Sobre Rafael Galvão

Quando este blog começou, eu morava no Rio. De lá para cá muita coisa rolou debaixo da ponte, e então eu vejo que sete anos se passaram. É tempo demais.

Comecei este blog por duas razões: dar minha opinião sobre o que quisesse e fazer dele um exercício, me desobrigando de escrever em “publicitês”, e porque na época eu tinha suficiente tempo livro para me divertir com isso.

Ele começou no Blogger.br, e se chamava Pensamentos Mal Passados e tinha um subtítulo: “Um pouco de nada, e nada de muito importante”. Pedi à Dani Parahyba que fizesse um template novo para mim, a partir de um layout que fiz, e finalmente o blog passou a ter a minha cara. A Dani mudou as cores e o resultado ficou melhor do que eu pretendia. Além disso, o blog passou a se chamar Rafael Galvão; o subtítulo sobreviveu mais algum tempo.

Em 2004, cansado do Blogger, comprei hospedagem e transferi o blog para o Movable Type, na época a melhor plataforma de blogs disponível. Além de RSS e outras bobagens, eu passei a fazer meus próprios templates. E cansava rápido dos layouts, e entre 2004 e 26 fiz uma infinidade deles. De alguns lembro bem, até hoje. O primeiro layout tentava aproveitar da melhor maneira possível as idéias do layout anterior, mas isso acabou logo.

Depois, com o tempo cada vez mais escasso, passei a simplesmente pegar templates prontos. Em 2008 o Movable Type se revelou incompatível com o meu servidor e eu mudei para o WordPress, o que acabou de vez com a possibilidade de eu mesmo fazer meus templates.

Praticamente todos os blogs que foram contemporâneos deste se foram para o paraíso dos blogs. Singrando, Escrúpulos Precários, XX Ama XY, Monicômio e NCC, Smart Shade of Blue, Homem Baile, o Tiro e Queda do Bia. Eu sinto falta deles. Tinham talento e leveza, coisas que foram ficando cada vez mais raras na blogoseira. Essa é a minha geração, uma geração que escrevia porque gostava e porque precisava — a ponto de ter cogitado se chamar Blogniks em 2005 –, e que tinha o descompromisso que, na minha opinião, é o que faz um blog. Nós não precisávamos ser lembrados que blog é conversação. Nós sabíamos disso.

E o blog foi mudando, se tornando mais auto-consciente. De uma enxurrada de posts diários (em agosto de 2003 foram 100 posts, a maioria bem curtos) ele passou a publicar um por dia, depois um a cada dois dias — e em todo o ano de 2009 foram 89. Os posts, de modo geral, foram se tornando cada vez mais longos.

Quase dois mil posts, quase 20 mil comentários, e um blog que, apesar de tudo, me dá orgulho. Porque a modéstia é uma moça que eu vi de longe muito tempo atrás, e eu acho que este blog teve alguns bons momentos. Não me envergonho da maioria dos textos, e de alguns eu gosto muito.

Foram tantos blogs que li e admirei nestes anos: o do Ina, o do Milton, o do Allan, os tantos do Marcos, o finado do Tiagón, tanta gente. E isso me lembra que apesar de não acreditar em internet, acabei fazendo grandes amigos a partir do blog. As longuíssimas conversas com o Alex e com a Tata (que eu ainda amo, e vou amar para sempre); a Carol, inesquecível, que me deu com seu marido uma tarde agradabilíssima em Notting Hill; a Viva e o Bruno numa noite inesquecível no Belmonte; a Raquel se perdendo em São Paulo comigo; a Malla que ainda me impressiona pela sua tranquilidade; o Doni na Cinelândia e no Picuí; o Ricardo no Ferreiro ou num boteco de Copacabana; o Idelber nos botecos de fim de noite ou me contando que “Uzbequistão bom, Tadjiquistão ruim” — ou algo assim; e o Bia, talvez o único que lê isto aqui desde o início. Eles provavelmente não sabem o que aprendi com eles. Talvez algum dia eu conte.

Mas a vida passa. Nesses sete anos tanta coisa aconteceu. Mudei de cidade, meu apartamento se incendiou e fiquei sem ter onde morar durante alguns meses, me mudei, me mudei de novo, me mudei mais uma vez e agora não quero mais sair da frente do rio, namorei mais do que é saudável, fiz um bocado de campanhas — algumas inesquecíveis, outras nem tanto –, fui diretor de marketing e secretário de comunicação de uma prefeitura, e diretor de marketing de um governo. Casei de novo, separei de novo. Minha filha, que era quase um bebê quando este blog começou, cresceu para se tornar uma das pessoas que mais admiro neste mundo.

E com tudo isso o tempo passou e escrever um blog deixou de ser tão divertido e sete anos é tempo demais para se escrever um blog e é por isso que este acaba aqui. Obrigado.

