Eu não gosto de militantes vegetarianos. Me dão preguiça, sempre deram. Mas de uns tempos para cá começam a incomodar.
A minha preguiça era principalmente estética, e obviamente não se aplica apenas aos militantes. Eu realmente não consigo compreender o que leva uma pessoa em sã consciência a abjurar o sabor do sangue que escorre de uma picanha mal passada, ou aquele fenômeno da natureza comparável à aurora boreal: aquilo que chamam de marmorização da carne de vitela. O bichinho, coitado, vai morrer de qualquer jeito, mais cedo ou mais tarde; que seja para vir parar na minha barriga. Eu sinceramente acho a vida dos vegetarianos mais pobre, e tenho pena deles por isso. É como se faltasse algo — uma costela, por exemplo. Vegetarianismo, para mim, não é consciência: é deformação de caráter.
Mas os militantes, aqueles que fazem de sua vida uma pregação constante, estão passando a me irritar. Talvez porque adquiriram mais e mais visibilidade; talvez porque, como acontece com virtualmente todo movimento, à medida que esse negócio de comer só mato vai se espalhando como metástase e tendo suas ideias mais aceitas, vai desenvolvendo também um certo tipo de proselitismo fundamentalista, uma certeza puritana de que só eles estão certos e que é dever sagrado de cada um levar a Boa Nova aos gentios, salvar o mundo dos meus pecados.
É basicamente a mesma certeza bovina de evangélicos e antitabagistas, sonhando com um mundo chato, sem sabor. A diferença está na aceitação e, principalmente, na composição social. Porque eu, pelo menos, não conheço vegetariano pobre: são sempre de classe média ou ricos. Não é à toa que esse negócio é mais forte na Europa, especialmente na sede do antigo Império Britânico. Vegetarianismo e suas variações são perversões de sociedade rica e autocomplacente, que acha que alimentos nascem em sacos de papel alumínio e que supermercados são chocadeiras de ovos orgânicos. Pobre — e aqui incluo a nova classe C — não pode se dar a esse luxo; precisa antes passar ao nível de comer aquilo que os vegetarianos, de barriga cheia, desprezam. Imagine o sujeito que mora no sertão do Piauí se dando ao desfrute de dispensar um bife de alcatra. Seria linchado pelos seus conterrâneos, e com razão.
Essas coisas — e as roupas feitas de fibras naturais, cultivadas no estilo príncipe Charles, em que se fala carinhosa e às vezes até libidinosamente com as plantas — são coisas de rico porque, se não fosse tudo isso a que esse pessoal hoje pode se dar ao luxo de virar as costas, a galinha de granja, a soja transgênica, mesmo os agrotóxicos que possibilitaram os aumentos constantes de safras e de áreas cultivadas, ao mesmo tempo em que barateavam os preços, a profecia de Malthus se teria cumprido já há algum tempo.
Que Deus abençoe as granjas e os frangos criados nelas. Antes delas, o Barão de Itararé dizia que quando pobre comia frango, um dos dois estava doente. Ou seja: foi esse frango criado em condições aparentemente desumanas, repleto de hormônios para que possa ser abatido o quanto antes, que possibilitou a inversão desse estado deletério das coisas. Sem isso, sem esse ganho de escala, frango continuaria sendo iguaria para poucos.
Talvez seja verdade o que dizem, que esses frangos fazem mal à saúde em longo prazo. Mas, se fazem, eu sou capaz de apostar que os pobres que hoje comem seu franguinho ensopado vão morrer mais felizes daqui a uns 30 anos do que aqueles que só tinham farinha e, eventualmente, jabá de jumento para comer e morreriam depois de amanhã.
Os militantes europeus que protestavam contra a soja transgênica no Brasil (num momento em que virtualmente todos os grandes produtores brasileiros já tinham aderido a ela, a propósito, e o processo já era irreversível) não ligam em subsidiar a sua agricultura cara e ineficiente em detrimento da agricultura dos países do terceiro mundo. São aqueles que podem dar mais de 25 euros num quilo de filé mignon (é o Allan quem me faz o favor de informar, e a ele sou eternamente grato; também me diz que a carne italiana não tem lá muito gosto, e minha admiração pela bota diminui um pouquinho). São os pobres coitados que, com paladar embotado e sustentados pela certeza messiânica de estarem sendo superiores à humanidade animalesca, já não sabem a diferença entre acém e filé mignon.
