Os programas eleitorais de Marta e Kassab

Vi o programa eleitoral do Kassab e o da Marta na última sexta-feira. E Deus do céu, como o programa do Kassab é tão melhor que o da Marta. Tão bom que ele nem precisaria dessa campanha de imprensa em sua defesa que se vê agora, primeiro com o caso das insinuações acerca de suas opções sexuais, agora com o possível depoimento de Nicéia Pitta — dois eventos muito diferentes entre si, mas tratados da mesma forma pela imprensa.

Segundo após segundo, o que se vê no Kassab é uma afirmação constante do valor da sua obra. Mostra, em linguagem clara e eficiente, o que ele fez e como isso se transformou em benefícios para o povo paulistano. Dosa corretamente o número de aparições do candidato. Humaniza a campanha com exemplos de pessoas cujas vidas melhoraram por causa do seu trabalho à frente da Prefeitura.

O programa da Marta, em vez disso, parece perdido, como se lhe faltasse um eixo suficientemente claro. É difícil fazer um julgamento minimamente correto de uma campanha eleitoral a partir de apenas um programa, mas o da Marta parece ter defeitos estruturais que provavelmente não se limitaram à sexta-feira.

A impressão que o programa de sexta passou é de que Marta parece ter medo. Não vi nenhuma grande reafirmação dos méritos do seu governo; apenas uma tentativa de fazê-la parecer mais simpática conversando com o povão na rua — e uma simpatia forçada e desnecessária, porque Marta não parece muito à vontade perto do povão.

Pior, não vi nenhuma tentativa séria de desconstrução séria e conseqüente da administração Kassab. É inadmissível, por exemplo, que o programa de Marta não tente aproveitar as crises recentes de segurança em São Paulo. Tanto a greve dos policiais civis — cuja responsabilidade o Serra, de maneira competente, tentou jogar imediatamente nas costas do PT — quanto o absoluto despreparo da polícia no caso das meninas mantidas reféns pelo namorado de uma delas poderiam, sim, ser aproveitadas. É algo legítimo — aliás, muito mais legítimo que perguntas sobre as preferências sexuais de Kassab.

O Duda Mendonça diz, no seu livro “Casos e Coisas”, que quem bate, perde. Não parecem ter dito isso à campanha do Kassab, para a sua sorte. Todo o tempo ele estabelece uma comparação entre a sua administração e a da Marta. Não se furta a bater quando necessário, nem se omite quando é hora de dar alguma resposta; o segredo está no equilíbrio do tom usado e no fato de sempre bater enquanto apresenta um exemplo positivo seu.

O curioso é que, até onde sei, Kassab é situação e Marta é oposição. O papel de apontar as falhas, de desconstruir o adversário deveria ser preferencialmente dela. Não dele.

É impressionante também ver que o programa de Marta não tem emoção, não tem humor, não tem nada. Enquanto isso o texto do programa do Kassab é leve, emotivo, trabalha a experiência do paulistano sob o governo Kassab. Abusa de jingles temáticos que cumprem funções importantes, batendo em Marta com graça.

Se uma campanha eleitoral fosse uma partida de futebol, alguém poderia dizer que o programa de Kassab domina todos os fundamentos com maestria, enquanto o time da Marta se mostra perdido em campo.

E finalmente há a diferença crucial entre as imagens dos dois candidatos.

Há alguns meses, depois de ver o primeiro programa de Marta durante a campanha de 2004, reclamei que enfocavam a candidata em plano aberto, reforçando uma distância e antipatia que já vinham se tornando sua marca registrada. Mas aproximar a câmera de Marta foi pior: seu rosto é uma massa deformada de plásticas toscas e botox. A sensação de estranheza causada por aquele rosto que não move um músculo sequer ao falar é ruim, e tira a atenção do conteúdo de sua fala.

Enquanto isso o Kassab, com aquele sotaque de Chico Bento e cara de menino cabeçudo, oferece ao eleitor a confiança e a intimidade que sempre estiveram ausentes em Marta. Em vantagem por ser candidato à reeleição, Kassab transmite simplicidade e humildade. Faz o básico — admitir que não deu para fazer tudo em dois anos –, mas assume a sua responsabilidade e mostra confiança na sua própria capacidade. Já a Marta, enquanto continua com aquela lenga-lenga de dizer que “quer ser prefeita”, se refere à “sua equipe”. Outra bobagem. Equipe era necessária para Lula, que precisava se sobrepor à imagem de despreparado; agora o povo quer é alguém que possa governar direito, e pelo visto, e infelizmente, já decidiram que esse alguém é Kassab.

