Rafael, Orlando, Mary e Rolando

Luiz Pereira Carlos, em comentário a um post qualquer:

Quem é Rafael Galvão(?). Quantos anos tem Rafael Galvão (?).
Desculpe a curiosidade, mas não é em vão, há fortes motivos para saber com quem estou falando, se com Orlando ou com Mery.

Fico imaginando como seriam as coisas se eu fosse Orlando. Não sei quem é o dito, mas digamos que seja um sujeito legal. Seria bom ser outra pessoa, uma boa pessoa. O curioso é que, por alguma razão, mais que algum Orlando que eu eventualmente conheça o nome me lembra outro, quase um anagrama: Rolando, aquele que demorou para tocar sua corneta e se ferrou num desfiladeiro qualquer. Rolando tinha heroísmo escrito em sua testa. Eu, que no máximo exibiria um “otário” carimbado na minha, só me beneficiaria com essa troca.

Infelizmente eu não seria um bom Rolando, porque assim que os bascos chegassem eu tocaria a trombeta, gritaria, assoviaria, me ajoelharia pedindo para não me matarem que eu tinha mulher e sete filhos e uma avó tetraplégica para criar, sairia correndo, faria o diabo com um medo danado de morrer. Ao contrário do conde de Carlos Magno, eu dificilmente entraria nos livros de história, a não ser como “Rolando, o Frouxo de Roncevaux”.

Se eu fosse Mery, ah, antes eu teria que dizer que sempre achei que se fosse mulher eu seria extremamente cachorra. Daquelas bem vadias — ou bem livres, de acordo com a sua visão das coisas. Se eu fosse Mery eu seria dadeira, como dizia Caymmi. Claro que o Luiz, cioso da honra e da reputação da amiga cujo paradeiro procura, vai dizer que não, que Mery não é nada disso, é moça fina e direita. E nesse caso eu não quero ser a moça. Não tem graça ser mulher se não for para dar com a mão na cabeça para não perder o juízo — e melhor, sentir o juízo escorrendo entre os dedos. Mas se Mery for tudo isso que eu seria se Mery eu fosse, se for capaz de alegrar com candura as noites de tantos, por favor, Luiz, me dê o telefone dela.

Mas aí lembrei que o nome Orlando evoca outra pessoa: o Orlando de Virginia Woolf. Nesse caso, Luiz, acho que você está me sacaneando. Eis as duas opções que tenho: uma mulher e um homem que se transforma em mulher. Você não me deu muitas alternativas, Luiz. E eu sou só um paraíba estranho a essas sofisticações todas.

De qualquer forma não sou Orlando e não sou Mery, sou só Rafael. Não é grande coisa, eu sei, mas foi tudo o que consegui ser — confesso que com pouco esforço porque sou baiano e esse negócio de tentar melhorar pode cansar. Coloque a culpa na genética, no ambiente pernicioso em que fui criado, no excessivo apego a coisas simples como mulheres com a bunda grande. Coloque a culpa no que quiser, não importa. Eu vou continuar sendo só Rafael.

Por isso, tudo o que posso dizer é que a pergunta realmente pertinente aí é: quem é Rafael Galvão.

E isso, meu amigo, mesmo depois de tantos e tantos anos de vida, eu ainda não sei.

Republicado em 10 de agosto de 2010

15 thoughts on “Rafael, Orlando, Mary e Rolando

  1. …ou parafraseie, então Flobér

    “Rafael Galvão sou eu.”

    O que é a mesma coisa de não saber quem se é.

  2. seus leitores estão profundos, as questões são filosóficas…”quem é rafael???”
    Mas acho que a Linha acertou em cheio.;0)

  3. Enrolou, enrolou e não disse a idade. Mas isso não importa não é mesmo? Tem dias Rafael é um menino e em outros é um velho! (rs*) Beijus

  4. Rafael Galvão morreu, gente!
    Esse aí é um impostor!!…. É o cara que o Rafael pagava pra escrever pra ele, seu “escritor-fantasma”,… só que agorao fantasma é o Rafael!… Iiiiiii!
    Deixa pra lá!
    O nome do cara é Valdemar e ele tem 78 anos, é colecionador de bichinhos feitos de cristal e trabalha no Circo Juquinha nos sábados à noite, como dançarino.
    É até gente boa (quando não bebe). Mas não é o Rafael não!
    Respeita o finado, gente!

  5. Rafa,
    Você é aquele que me bota prá pensar. Com meia dúzia de palavras me confunde. De uma maneira boa, claro. Me diz coisas que realmente preciso e gosto de ouvir, não confetes, mas verdades, aquelas que gosto de conhecer e que você as conhece melhor que ninguém. Você é aquele que – e espero -conhecer e conversar pessoalmente. Nada mais, pq eu não consigo e nem conseguiria ser “dadeira” como você mesmo diz. Até queria ser sabia? Levar a fama sem levar a cama nunca é bom, mas eu ainda penso com o coração, apesar das vadias sempre levarem as maiores vantagens…um dia aprendo a ser vadia ou me conformo com as situações de uma eterna romântica que apesar das mil pancadas na cabeça ainda acredita no amor e no príncipe encantado. Adoro seus textos e suas idéias, pena que é PTista, mas ninguém é perfeito né?…risos…
    Beijos

  6. “Coloque a culpa na genética, no ambiente pernicioso em que fui criado, no excessivo apego a coisas simples como mulheres com a bunda grande.”

    Olha, eu não ia escrever…mas me dou a desculpa da febre (baixa, mas existente).
    Meu pai, quando queria sacanear seus amiguinhos, costumava perguntar: “Gosta de mulher de bunda grande, assim, carnuda mesmo?” – ao que os ingênuos coleguinhas afoitos respondiam – “Ô!”- e meu pai – “Vou te apresentar minha vó!”

    Olha…a dele já se foi, mas a minha eu posso apresentar!
    brincadeira, ela é bem casada.

    Abraço!

  7. Afinal, decidiram??
    Rafael é imbecível, corno, orlando, rolando ou mery, herói, covarde ou puta?
    Vivo, morto ou impostor?
    Fantasma, valdemar ou palhaço?
    velho, moço, bahiano ou paraíba?

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