Dentre as perversões desse pessoal, uma em especial é curiosa: uma tendência tatibitate ao antropomorfismo, agregando emoções e qualidades humanas a animais, e tentando nos fazer crer que somos todos iguais, nós e os bichinhos. Vi há algum tempo uma dessas imagens de Facebook em que havia dois gráficos: uma com um desenho de um homem acima dos outros animais, outra com o homem no mesmo nível e uma pergunta, algo tipo “Dá para entender agora”?
É essa arrogância que é irritante (a única arrogância que toleramos é a nossa, afinal). Porque não é que a gente não entenda a maneira como eles pensam. A gente entende. Só que acha uma grande imbecilidade. É muito triste ter que dizer a um adulto que não, nós não somos iguais aos outros animais desde o momento em que amarramos uma lasca de sílex a um pedaço de pau, e passamos a transformar o mundo em que vivemos, em vez de apenas nos adaptarmos. Não é só uma questão de desejo. Ou melhor: somos diferentes desde a hora em que aprendemos a fazer fogo e cozinhamos a carne de um bichinho fofinho como um mamute para que ela ficasse mais macia.
Essa “superioridade” nos obriga a concessões, claro. Não se trata aqui de continuar a defender aquele modelo de consumo que viabilizou a evolução econômica do mundo e levou mais qualidade de vida para cada vez mais pessoas. O processo civilizatório custou caro ao planeta, claro; mas a questão não é voltar as costas a tudo isso, é saber como garantir essas conquistas. É saber se o mundo pode pagar de maneira permanente esses custos, e garantir as condições para isso.
Há algumas semanas vi uma coisa no Facebook que me deixou meio bobo, meio descrente: o germe de uma campanha em prol da construção de um hospital veterinário público. É a classe média, velha e nova, sentindo o peso da ração e das vacinas no orçamento familiar. (Não duvido que daqui a pouco venham a pedir que as farmácias populares deem ração de graça.)
A saúde pública tem problemas muito graves: de gestão, de profissionais e de dinheiro. Vem melhorando nos últimos anos, universalizando-se aos poucos; mas só um gestor irresponsável e canalha teria a pachorra de dizer que ela funciona a contento. No entanto um grupo de gente doida acha que a situação dos cachorrinhos de madame e dos gatos que pouco a pouco vão se tornando os animais de estimação preferenciais de um mundo fragmentado, substituindo aos poucos as relações humanas, deve merecer a mesma atenção.
Eu gostaria de acreditar que esse pessoal que pede a um Estado problemático — que não consegue garantir saúde para todos os seus cidadãos — dinheiro para um hospital veterinário público jamais foi aos corredores de um pronto-socorro público de grande porte. Mas já há algum tempo acho que não faz diferença. Que é uma questão simples: é gente mais preocupada com os bichos bonitinhos que criam do que com pobres malcheirosos gemendo numa maca, no corredor de um hospital.
O que me assustou foi a tentativa de mobilização, a ideia imbecil de pressionar o Estado para que ele cuide dos seus poodles e yorkshires. É paradoxal que justamente essa capacidade de raciocínio, essa consciência de nossa existência e de nossa finitude que nos faz humanos traga dentro de si justamente o germe de sua autodestruição. É para isso que esse pessoal quer lutar? Por sorte o conceito de luta deles é diferente, consiste em dar likes em fotos no Facebook. Eu teria medo desse pessoal realmente organizado, porque algo neles me lembra o “Planeta dos Macacos”, com seus arremedos de civilização.
Você devia ler mais sobre zoonoses e controle populacional de animais antes de falar sobre hospital público veterinário. O maior interessado nisso é o homem, gostando de bichos de estimação ou não.
Juliana.
E para que servem mesmo os centros de zoonoses das prefeituras municipais?