9 thoughts on “Os programas eleitorais de Marta e Kassab

  1. Poxa Rafa, eu acho você um cara super inteligente, esperto, engraçado…eu posso enumerar vários ótimos adjetivos para você, mas um te derruba: gostar do PT. Como pode?????????????
    Não siga a luz! Não entre na luz, saia desse corpo que não te pertence…volte! Você é bom demais prá eles!

  2. Puxa, Rafael, se, como dizem meus amigos paulistanos, o governo da Marta foi tão melhor que o do Kassab, os publicitários têm tanto poder assim?

    Porque parece enorme a capacidade deles de moldar a percepção do público…

  3. Marcus,

    O texto não fala da campanha em si, mas de dois programas, apenas. Isso não é suficiente nem para falar com autoridade sobre a horário político eleitoral na TV, quanto mais da campanha eleitoral como um todo.

    De qualquer forma, eu certamente não estou entre os que acreditam que programa eleitoral é o fator determinante para ganhar uma eleição; é fundamental, sim, mas está longe de ser o único, ou mesmo o mais importante.

    Por isso, para responder à sua pergunta outras teriam que ser feitas antes: a administração Kassab foi mesmo tão pior que a de Marta? O PT fez as alianças políticas certas (em 2004 cavou sua cova esnobando o PMDB)? Marta ainda tem suficiente cacife eleitoral? A eleição já está perdida? E aí sim: a linha seguida pelo programa foi mesmo a mais indicada?

    E Raquel… Seis anos de governo Lula ainda não te mostraram a luz? Que horror. 🙂

  4. Oi Rafael!

    Gosto muito de seu blog, leio sempre que possível, embora não comente.

    Independente de posição política, gostaria de apontar mais um fator determinante para a vantagem tão grande do programa de Kassab: a locução.

    Não sei de quem é a voz que faz a narração em off do programa, mas é de uma naturalidade e simplicidade muito grandes, muito bem colocada, com expressões coloquiais e etc. Sem dúvida é um ponto muito importante para aproximar o candidato do povão, e é um elemento usado com muita inteligência.

    O programa do Kassab merece realmente que a gente tire o chapéu. Gostaria de saber quem são os publicitários responsáveis por ambos os programas, tanto o dele como o da Marta.

    Um abraço e parabéns pelo post!

  5. Pois é Galvão: o Kassab é uma besta, mas deve ganhar da Marta porque ela não merece ganhar nada. É uma sicofanta, sem valor e sem caráter; uma arrivista política e social. Bem feito pra ela. Azar o nosso em ficar com o Kassab.

  6. Rafa, 12 anos de governo Lula só reforçou minha idéia do que acho dele e do PT, mas como aqui não acho legal falar palavrão, deixo que sua imaginação fale por mim…mas apesar de disso, até que você é um cara legal 😉

  7. Corrigindo o post acima….nem 12 anos de governo Lula seriam suficiente para mudar o que penso dele e do PT…
    Fué fué fué fué…

  8. Uma das coisas interessantes nestas eleições é que ninguém conhecia o Kassab.
    Ele está no governo há menos de dois anos.E este tempo todo o Kassab não saiu da mídia um só dia.
    Tava sempre inventando alguma coisa, sempre aparecendo de algum jeito.

    Apesar de ser publicitário, tenho que concordar que a Cidade Limpa, foi a melhor coisa que aconteceu por aqui.
    Por exemplo, quando chego no Rio, minha terra natal, e vejo aquele monte de cartazes, out doors, etc, a primeira coisa que penso: Tá faltando um Kassab por aqui.

    Abração

  9. Bem, parte do problema de Marta é a personalidade. Ela nunca se preocupou em trabalhar isso: ela AINDA carrega na maquiagem e nas roupas espalhafatosas.

    A administração dela teve altos e baixos, e numa cidade como São Paulo é difícil ser popular. Acho que o Maluf admitia isso nos anos 90 num anúncio que ele não admitia ser bom, mas sim um pouco melhor que os outros. Sempre vai haver problemas de trânsito e habitação, por exemplo.

    Um caso que acho interessante para saber como se ganha ou perde uma eleição é a Presidencial Americana de 1988: você teve uma série de erros da campanha de Dukakis, os republicanos conseguiram usar dois episódios(Willie Horton e o tanque) para desmoralizar Dukakis) e havia ainda o problema da personalidade morosa de Dukakis. E bem, isso explica o status de celebridades de marqueteiros, como Duda Mendonça, Lee Atwater, Karl Rove, James Carville, Paul Begala…

    No caso da Marta ela não percebeu que quando você vai disputar reeleição a melhor fórmula é ainda aquela que Reagan usou em 1984(It´s morning again in America), que é mostrar as realizações do seu mandato num tom alegre e otimista.

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