Você já notou que acabaram aqueles “livros da moda”?
Eu tenho uma lista deles. “Rumo à Estação Finlândia”, “Tudo Que É Sólido Desmancha no Ar”, “1968: O Ano que Não Terminou”, “Minha Razão de Viver”, “Notícias do Planalto”, “Chatô: O Rei do Brasil”, “Estrela Solitária”. Livros que eram resenhados nas principais revistas nacionais, como a Veja, e que tornavam obrigatórios nas estantes das pessoas — tão mais obrigatórios quanto mais simples eram as estantes.
A fragmentação da mídia, a ascensão das redes sociais acabaram com eles. Dependendo do digital influencer, o livro que a namorada de um deles escreveu com pensamentos que ela julga inteligentes pode ter a mesma exposição que um hipotético inédito recém-descoberto de Balzac.
E com isso acaba também uma ponte, um ponto em comum entre as pessoas, uma razão para iniciar uma conversa com alguém, “Você leu o último do Fulano?”
É um mundo estranho, esse. Eu não gosto dele.
Mas você continua escrevendo cartas, não é? Falta o envelope e o selo do correio. Mas isso é o de menos. Você escreve e tem quem leia, como eu. E me faz bem.
Até outro dia.
Lourdes
“O apanhador no campo de centeio”, “Um estranho numa terra estranha”, “Olga”, etc. Nas minhas mudanças, muita coisa ficou pelo caminho, mas não chega a ser algo a lamentar. Atualmente tenho preferido ler coisas que me divirtam, me mantendo longe de textos como “Longa jornada noite adentro”.
O único problema com a pergunta “Você leu o último do Fulano?” é quando a resposta era “não”. Quer dizer, quando eu tinha que dizer não. Ficava constrangido e começava a vasculhar na memória qual era a livraria mais próxima.
A propósito, você já leu o último do Camilleri?
🙂
— Você viu o novo Porta dos Fundos?
— Quê? Porta dos Fundos? Isso é coisa de petralha!
Agora os inícios de conversa se encerram assim.