Minha avó, mesmo quando pobre (costureira e casada com um mecânico), era vegetariana, mas, como não a conheceste, teu ponto “porque eu, pelo menos, não conheço vegetariano pobre: são sempre de classe média ou ricos” continua válido, eu imagino. Brincadeiras à parte, eu imagino que deve haver algumas posturas humanitárias, progressistas, etc. que são mais frequentes nas classes mais ricas, mais cosmopolitas, supostamente, mais -e melhor- instruídas do que nas outras e com mais tempo livre. Enfim, as elites econômicas não podem ser responsáveis só pela taxa de juros e pela sonegação, elas devem ter uma virtude redentora ou outra.
É quase inacreditável tua argumentação no texto. No mau sentido, claro. Não é incomum esse mal-entendimento da causa dos vegetarianos e ativistas dos direitos dos animais.
Primeiro de tudo, que medo é esse de perder teu espaço na sociedade para os animais? Eu poderia comparar isso com o medo que algumas pessoas têm de perder seu espaço para os homossexuais (“ditadura gay”), os pobres (“orkutização do twitter, facebook”), os negros (“contra cotas raciais”). Lembra como trataram os judeus, né? Lembra que também usaram o teu argumento da “superioridade”. Enfim, os animais não vão tirar teus direitos de comer carne nojenta sangrando, aquela que volta e meia te desidrata desnecessariamente e te deixa com a digestão e o metabolismo lentos, problemas intestinais, etc. Isso é uma escolha sua. O corpo é seu. Agora, só porque isso te satisfaz, não venha atacar quem não compartilha dos teus hábitos, compreende? Fanáticos existem em todos os lugares e teu discurso não difere muito de um não. Hábitos alimentares são culturais. Vejo que tu esqueceu de populações asiáticas inteiras que não comem carne e não são o povo mais triste do mundo.
Outro ponto. Um hospital veterinário público cuidaria de milhares de cães abandonados, com tratamento de maus tratos, castrações, ajuda em adoções, etc. O estado já garante isso tudo ao ser humano, por que não para os animais? Vai usar o argumento de que eles não pagam impostos, é?
O problema, Thiago (e Rafael), é que toda a argumentação do texto é pobre, comete esse tipo de lógica rasteira, “se a classe média gosta, é porque é ruim”, “se eu nunca vi, é porque não existe” e apresenta argumentos típicos de socialite, como “já estou cansadinha desse tipo de coisa”. Na verdade, o autor realmente nunca viu muita coisa, nunca conversou com um vegetariano informado e inteligente, é como criticar socialistas falando do governo da Coreia do Norte (o que deve ser feito, mas não só). Em tempo: não sou vegetariano, gosto muito de uma picanha, mas detesto a manipulação simplificadora de argumentos que visa apenas desqualificar seu defensores. Nada mais autoritário.
Thiago,
Várias posturas de classes mais altas são mais progressistas. Na prática, na verdade, é quase norma. Veja por exemplo a abordagem do problema de segurança pública. Vegetarianismo não é uma delas, no entanto, porque não implica necessariamente progresso.
Adriano,
Sinceramente, não entendi nada do seu argumento. Medo de perder espaço? O que é isso? Você tem certeza de que leu o texto? E o trecho em que você fala “os animais não vão tirar teus direitos de comer carne nojenta sangrando, aquela que volta e meia te desidrata desnecessariamente e te deixa com a digestão e o metabolismo lentos, problemas intestinais, etc.” é um exemplo dessa arrogância que me dá preguiça. Finalmente, vá num hospital público e depois venha repetir aqui que o Estado garante saúde aos seres humanos. De qualquer forma, faço a você a mesma pergunta que fiz à Juliana: você sabe que diabos são os centros de zoonoses das prefeituras municipais?
Rocco,
A lógica aqui não é a de que “classe média gosta, é ruim”, e sim a de que vegetarianismo é luxo de sociedade rica, mesmo que não garanta o mínimo para os mais pobres, e o de que seu proselitismo é um pé no saco. Há uma diferença que você parece não ter entendido. E é brincadeira chamar de “autoritário” um post num blog desconhecido, né? Aliás, pelo contrário: se você lesse os comentários, vai ver que a minha opinião é minoritária. Autoritários são vocês.