69 thoughts on “Sobre Rafael Galvão

  1. Não! Porra, uma ótima esquina da internet pra se divertir, ler coisas com qualidade e criticas sérias.. desaparecendo..
    Não faça isso Rafael

  2. Puxa. Agora eu fiquei triste DE VERDADE.

    O seu blog foi talvez o que mais me influenciou para eu começar a blogar. Acho que já disse isso pra você em outras ocasiões. Aquele seu post sobre equitação, sobre o quanto é mais divertido e interessante se apaixonar por cavalos ao invés de carros, é até hoje uma lembrança vívida daquele incrível 2004, que talvez tenha sido o ponto alto de circulação de inteligência na blogolândia brasileira.

    Bem, vida que passa. A roda girando, etc.

    A sua saída coincide com o período em que eu estou mais animado para escrever no blog, em todos esses tempos. Tenho até um post semi-escrito, chamado “Blogs, não morram”. Não o seu blog, ou os outros dessa época, mas a ferramenta blog em si. Porque é a melhor ferramenta diária de prospecção de conteúdo e de inteligência na internet. E isso nem Facebook nem Twitter (que eu uso também, bastante) vão fazer com a mesma eficácia.

  3. Porra, receber essa má notícia em primeira mão na véspera de um segunda-feira é muita sacanagem. Espero que seja somente um delírio por síndrome de abstinência de Jack Daniels…

  4. Eu deveria dizer lá em cima: Meg *e* sub rosa:
    Rafael, sabe aquelas pessoas que chegam perto, muito a medo de quem quer se jogar das pontes e edifícios – nao é (seu) o caso, mas é a minha reação, o meu comportamento:
    Por favor, não faça isso com uma senhora já entrada em anos 🙂 e muito nervosa.
    Vou achar que a culpa é minha (narcisismo, e megalomania) e não sei o que será de mim. Principalmente, vc sabendo o quanto eu adoro você. E a falta que me faz.
    E alegria vicia, como fazer sem as alegrias que o Google lhe dá?
    Queria escrever melhor, *a coisa certa* e sei que eu poderia fazer melhor, mas por agora, é tudo o que posso dizer. Eu que não vou concordar, nem dizer que tudo bem.
    Um beijo. triste (claro).

  5. Porra, que merda. Mais um que se vai. A qualidade dos textos por aí, só com essa, já caiu uns 40%.
    Abraço,
    Caliban.

  6. esse monte de blog acabou e aí agora esse vai acabar tb. vc é um maria-vai-com-as-outras mesmo, rafael.

  7. Rafael,

    Tô te devendo uma garrafa de Jack Daniel’s. Afinal, li esse blog durante anos sem pagar assinatura.abs.Rodrigo

  8. Ráaa, blogs estão morrendo como moscas após uma baforada de inseticida.

    Cara, só posso dizer uma coisa: eu te entendo! como entendi o Hermê, como entendi o NPTO, e etc.

    E olha q não fiquei nem mais de 1 ano no ar. Tu é um puta guerreiro, caralho, 7 anos…

  9. Supondo que eu pudesse te ameaçar de arrancar seu olho com uma colher, vc continuaria escrevendo?

  10. Rafaé, é uma pena. Esse mundo tá muito rápido e esfacelado pra gente como a gente. Os blogs se tornaram velhas e isoladas caravelas. Abraço.

  11. Mais um blog da pelegada que se vai. A cada dia, o social-fascismo do tucano-petismo fica mais fraco. Viva o Povo Brasileiro! Viva o PCB!

  12. Aos “campos de caça de Manitu”? Puro Tex Willer. 🙂

    Sacanagem, seu Rafael. Tem textos memoráveis neste blog, como aquele sobre Mr. John Daniel’s ou aquele outro sobre o sujeito que gritava na hora do bem bom. Vai fazer falta. Vaya con Dios.

  13. bah, é só um desarranjo intestinal.
    hidrate-se e esperamos todos a sua volta.
    já dissemos que não existe ex-blogueiro.
    :>)

  14. Fui pego de surpresa com a notícia. Mas já me especializei em fechar blogs, sei como é. Manter por obrigação não tem graça. Saudade mesmo daqueles tempos de 2003, quando a gente escrevia sem nenhum compromisso…

  15. Vá à merda, meu.
    Mais um buraco no meu dia-a-dia. O problema é que ser o hermê e o NPTO tá tudo ficando muito esburacado.

  16. Quem mais vai alertar os outros sobre o GOLPE DO CINEMA DE AUTOR, Rafa? 🙁

    Abraços e sucesso, meu velho.

  17. Mais um que se vai.
    Conheci seu blog por acaso no longínguo ano de 2008; desde então assinei o RSS e leio as atualizações.
    Nunca comentei aqui por pura indolência, é verdade. Mas agora sinto-me obrigado a dar meu singelo adeus.

    Adeus Rafael.

  18. eu tb comecei faz um tempão. Em 2004, no blig. Depois fui mudando ate o word press atual. Continuo com a mesma frequência mas os comentarios diminuiram muito. Acho que o tempo dos blogs já passou. Mas eu sou fiel. E vicio fácil. Não consigo parar. Sempre tenho a esperança que um dia um neto, um amigo, algum maluco qualquer vai me ler e curtir. E eu gosto de pensar que alguém vai ler e gostar. Me sinto uma dinossaura mas eles – os dinossauros- foram grandes. E são lembrados sempre.
    Acho que é isso: a esperança da imortalidade dinossáurica.
    Não para não, cara. Descansa um bocadinho e volta.

