora eu faço vida.
É, seu Gusmão. VI-DA. V-I-VI-D-A-DA — vida. Tudo isso para pagar o aluguel que o senhor me cobra.
Olha, seu Gusmão, é uma vida dura, sabe? Mas até que compensa. Alguns clientes são delicados, tratam bem a gente, levam até para jantar no Giraffa’s da Barata Ribeiro.
Mas claro que nem todo dia é bom, porque a crise, o senhor sabe, está chegando até nós. O dinheiro é difícil. Tem dias — e eu não falo isso apenas para conquistar a sua simpatia — que a gente sai só pelo sanduíche do Cervantes com Fanta.
Certo, eu atraso de vez em quando. Mas eu pago essa merda, não pago? Cá entre nós, não é sequer um grande apartamento esse que alugo do senhor. Mesmo assim, todo mês o senhor me manda uma cobrança que nós dois sabemos ser desnecessária. Eu vou pagar. Eu sempre pago, não importa que para isso eu tenha que sair com 20 numa noite só.
Eu só peço ao senhor um pouco de compreensão.
Portanto, o senhor tem duas alternativas. Ou para de me mandar essas cobranças, ou então me arranja uns clientes assim, tipo cheios da grana, para que eu possa pagar tudo em dia.
Este seu criado,
Rafael Galvão
***
Mas seu Gustmão não desistiu de receber o seu dinheiro: Seu Gusmão, mais uma vez.
Cuidado, Rafael! Este senhor é bem capaz de lhe fazer uma visita!
sensacional! essa está no mesmo nível do esquema nigeriano!
Cara chato, sô! Nada que um guascaço bem dado nas paletas não resolva… Mas báh!