Rafael, você realmente tem problemas com lógica:
1) Você disse, sim, que nunca viu pobres vegetarianos, só classe média e ricos, donde se infere que esses pobres não existem (inferência curiosa, mas presente em seu argumento). Como a premissa não é verdadeira, você deveria rever seu argumento.
2) Proteger o meio-ambiente também é luxo de sociedade rica, como fazer próteses dentárias em vez de só arrancar dentes, antes de “garantir o mínimo para os mais pobres”, e daí? Pelo seu argumento, não se deve ouvir música.
3) O “proselitismo” de quem quer esclarecer os crimes da ditadura é um saco para quem não quer. Ou seja, seu único problema com esse proselitismo é que não lhe agrada o que ele defende.
4) Eu não chamei seu post, muito menos o seu blog, de autoritário, e sim seus argumentos e a maneira como os apresentou, contrariando argumentos que seus interlocutores não usam e os desqualificando por questões não relacionadas ao tema.
5) Vocês, quem? Já disse, não sou vegetariano, só acho que começar um debate falando de quem ‘come matinho’ desqualifica qualquer interlocução. É típico da condescendência que oculta a falta de argumentos e de disposição para aprender, se for o caso. Eu conheço muitos bons argumentos para não ser vegetariano, mas não falava sobre isso no meu comentário.
6) Autoritário não é o contrário de minoritário. Há muitos minoritários autoritários.
Rafael:
Você está cem por cento certo, porem voltamos a aquele caso da sociedade em que TODOS (incluido aqui animais) tem direitos iguiais, ninguem…
Rocco,
Pelo visto, quem tem problemas com compreensão aqui é você:
1 – O fato de eu só conhecer vegetarianos de classe média para cima não é o argumento central do post, a não ser para você. Eu já disse isso no comentário anterior, e é chato precisar repetir aqui. Se você não entende o que quer dizer “eu, pelo menos”, não sou eu que vou conseguir te explicar. E falando sobre problemas de lógica, essa premissa continua verdadeira. Eu continuo sem conhecer vegetarianos pobres. Só na sua lógica particular é que essa premissa, absolutamente pessoal, deixa de ser verdade apenas porque você quer.
2 – Não misture argumentos nem invente coisas. Em nenhum lugar do post se disse que não se deve proteger o meio-ambiente. Você surtou.
3 – Você está agindo de má fé ao misturar uma ação política de revisão histórica, como o caso dos crimes da ditadura, com a advocacia e propaganda de um “modo de vida”, como se fossem a mesma coisa e tivessem o mesmo peso social. Não faça isso. Isso é feio.
5 – Se você não percebeu, o post não é uma discussão sobre argumentos pró e contra vegetarianismo.
4, 6 – Então tudo bem, autoritários são os argumentos. Quer dizer que dar uma opinião, com os argumentos que eu quiser, é autoritarismo? Meu filho, menos. Autoritarismo, na prática, pressupõe o uso de algum tipo de força coercitiva. Já opinião é só isso, opinião, e alegar autoritarismo num caso desses só pode ser brincadeira. Deixa eu explicar o beabá: quando o general diz que a democracia não funciona, ele esta dando uma opinião (tendo ou não direito à ela). Quando ele fecha o Congresso, ele está sendo autoritário. Além disso, o fato de você estar discutindo uma opinião contrária à minha aqui, por si só, já é indício de um mínimo de democracia. Comentários aqui não são direito de leitor, são cortesia da casa.
Rafael, se eu acho que você tem problemas com lógica, não deveria esperar que entendesse a lógica do que eu digo. Não entendeu, respondeu coisas que eu não disse e não respondeu às que eu disse.
Se você acha que o autoritarismo só começa com o fechamento de parlamentos e que não há posturas autoritárias em debates abertos, realmente fica difícil discutirmos, de tão pueril e diversionista que me parece o argumento. Quando os parlamentos são fechados, geralmente é porque o autoritarismo começou muito antes.
