Float like a butterfly, sting like a bee

Devo uma coisa a Mike Tyson e a David Lynch: por causa deles, passei a gostar de boxe.

Graças ao sucesso de Tyson no fim dos anos 80, a Globo passou a exibir lutas todo domingo à noite. Eu não via graça em boxe antes disso — violento e suado demais. A idéia de agressão física, àquela altura da vida, me parecia sem sentido.

Mas em 1990 ou 1991 acabei assistindo, porque essas lutas eram exibidas antes ou depois do seriado Twin Peaks, de David Lynch. E finalmente descobri a beleza de um esporte que as pessoas com juízo classificam como estupidez.

Não demorou pouco tempo até eu deixar um pouco de lado a grande estrela do boxe, as lutas de pesos pesados. Não são minhas preferidas: são cada vez mais técnicas, com excesso de clinches e, claro, uma relativa falta de grandes lutadores. Com os pesos pesados a beleza intrínseca do boxe se perde um pouco, vítima da força física e da tática.

E há muito, muito tempo não aparece alguém capaz de flutuar como uma borboleta e picar como uma abelha.

Por outro lado, as categorias mais leves — galo, pena, mosca, etc. — parecem brincadeira, mosquitos brigando por uma gota de sangue.

As categorias médias superiores são o lugar onde o esporte mantém a melhor combinação de arte, técnica e força. É nessas categorias que estão lutadores maravilhosos como Roy Jones, Jr. E é onde se pode assistir às melhores lutas.

Gente como Julio Cesar Chavez, Pernell Whitaker (um dos meus preferidos graças ao deboche com que luta, ou lutava), Oscar de La Hoya foram alguns dos lutadores a que assisti e que carregavam a verdadeira chama do boxe. Porque a beleza do esporte não está exatamente num nocaute, e sim na graça e perfeição com que um corpo se move em direção ao seu objetivo. O nocaute é só o clímax. É por isso que Muhammad Ali foi o maior de todos: por combinar, com perfeição, graça e força, os dois principais elementos do boxe. Float like a butterfly, sting like a bee.

Uma paródia de Stanislaw Ponte Preta ao If, de Kipling, publicada em “Primo Altamirando e Elas”, diz que se eu gosto de boxe sou uma besta. Talvez seja. Mas tenho a leve desconfiança de que Sérgio Porto não assistiu a nenhuma luta de Muhammad Ali. E se assistiu e mesmo assim continuava achando um retrato da barbárie, a besta era ele.

Everwood

Uma vez o Bia me disse que, em matéria de filmes, eu gosto de umas coisas “leves”.

É verdade (e essa é a maior prova de que eu sou uma pessoa doce e sensível; não acreditem no que dizem por aí).

Deve ser por isso que gosto do seriado Everwood, exibido pelo Warner Channel. É a história de um médico famoso que pira o cabeção depois que a mulher morre, e resolve dar uma de bom samaritano num cu-de-judas gelado. O seriado trata dos problemas da comunidade, de modo geral.

Provavelmente, a principal razão para eu gostar do seriado seja o fato de ele ser um produto extremamente bem concebido do ponto de vista de marketing. É um seriado que, apesar de ter vários pontos de atração para vários segmentos — pais e filhos, dramas médicos, conflitos adolescentes –, não perde a unidade. Não vira um samba do crioulo doido.

A segunda — e aí vem a verdadeira razão — deve ser porque eu sou um sentimentalóide que gosta de ver histórias de recomeços, de pais e filhos e de adolescentes problemáticos e metidos a engraçadinhos que se dão bem.

(Em terceiro viriam duas das mais bonitas atrizes jovens atualmente na TV; mas isso é bobagem, porque afinal de contas eu sou uma pessoa doce e sensível.)

Do divã do dr. Galvão

Do Amorous Propensities:

The most frequently asked question among males: Whether the size of their penis is normal. Among females: Whether they can get pregnant by rubbing up against someone or having sex in a pool.

O dr. Galvão, PhD em safadeza e deboche, informa às adolescentes ansiosas que fazer saliência na piscina pode resultar em gravidez, sim. E o girino que nascer vai ser campeão olímpico de natação.

Noivo, pode beijar o noivo

Com a confusão sobre o casamento gay, pastores anglicanos na Inglaterra estão dizendo que preferem ser processados a realizar casamentos de transexuais, o que poderá ser obrigatório graças à futura Lei de Reconhecimento Sexual.

É uma discussão interessante sobre os limites do casamento.

Parece lógico que tão justo quanto dar a homossexuais o direito de oficializar sua união é reconhecer o direito de uma igreja ou qualquer outra instituição de manter seus princípios. Já não se fala mais de justiça ou de igualdade, mas de um grupo impondo suas convicções a outro. E quando isso acontece ocorre injustiça.

