Duas revistas e talvez outras três

Já devo ter dito aqui que não sou lá grande apreciador das revistas brasileiras. Se não disse, deveria. Porque não sou.

As revistas semanais, como Veja e IstoÉ, me dão preguiça; da Época nunca gostei sequer do layout de Focus, para começar. A Veja pelo menos tem o mérito de pautar a discussão nacional. A Época, nem isso. A IstoÉ fica no meio.

Também não gosto muito de jornais. Se estou no Rio leio O Globo diariamente; se não, nem isso. Sempre detestei o texto da Folha de S. Paulo — aquilo não é texto, é manual de como escrever telegramas – e o Estadão sempre foi paulista demais para este pobre paraíba. O resto é cópia de um ou outro.

Quanto às revistas mensais, que me perdoem os jornalistas pátrios, mas quase nenhuma delas resiste a uma comparação com suas irmãs americanas ou inglesas. É aí que está o seu problema. Se você quer informação sobre o país, leia um bom jornal. Se você quer outro tipo de informação, leia inglês. A minha preferida é a Atlantic Monthly, a propósito. Abro uma exceção para a Primeira Leitura, uma das revistas mais inteligentes do país, mesmo que eu nem sempre concorde com ela — mas se concordasse ela teria a medida exata da minha burrice, e não seria exatamente inteligente.

(Ainda sobre o problema das revistas brasileiras: uma teoria rafaeliana diz que para qualquer revista brasileira há uma contrapartida americana anglo-saxã, e melhor. A Você S. A. é a Fast Company piorada. A Caras é a People dirigida a um povo miserável. E por aí vai.)

Dia desses comprei uma Bravo. Tinha comprado a primeira e última em 97 ou 98, sei lá; achei chata, como acho a maior parte da arte moderna. Mas dia desses, como ia dizendo, comprei uma Bravo. Não é uma revista que me encha os olhos, mesmo com o seu formato de Wired. A revista mudou nesses anos. Sua diagramação, que era pesada e antiga, é talvez a melhor do país, moderna, leve. É uma Wired para analógicos que se pretendem intelectuais. Mas continua igualmente chata. Deve ser o assunto. Estou cada vez mais parecido com Göring, sinto informar.

Por acaso comecei a ler a Carta Capital. Já tinha lido a revista quando foi lançada, e era ruim. Alguns anos depois, e achei insuficiente.

Mas agora ela está boa. Muito boa. Tem provavelmente a melhor diagramação de uma revista semanal brasileira, depois da última reformulação há algumas semanas. Tem boa informação e um amor ao bom texto, longe de ser padronizado como ainda é o da Veja.

Só discordo de uma coisa. Ela se diz “um novo conceito de revista semanal de informação”. E isso está errado. Porque, pelo menos para mim, ela lembra cada vez mais a antiga Senhor, que Mino Carta também editava. Mas isso está longe de ser uma ofensa.

E para quem acha que isso é elitismo, só uma informação: a assinatura da Carta Capital custa 92 dólares. Enquanto isso, a assinatura da New Yorker, também semanal, para um brasileiro custa 112 dólares.

4 thoughts on “Duas revistas e talvez outras três

  1. Rafael, já tem um bom tempo que me libertei das revistas. Tenho me dedicado aos livros e quando quero uma informação rápida e fresca, recorro à internet. Revistas agora só de carona, leitura canguru, saltando tudo o que não interessa. Mas gostava da Senhor, vou dar uma olhada na carta capital. A bravo, prá mim condinua sendo uma pauta de cultura: finja que está por dentro. Abraços.

  2. o que falta mesmo é uma revista de cultura e música pop. apareceu essa mosh, que até está legalzinha… vamos ver se não descambam para o comercial completo como a bizz, a zero… a revista da mtv é ilegível. lembro com saudade da revista general – uma das melhores que HOUVERAM. hehehe…

  3. Como assim, “o Estadão é Paulista demais”? Ô Rafa, ser “paulista” demais significa ser “universal”. São Paulo é a maior cidade nordestina do país, a maior cidade gaúcha do país, a maior cidade carioca do país. São Paulo é a cidade que representa o Brasil inteiro. E o Estadão ainda é muito mais jornal. heheheeh Abraços!

  4. Rafael,
    Você nem imagina a ginástica para não submergir no mar de revistas em uma banca de jornais na Itália. A grande maioria serve só para forrar gaiola e precisa garimpar muito para encontrar coisas interessantes, mas elas existem. Leio sempre a Diario, mais umas três ou quatro. Das brasileiras, assino a Veja, que consegue piorar a cada mês. Gostava da Senhor, mas preferia o Pasquim da época do Henfil, assim como gostava da Caros Amigos quando ela começou. Desisti quando a revista virou xiita radical. Os extremos me assustam.
    Abração e
    Ciao.

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