Mas isso é só a minha opinião, e agradeço a cortesia da casa. Você tem razão e eu peço muitas desculpas, blog pessoal é como umbigo, o dono faz dele o que quer. Eu só entrei no debate porque seu texto foi publicado no Sul21, um espaço um pouco menos individualista. Não voltarei a fazer. Tudo de bom para você.
Pelo teor de alguns comentários que às vezes não da pra contrariar os que dizem que o blog é o crepúsculo da inteligência no jornalismo.
Como tem gente manipulada neste mundo! É religião, é alimentação, é preservação da natureza, é política, ou seja, qualquer onda idiota todo mundo vai atrás. A última aqui em São Paulo é a proibição de a sacolinha de plástico do supermercado que foi proibida, porque, supostamente, seria o responsável por toda poluição do mundo, entupimentos de bueiros, etc., como se essa fosse a única embalagem plástica do mundo. A gente é prejudicada e ainda bate palma.
Que incapacidade, ou falta de coragem, de pensar inacreditável.
Várias posturas de classes mais altas são mais progressistas. Na prática, na verdade, é quase norma. Veja por exemplo a abordagem do problema de segurança pública. Vegetarianismo não é uma delas, no entanto, porque não implica necessariamente progresso.
Ah, sim, claro: só quis dizer que o vegetarianismo não sofre de “vício de origem” só por ser, geralmente (lembrai-vos da minha avòzinha-com sinal agudo e tudo mais), emcampado pelas classes dominantes.
O sistema, antes, não permitia editar os comentários?
Serge,
Quanto às sacolas, a proibição me parece uma boa. O problema é como substituí-las. No meu caso, eu reutilizo as sacolas de supermercado, no lugar de sacolas plásticas de lixo. Aqui não tem coleta seletiva. Ou seja, eu trocaria seis por meia dúzia.
Thiago,
O vegetarianismo, em si, não. É uma dieta, só isso, e uma escolha pessoal. Eu acho mais pobre, mas o que cada um come não é da conta de ninguém. Eu, por exemplo, queria comer a Ana Hickman e ninguém tem nada com isso. Mas a militância vegetariana é, para mim, uma opção para sociedade rica, e isso é discutível, sim, porque a questão de classe aí é importante e decisiva: sociedade pobre nào se dá a esse luxo. Quanto aos comentários, tenho que falar a verdade e dizer que nunca entendi muito disso, não. Mas vou tentar ver aqui. E eu praticamente aprendi a ler em livros com essa ortografia pré-1971. 🙂
Rafael:
Os supermercados tiraram as sacolas e não colocaram outra embalagem no lugar como sacos de papel, por exemplo, igual a vários paises do mundo. O que aconteceu foi que os supermercados dando uma de politicamente corretos e simplesmente aumentaram seu lucros não tendo mais de comprar milhares de sacolinhas, assim prejudicando seus clientes que ficam que nem retardados com suas compras nas mão.
É o fim da picada!
O Rafael tocou num ponto importante que o Rocco (e talvez outros) parece não ter percebido. Não é uma questão de ser vegetariano ou não. Embora o vegetarianismo seja de fato mais comum nas classes mais altas, é óbvio que existem vegetarianos pobres. O ponto é a militância. Isso sim é uma exclusividade de grupos de classe média ou alta; o Rafael tem toda a razão. Ficam advogando toda sorte de medidas pela vida dos animais porque não conhecem ou não dão a mínima para o que acontece com seres humanos.
Olha, eu, na verdade, só vou começar a me importar com direito dos animais no dia em que nenhum ser humano estiver passando fome, ou sendo maltratado, ou vivendo na rua. Humanos ainda são prioridade para mim, e não vou abrir mão deles por uma tendência como essa. Claro que não defendo o abuso ou maltrato de animais. Mas hospital veterinário público? Ah, faça-me o favor, meu filho: acorda pra vida.
Eu, pra variar, gosto de vir aqui.
Em meio ao teu post, me veio na cabeça a imagem do Cameron aqui nos tupis, protestando contra a elo Monte (ou foi a de Jirau ou outra grande aí … , tanto faz.). Logo um americano, né.
