Glauber e sua pena

Brando é o ator narcisista, egoísta, romântico, boçal, pretensioso, petulante como todo ignorante, e, como tal, patético, sublime, mas invariavelmente reacionário.
Glauber Rocha, em “Apocoppolakalipse — Um Discurso Alienado e Alienante Sobre a Guerra do Vietnã”.

É o mesmo sujeito que escreveu:

Easy Rider é a síntese dialética de John Ford, Jonas Mekas e as motocicletas de Kenneth Anger.

Easy Rider, que me perdoe Glauber e os tantos outros fãs, é apenas uma bobajada criada numa bad trip.

Glauber é também o sujeito que achava “Uma Vida em Pecado” o maior filme americano. E que, num artigo escrito quando seu amigo Visconti morreu, disse que:

O tema de Visconti é a decadência do capitalismo diante do processo revolucionário.

E aí eu quase concordo, ex-comunista que sou, sempre sujeito à assombração do Velho Diabo dizendo que a minha paixão não-correspondida pelo dinheiro não é decente. Mas aí penso em “Morte em Veneza“, e ao tentar imaginar o Von Aschenbach como o capital e Tadzio como o proletariado, continuo achando que o foder a que Visconti se referia era outro.

7 thoughts on “Glauber e sua pena

  1. Como roteirista, eu devia detestar Glauber – o exterminador de roteiros. E realmente detesto. Acho que tanto Glauber quanto Brando são dois loucos sob efeito de LSD. Só que o bagulho do Glauber era de pior qualidade.

  2. Glauber, assim como Brando, é um mito que a mídia e os pseudo-intelectualóides criaram.

    Gosto de “Deus e o Diabo…” mas acho “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” o supra-sumo da utopia… soa meio coisa de playboy drogado que tinha dinheiro pra bancar seus caprichos.

  3. Coisa de intelequitual, certo?
    Aquela coisa de falar, falar e não dizer nada, citar nomes e títulos pra dar credibilidade às bobagens que está dizendo… Eu posso não ser tão inteligente quanto, mas me divirto mais!
    E Brando era uma criança, uma criança enooooorme (principalmente em seus últimos anos) e caprichosa, mas a maioria dos gênios são assim… e podem chamá-lo de várias coisas, mas de “mito que mídia e os pseudo-intelectualóides criaram” não! O cara foi e sempre será um dos maiores atores de todos os tempos, se não O maior! (e não estou falando em arrobas aqui…)
    Abs

  4. Bem..na tua opinião, Thiago.

    Pra mim, ele só foi um homem extremamente bonito (nos primeiros e áureos anos) e depois um gênio extremamente talentoso (nos últimos e…gordos anos)

    Mas nunca O maior. Nem perto disso. Foi justamente esse mito o criado pela mídia e pelos pseudo-intelectualóides…

    Nuff said

  5. Muitos comentarios maldosos sobre Glauber : playboy drogado; um mito que a mídia e os pseudo-intelectualóides criaram;tanto Glauber quanto Brando são dois loucos sob efeito de LSD; Glauber era um coitado que jamais conseguiu fazer um filme decente; bom mesmo era o Person. Enfim,sem comentarios, ou melhor, talvez mais tarde.
    Me pergunto qual a verdade em tudo isso. Nao preciso ir além, sera que uma pessoa que foi a principal figura do” cinema novo” brasileiro, poderia se resumir às maledicências citadas acima?
    Creio que nao, Glauber foi mais que isso, foi um provocador “revolucionario idealista », pessoa que teve a coragem de gritar pelo que acreditava ,que marcou sua época não apenas pelos seus filmes mas tambem pela sua luta e ousadia.
    Acredito que um artista nao deva ser julgado apenas pelo resultado do que produz mas tambem por suas ideias e pela maneira que utiliza para conduzir sua luta.
    Glauber bradava uma grande maluquice: inicialmente, até hoje,
    vc pode se assustar,mas depois quando vc reflete, vc ve que é uma coisa organica, que ha razão, sentido e
    logica em todo essa coisa aparentemente absurda que Glauber fazia, mas que simplesmente era a sua maneira de fazer. Diz Glauber “As pessoas pensam que eu estou louco mas eu estou certo – eu acredito que a obra de arte é um produto da loucura. A loucura como a lucidez é a libertação do inconsciente.”
    Agora, ca entre nos, quem conseguir realizar um filme como” Deus e o Diabo na terra do sol” aos 23 anos, com ou sem o efeito do bendito ou maldito LSD e ou derivados, pode se dar o direito de gritar o que quiser.
    Benditos os loucos, porque eles é que herdaram a razão.
    Se Glauber encomodou por pensar grande, entao continuemos a pensar pequeno.

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