Meus verdes anos

Não acredito em quem diz que não se arrepende de nada do que fez, só do que não fez. Porque das duas, uma: ou é um psicopata que além de tudo não confia na própria intuição, ou é um idiota que não aprende nada com a vida. Eu, pelo menos, só me arrependo das coisas que fiz. E olha que tem muitas.

Mas tem uma coisa que não fiz que até hoje me arrependo de não ter feito.

Digamos que minha passagem pelo ginásio foi meio conturbada. Digamos também que eu tinha um pequeno problema com autoridade. E digamos também que eu tinha senso de humor suficiente para fazer algumas brincadeiras que o padre Carvalho, diretor do colégio, não conseguia compreender. O resultado é que eu conhecia a sala da coordenação de disciplina (alô, Inara, tu tá viva ainda?) melhor do que meu próprio quarto. Meu único consolo é que quase todos os meus professores gostavam de mim. Isso não os impedia de me botar para fora da sala, às vezes até injustamente, mas o faziam sem rancor em seus corações. Negócios, sabe como é. Éramos leais adversários, apenas.

Algumas das brincadeiras foram muito boas. Mas a melhor de todas não fui eu quem fiz, e é isso que me deixa, até hoje, irritado por não ter tido a idéia antes.

Um ano depois de eu sair do Arquidiocesano, um grupo das mais brilhantes mentes daquela venerável instituição de ensino subiu à caixa d’água do colégio e derramou alguns pacotes de Ki-Suco.

Naquele dia, os alunos que abriram os bebedouros se viram diante de um belo líquido avermelhado. Meninas da quinta série que davam descarga pensaram “meu Deus, fiquei mocinha!. Com tanta coisa nova acontecendo, gente mais criativa poderia imaginar coreografias de Busby Berkeley para Esther Williams naqueles jatos rubros. Mas, tadinhos, o fardo da responsabilidade pela formação de tantos adolescentes era demais para o pessoal que mandava no colégio.

Blasfêmia!, não fui eu quem concebeu essa obra de arte. E disso me arrependo profundamente.

8 thoughts on “Meus verdes anos

  1. O dono da pizzaria fez o mesmo com a padaria da esquina, na cidade de Embu. Pra ficar mais divertido ele mandou distribuir panfletos na porta da escola convidando a molecada.
    Osvaldinho Lara Vidigal, de são Paulo, certa vez chamou garotos de rua para abrir envelopes de Sonrisal. Encheu um saco de estopa de 60 quilos e jogou de um helicóptero na piscina do clube Espéria (domingo, ao meio-dia), que havia proibido sua entrada.
    Também me arrependo por não ter participado!
    Ciao

  2. pô, rafa… EU faço aniversário e VOCÊ fica todo SAUDOSISTA! mas a idéia é ótima: contar os GRANDES FEITOS DO PASSADO, inclusive citando nomes… POR DEUS, essa gente lá de trás já MORREU!

  3. Você tem toda razão. Nunca tinha parado para pensar nisso, até porque nunca tinha parado para categorizar meus arrependimentos. Agora vejo: você tem toda razão. Se arrepender exclusivamente do que não fez é coisa para os padres do seu colégio… Já viu? Neste mundo, ninguém comete erros. Santos nós! Beijos.

  4. Rafael, muito bom o seu blog. Leio sempre. Pela primeira vez encontro alguém que concorda com a minha opinião. Sempre pensei desta forma com relação ao arrependimento. Afinal uma pessoa que não se arrepende de nada do que fez ou é um completo imbecil ou é presunçoso demais. Eu me arrependo de um monte de coisas que fiz e de algumas que não fiz.
    Júnior

  5. aiai…. as versões q correm da mesma história!!!! Clube Espéria!!???? Com Oswaldinho??? MAGINA!!!

    Ele fez isso, sim (qtos aos garotos de rua e aos sacos de estopa, não sei… o helicóptero e o remédio, garanto), mas foi no Harmonia, ora!! O Harmonia é o clube freqüentado pela alta sociedade de São Paulo, do qual ele se vingou assim, ao ser expulso – justamente por aprontar as coisas q aprontava.

    Q eu saiba, foi Alka-Seltzer, não Sonrisal. Mas tanto faz, né, exceto para o fabricante.

    Depois Oswaldinho foi processado pelo pai de uma menina q estava na piscina naquela hora e q disse ter ficado intoxicada. Mas imagina a efervescência feérica da vingança!
    O Clube, claro, teve q esvaziar a piscina e trocar toda a água.
    O Espéria, raios, nem sei onde é! Peraí q eu vou ver. O Harmonia é nos Jardins, na rua Canadá, e é “o” Clube!! O Espéria (acabei de ir ver no site deles) é na Zona Norte… provavelmente Oswaldinho nunca chegou à ZN de SP… putz, q preconceito,,,
    abraços!

    • Hahahahaha excelente seu comentário. Quando li inicialmente que foi no Espéria rolei de rir. Oswaldinho só cruzava pontes do Rio Pinheiros. E nunca soube que o Tietê existiu.

  6. A Betty tem razão, foi no Harmonia. O erro foi da minha pouca memória. Também não posso afirmar se foi Alka Seltzer ou Sonrisal, mas os sacos de estopa e os garotos estavam nessa. Aliás, contei essa história com a versão Alka Seltzer em outro lugar:
    http://baladadolouco.blogspot.com/2005/01/osvaldinho.html
    Mas o que vale mesmo é a criatividade da loucura. E se arrepender pelos motivos certos.

    Abs

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