Tá certo, e eu até não sei ao certo, que os States protejam suas reservas, e tale e coisa. Mas só ao lembrar em Kioto, que a conta não fecha, né?
Quanto a ser ou não vegetariano, cada um é cada um, e o certo seria: sou, vc não: foda-se. Como disse, cada um é cada um.
Mas não, e creio que vem daí sua preguiça. Querem convencer quem não quer ser convencido. Mas não é um problema de, digamos, vegetarianos e sim, digamos: homens?
Sabe qual é o sentimento mais lídimo, legítimo no homem? Não é o amor, a amizade, ou nada dessas baboseiras: é o instinto de sobrevivência, e não estou dizendo nada novo. Basta ler o código penal ou a história da humanidade, e boas.
Rafa: é sempre bom vir no teu buteco, viu? Grande abraço.
Já aos caras aí de cima, cara: é sempre muito divertido isso. Vc não faz idéia.
Abrassss.
Nunca vi ativista defender os camundongos ou os ratos de esgoto. O metrô de São Paulo chega a ter um departamento só para exterminar ratos que roem os cabos. Que eu saiba esse pessoal pega metrô também. Mas não, eles gostam das vaquinhas, dos porquinhos, dos caezinhos, etc. De animais fofinhos cuti-cuti. Eles falam em “especismo”, mas os maiores especistas são eles mesmos (não que eu ache que a teoria que defende essa igualdade entre espécies tem algum sentido).
“Outro ponto. Um hospital veterinário público cuidaria de milhares de cães abandonados, com tratamento de maus tratos, castrações, ajuda em adoções, etc. O estado já garante isso tudo ao ser humano, por que não para os animais? Vai usar o argumento de que eles não pagam impostos, é?”
Sim, é isso.
Se você quiser ter um animal domestico então cuide dele. Se você se revolta com aqueles que abandonam seus animais então se empenhe em penalizar essas pessoas e/ou cuidar dos bichos largados, e faça isso via recursos particulares. Evite a coerção em relação aos outros: os obrigando a pagar por um hospital público para animais. Já pagamos a conta da Zoonose, que apesar de zelar pela saúde pública por vezes emprega seus recursos em problemas causados por particulares.
E não: a defesa de um hospital público para seres humanos , apesar de também ser coercitivo, nunca irá validar o mesmo argumento para um hospital público voltado à animais.
Será que você não consegue distinguir e preceber que seres humanos e animais possuem naturezas distintas, e logo pedem tratamentos diferenciados?
Rafael Galvão, a internet era muito mais pobre sem tu, fio. Que bom que tu voltou. Compartilharei esse texto no Facebook, onde a maior dos meus amigos abate javalis a tiros de rifle e os come com prazer.
Caro André, a pecuária é uma das grandes responsáveis pela fome no mundo. Não sou eu a dizer isso mas a FAO. (procura por FAO no google e verás os últimos relatórios sobre a expansão da pecuária no mundo). Eu entendo o teu argumento porque já pensei igual a você. (sou quase vegetariano e me envergonho de ainda não ser pelo mesmo argumento, isto é, pela fome humana). Acontece que a maior parte dos grãos, e justamente os grãos mais proteicos, vão todos para alimentar o gado, e, deste gado, apenas um pequeno percentual vai parar na mesa do pobre. O que o relatório diz é que, se os grãos fossem divididos pela população mundial, no lugar de ir para a barriga do gado, nós já não teríamos fome no planeta. Então a carne é um luxo do rico que custa ao pobre a sua fome.
Também os nutrólogos que estudam o vegetarianismo afirmam que uma dieta a base de vegetais é perfeitamente saudável, até mais do que a dieta que inclui carne.
Por fim, Rafael, vegetarianismo para alguns é dieta, mas para outros (e no caso para os militantes que foram aqui criticados) é uma escolha ética. De pessoas que não aceitam a morte desnecessária de animais inocentes.
Zeca, Os defensores de direitos animais são veganos, não vegetarianos. E eles defendem também os ratos, as pombas e todos os demais seres sencientes.
