Dos que dispensam o que não lhes é oferecido

Comentário recebido a este post e, infelizmente, não publicado:

Henrique:
Pega esse seu pau e soca no cú…

E isso me lembrou tantos episódios na vida de tanta gente.

Um menino pede uma volta na bicicleta nova do amigo, que agora poderoso esnoba, diz que não vai dar, manda esperar que talvez ele lhe faça esse favor; e então o menino, já irritado, vira as costas depois de dizer: “Pega essa sua bicicleta e soca no cu!”

O garoto corre para mostrar o seu novo iPod aos amigos. Mostra, explica como funciona, mas nega a eles a experiência sensorial, a concretização do desejo, não os deixa colocar os fones nos ouvido nem mexer nos controles. Exerce de maneira sutil e comum uma variedade leve de sadismo. E os amigos, cansados de ser ludibriados pelo garoto que agora se acha superior, cansam da pantomima e já irritados, viram as costas depois de dizer: “Pega esse seu iPod e soca no cu!”

É sempre isso, uma reação do orgulho ferido, uma afirmação última da própria dignidade e reconhecimento do egoísmo alheio, ações e reações tão antigas quanto este vale de lágrimas que atravessamos.

Mas em tantos anos de vida e de observação nem sempre paciente da natureza humana, tanto mais impressionante quanto mais diversa e distinta ela se mostra, eu nunca tinha visto essa atitude de despeito diante do falo alheio.

Pessoas normais podem talvez reconhecer o portento de um John Holmes sem sentir inveja ou ódio pelo que lhes foi negado na concepção, como um mau ator pode se espelhar em um Paulo Autran em vez de compará-lo à sua própria mediocridade. Os moradores de Pompéia, com a grandeza do Império Romano, entendiam isso. E desenhavam figuras e dependuravam imagens de Príapo em suas casas. Almas grandes podem caber em pintos pequenos, esse talvez seja um dos mais importantes princípios clássicos ignorados pela metafísica.

Mas não no Henrique.

O Henrique sente apenas mágoa e despeito. Talvez servisse de consolo a ele saber que não está sozinho, outros vieram antes a este blog com o mesmo sentimento: com ódio no coração, porque o coração do Henrique, claro, é um órgão maior e com maior capacidade.

Tudo isso turva a visão e embota a mente. A miséria econômica causa tristeza e disfunção comportamental; mas também a miséria anatômica alcança esse resultado, e o moço que provavelmente veio parar neste blog em busca de “métodos grátis para aumentar o pênis” saiu daqui um pouco pior, tentando acreditar que o desaforo dito remediou uma vida de inconformismo com a pequenez.

Essa pequenez gera também ambição e ganância, percebo agora, e um psicólogo do meu baixo nível pode chegar à conclusão de que foi esse tipo de pequenez que gerou o crash de Wall Street. Ou pelo menos um tipo análogo de ganância. Porque o pobre Henrique não se contenta com os milhões de spams que recebe todo dia, e assim como quer mais tamanho e volume por sob as calças quer também mais informação, corre o Google atrás de novas soluções, um elixir ou bálsamo milagroso, uma simpatia talvez, algo que ele sinta que vai finalmente dar certo, que não vai iludi-lo apenas para deixá-lo frustrado mais uma vez.

Deixe-me ser solidário, Henrique, e deixe que eu me junte à sua raiva. Porque intuo que a origem de tudo isso é uma mulher, não é sempre uma mulher a origem de toda a felicidade e de toda a dor neste mundo? Uma mulher que, assim como você, não conseguiu esconder sua frustração e lhe disse com desprezo, “Pega essa sua mixaria e soca no cu!”, enquanto se vestia apressada e ia embora para nunca mais voltar. E embora não sinta a sua dor eu me compadeço dela, mesmo sabendo que você, com esse seu orgulho dos oprimidos, certamente me diria altivo: “Pega essa sua compaixão e soca no cu!”.