A questão é que qualquer clube tem suas regras. Se discordo delas, tenho o direito de não fazer parte dele. Se passo a discordar depois de entrar, tenho o dever de sair. Por exemplo, um padre não é obrigado a se ordenar; mas depois que se ordena, é uma questão de ética se manter fiel aos seus votos. Se acha que não dá — e acho que é impossível seguir aqueles absurdos –, e eles não querem mudar, saia. Mas é hipocrisia continuar querendo o melhor de dois mundos muitas vezes antagônicos.

Se é injusto impedir que duas pessoas que se amam legalizem sua relação da mesma forma que heteressexuais, é também injusto exigir que uma igreja violente seus princípios. Não custa lembrar que religião e Estado, de uns tempos para cá, viraram coisas separadas.

Obrigar uma igreja a realizar um ato que julga um grande pecado é um profundo desrespeito a ela. Desnecessário, inclusive: não me parece que as pessoas precisem das bênçãos de pastores ou igrejas para serem felizes.

É também burrice. Com exceção da direita mais conservadora, a maior parte das pessoas sensatas é favorável à união civil de homossexuais. É fácil reconhecer o direito de alguém de se tornar reconhecido como o companheiro de outra. Mas quando se trata de ir de encontro àquilo que as pessoas acreditam ser maior que elas, como a religião, a coisa muda de figura.

Que me desculpem a grosseria, mas bater pé para entrar na igreja vestindo branco é viadagem.

E a propósito: a Igreja Rafaélica de Todos os Tostões realiza casamentos homossexuais. Mas a taxa é mais alta.

As pequenas contradições da vida

Na Arábia Saudita, como em boa parte do mundo islâmico, sodomia é crime.

Mas curiosamente os gays sauditas têm mais liberdade do que no Brasil, o país da tolerância.

Lá, casais heterossexuais não podem andar de mãos dadas nem beijar em público. Mas gays podem, por uma falha imprevista dos costumes extremamente machistas do Islã.

Esses paradoxos são a graça da vida, e o que faz o entendimento dos costumes de tantos povos diferentes ser tão difícil.

The times they are a-changin'

No meio do ano passado, me disseram que Bush era imbatível. Eu discordei.

A razão não era só a minha vontade de que aquele bastard (não é mais bonito chamar de bastard que de filho da puta?) sumisse da face da terra. Eu vinha começando a perceber, através de revistas e principalmente blogs, que havia uma corrente anti-Bush se fortalecendo nos subterrâneos.

Basicamente, os americanos se perguntavam o que ganharam desde que Bush assumira a presidência. A resposta era nada.

O fenômeno, em si, não é nada novo. É o que acontece quando um governo radicaliza ao ponto que Bush radicalizou. Isso aconteceu em 1972, com Nixon e McGovern; em muito menor grau, aconteceu com Carter e Reagan.

Mas a internet tem a ver com isso. Não criou nenhum sentimento, nenhuma ideologia, mas serviu como câmara de eco e agente de ligação dessa revolta surda. É mais fácil externar opiniões e encontrar quem as compartilhe. As coisas crescem mais rápido, assim.

Uns seis meses depois, esse “movimento” anti-Bush não pára de crescer. E a não ser que nos próximos 6 meses Bush multiplique empregos como Jesus multiplicou pães e peixes, é bem provável que ele perca as eleições.

A cada dia, as eleições em Roma ficam mais interessantes.

Comentários sobre o Oscar

Não vi a cerimônia do Oscar, mas a primeira coisa que fiz ao acordar na segunda foi catar os resultados. Interessantes.

O mais interessante em tudo isso é a vitória de Sean Penn. Se já esqueceram, não custa lembrar que ele teve uma atuação importante no movimento pacifista do ano passado, se manifestando contra a guerra quando todo o país dele parecia ser a favor, e abriu a boca para reclamar que estava sendo boicotado por suas posições.

Como as eleições no Oscar são sempre políticas, o Oscar pode significar que o grosso dessa elite cinematográfica está de saco cheio de Bush. São formadores de opinião importantes, e sempre refletem um movimento que deixou de ser subterrâneo.

Ou seja, cada vez mais acredito que Bush vai perder o emprego.

Googling

Eu não gosto do Yahoo. Nunca gostei. Meu site de buscas preferido, desde o início, foi o Altavista, ainda no tempo em que se digitava altavista.digital.com. Dele passei direto para o Google.

Se você procura por “Rafael Galvão” no Google, a primeira página a aparecer é a do autor destas mal-traçadas. Por isso gosto do Google, mesmo que ele ache que este blog é o lar de toda e qualquer parafilia imaginável. Provavelmente ele me acha mais pervertido do que o que eu realmente sou.

No Yahoo e no Altavista eu nem sequer apareço, só como links nos weblogs generosos e condescendentes o suficiente para me citar.

É perseguição. Ou incompetência: não deve ser coincidência que todos eles estão tentando ficar parecidos com o Google. Como não guardo rancores sugiro que, como primeira medida, reconheçam a importância inútil deste seu criado.