    Aqui deste lado tem uma dinossaura que sempre gostou de te ler.

  19. Rafael,

    Uma pena a sua decisão. Mas é soberana. Bons textos, ótimas idéias arremessando-nos à inércia de pensar, sem parar.

    Valeu véio. Ficamos no aguardo de uma reconsideração. Isso aqui é como a cachaça. Ou o tesão, passa, mas volta.

    Um grande abraço do Sul, de SC.

  20. Que é isso meu velho?

    Vamos abrir um Jack, colocar o Rubber Soul na vitrola, ouvir In my life, ensoberber, ter umas alegrias com os googlers, assitir um bom noir e voltar à ativa meu caro!

    Um grande abraço de um Beatlefan do Acre.

    🙂

  21. Porra, que infelicidade. Daqui a pouco vamos ficar só com os “blogs progressistas”. Nada contra, mas só eles é foda.

    E ainda mais deixando a gente com esse template de viado.

  22. Reverenda merda! Não há mais nada para ler nessa pôrra de rede. NINGUÉM tem um texto como o seu em nenhum lado. Tamo fudidos, cada vez mais.

  23. Sensação de tristeza e compreensão. Teu blog sempre foi um preferido pessoal, dos poucos que eu parava o que estava fazendo pra ler. Tu sabe disso, mas vale dizer de novo: teu texto é sensacional. Não se lê frase tua impassível; sempre motiva, sempre é início de uma reflexão, de ação, de crítica.

    Mas é isso aí. No fim das contas o tempo passa e deixa de ser divertido e é bom poder simplesmente fechar tudo e dizer “pronto, chega”. Bora virar fantasma.

    Grande abraço, amigo.

  24. não ..
    vc não deu pinta que pararia.
    ficou aí o fim de ano curtindo a eleição da dilma e (certamente) merecidas férias … e voltou legal, escrevendo, fazendo rir … escrevendo o que gosta. e etc., enfim. deu pinta não ..
    que que houve? aconteceu algo além do tédio?
    quer “se abrir”? (rs.)
    não .. o bia é que deve estar com a razão … deve ser mesmo só uma “desinteria” (gostou né .. foi pra relaxar).
    vai … esvazia o bucho lá e volta, que a gente espera.
    Abrassss.

  25. Ó, um amigo meu também teve isso. Dá que passa.

    E, apesar de não estar na lista seleta que você botou aí, anote: quando vier a BSB, tem casa, comida e roupa lavada. Por nuns dias, não vai querer encostar, pô.

  26. Dos sete anos, sou leitor há seis e lamento muito a decisão de parar. A espinha dorsal da minha “Santíssima Trindade” (você, Biajoni e Alex) foi irremediavelmente quebrada. Torcendo para que reconsidere, desejo sucesso e paz! Obrigado!

  27. É engraçada a minha experiência com esse blog.

    Acabei de conhecer, através do Google Reader do @inagaki, e já me deparo com o seu fim.

    Sensação estranha…

  28. Obrigado, Rafael.
    Desde 2004 acompanho seu blogue e não poucas vezes me diverti genuinamente, tanto nas seções de humor escrachado (As alegrias que o Google me dá), quanto naquelas em que às vezes a suave e ferina ironia só vem no final.

    É isso.

    Uma pena que isto terminou. Mas a vida é composta por ciclos. Para que o novo surja é necessário que o antigo se finde.

    Boa sorte, Rafael.

  29. Também sou um leitor antigo, e é com tristeza e nostalgia que leio esse post.

    Muito obrigado, Rafael, por nos brindar com seus brilhantes textos.

    Sentiremos falta, com certeza.

    Abraço.

  30. Ce tá achando que este bloguicídio vai lhe render 30 virgens no paraíso dos blogs? Acredita nisso não, Seu Rafael.
    Lamentável!

  31. Rafa,

    A recíproca é verdadeira: também aprendi muito com você.
    Será difícil substituir os excelentes textos e a diversão que encontrei aqui. Triste perda. 🙁

  32. Conheci este Blog pelo Idelber Avelar. Nunca pensei que blog fosse como gente: um dia se acaba. Pelo que li nos comentários cê vai deixar muitos órfãos, como se diz. De toda forma gostei de ter conhecido Rafael Galvão. Aproveite o máximo! Tomara que cê volte um dia. Boa sorte!

  33. Não aposto em volta porque sou covarde demais pra apostar; porém, torço muito pra que seja uma mera desinteria.

    Esse blog tá no meu top 2, por assim dizer. Empatado com o outro. Sinto, já, falta das suas opiniões controversas, da sua ironia finíssima, do seu talento pra sacanear os outros…

    Infelizmente, vão sobrando apenas os blogs chatos… não entendo essa “seleção natural” que tá acontecendo na blogosfera. Para mim, por enquanto, só tá servindo o Biscoito…

  34. Antes teu blog não abria aqui. Hoje abriu. Tava dando uma olhada e oba! Fui citada!

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