Talvez você não entenda e não me acredite, porque sei que agora não vou conseguir conquistar sua confiança e uma amizade jamais nascerá deste pequeno diálogo de surdos; mas essa sua sensação é tão parecida com o que sinto quando vejo meu extrato no banco, e sinto que é tão pouco, e esse pouco me faz sentir que eu poderia ter sido mais que isso, um Marlon Brando dizendo a Rod Steiger, “I could have had class! I could have been a contender!

Uma vida de tristezas cegou o Henrique, e ele não consegue compreender o que leu. Na inferioridade que sente ele olha a todos como superiores. “Pega esse seu pau e soca no cu”, diz o Henrique, e embora um tanto atônito pela conclusão a que ele chegou sozinho, me sinto honrado pela sua presunção enorme, quase lisonjeado, e esqueço de dizer que aquele post não diz nada sobre mim.

Eu não tento entender a mente do Henrique. Mas a minha também funciona de maneira esquisita e às vezes incompreensível até a mim, e um sadismo de que eu me julgava isento se manifesta diante da ofensa. Um sorriso discreto vem à minha boca enquanto escrevo isso. E mal consigo conter a vontade dizer ao Henrique que ele misturou sentimentos, nada aqui lhe foi oferecido ou mostrado, ele não tem porque dispensar uma oferta que não lhe foi feita, até porque eu não sei se ele tem bunda grande.

4 thoughts on “Dos que dispensam o que não lhes é oferecido

  1. Quando perco a razão e vejo que não me resta muita opção fico frustrada eu só consigo dizer “VÁ TOMAR NO CU”
    Me sinto vingada…..simples assim.
    E quer saber de uma? Vou continuar fazendo isso.
    Amei o post…me identifiquei e só pq não consigo escrever como “Vá vc tb TOMAR NO CU”.
    E vou logo avisando: Minha bunda é pequena.
    PS: Lembrei da cena do filme Ó paí ó – a briga do Roque e Boca.

  2. Grande Rafael,

    Só não concordei quando vc colocou que seria uma mulher que olhou para a mixaria dele e mandou ele socar no cú.

    Este Henrique é uma bicha. O primeiro reflexo dele quando viu um caule, um simples caule, foi pensar em pau e cú.

    Poderia ter imaginado uma flor no fim do caule, um pauzinho ainda molhado de mexer caipirinhas, ou qualquer outra coisa.

    O psico-terapeuta, Quisi Fróid, que também é mecânico-proxeneta e vendedor de planos de saúde nas horas vagas, explicou-me no boteco do Ovo Colorido, depois de umas doses de Pedra 90, que é assim mesmo. “O cara olha prá um objeto, ou uma cena, e pensa, pronto, é batata…”, disse ele, espumando um pedaço de torresmo que grudou na dentadura.

    “O lance pega no Eu, num sabe”, com uma puta sotaque pernambucano que eu não de onde ele tirou de repente, disse ele olhando para mim. Na hora eu me afastei tanto pelo bafo como pelo olhar de malícia, eu hein. Mas pensando melhor nas suas sábias palavras, o cara tem razão. Sem homofobia gente, não é isso.

    Nem se trata de fazer juízo de valores, apenas uma constatação: o problema do Henrique é que o brinquedo dele deve ser bem menor do que dos outros meninos. Trauma é foda.

    Henrique tome mais no seu cú, tome muito, até perder o juízo. Quem sabe vc não cura esta mágoa que existe dentro do seu Eu.

    Libere a emoção rapaz, dance na frente do espelho as músicas Liza Minelli, chore mais e faça uma prece para São Longuinho (sacou Longuinho, Longuinho, não Curtinho), se aumentar, dê três pulinhos e siga olhando para frente, ou para trás, se preferir…

  3. parece piada, está beirando o absurdo: toda vez que você faz um post sobre pau pequeno, vem alguém aqui se gabar de como a carapuça serviu. acho que você poderia receber patrocínio de alguma clínica de aumento peniano, já que o público é garantido.

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