A chatice que, de fato, deve representar a militância é equivalente à chatice que representou a defesa dos escravos no Brasil na época da escravidão humana. É o risco que corre todo militante, mas é do jogo querer ampliar a consciência dos demais. E tem um filósofo que dizia que as ideias novas passam por três estágios: a ridicularização, a oposição violenta (quando a anterior não teve efeito) e, por último, a aceitação. Embora esta terceira fase às vezes nunca chegue. Veja-se, por exemplo, a rejeição às cotas raciais nas Universidades. O racismo é até crime, mas, quando não se extingue, ele encontra outras formas de se manifestar. Assim será com os animais. Mesmo que um dia seja crime explorá-los, haverá formas e formas de manter tudo igual.
Eu sou contra hospital público em geral. Acho um absurdo que eu tenha que ajudar a sustentar o tratamento de gente que come carne, leite e ovos e depois fica com as veias entupidas, tem infarte, avc, câncer de intestino e eu, que sou vegano, não tenho nada com isso, e tenho que pagar essa conta. (Ei, ei, estou sendo irônico, ok?… e a lista de doenças é bem maior)
TOUCHÉ!
Qualquer dia desses eu envio pra você uma peça de CARNE de fumeiro daqui de Salvador, em recompensa aos seus serviços prestados em prol do bom andamento da vida e das conversas boêmias.
Mas ó, o que me irrita nesses militantes vegetarianos não é nem mesmo a tendência chata a evangelizar, mas é a transformação desse discurso em algo passível de justificação/legitimação/verificação. Como se reconhecer a igualidade entre homens e animais fosse a etapa seguinte do processo de esclarecimento e emancipação racional, um novo patamar dos avanços científicos que, uma vez alcançado, deixa pra trás o período de sombras no qual IGNORÁVAMOS nossa condição equitativa, pois desconhecíamos, por exemplo, o fato de partilharmos estruturas nervosas semelhantes. “Somos iguais, temos sistemas nervosos semelhantes, eles sofrem como nós..” — eles dizem. Como se mudar de eixo e adotar uma nova posição a esse respeito fosse uma questão de esclarecimento e não uma mudança na nossa própria forma de vida. Matéria para convencimento — e não persuasão. Acho que essa questão dá um bom exemplo pra ilustrar um comentário que eu quero fazer. De certa maneira, meu ponto poderia ser indicado (ao modo wittgensteiniano) pela seguinte pergunta: “Por que um flamenguista NÃO tenta convencer um vascaino a torcer pelo seu time mediante estatísticas e números que, supostamente, demonstram ser o flamengo uma melhor escolha? Ou melhor, por que ele NÃO tenta convencer um torcedor do Remo ou do Paysandu (lá ele)”. E a resposta é uma maneira de sugerir o que eu quero dizer..
Depois eu lerei os comentários porque, sem dúvidas, eles devem ser tão divertidos quanto o texto!
Discordo totalmente ;e justifico; …”QUEM COME VEGETAL É VEGETARIANO” ?????? (AÍ SE INCLUA TAMBÉM OS “MATINHOS” citados no texto) E,então …quem mais come vegetal neste país, … e exatamente por FALTA DE OPÇÃO…, já que a “CARNE”, inclusive à de “2ª” ,está num patamar inascessível para a maioria da população .. E são JUSTAMENTE OS MAIS POBRES …. , os assalariados, os sem salários, os catadores de resíduos recicláveis, que consomen os CRITICADOS VEGETAIS , e com certeza ficam felizes se pelo menos, os vegetais ou matinhos, puderem estar presentes na maioria dos 30 dias do mes na mesa, para fazer “O SOPÃO” , ou… acompanhar o ARROZ já que o FEIJÃO, virou ARTIGO DE LUXO.
Tudo bem que é saudável, todos precisamos das fibras fornecidas pelos vegetais, a diferença entre os “POBRES” e os “RICOS” , é que estes escolhem o VEGETAREANISMO, por opção, já os “POBRES” , POR FALTA DE OPÇÃO …. ainda que acabem se beneficiando de alguma forma desse hábito alimentar…
Também quero deixar aqui meu protesto com relação à absurda Lei das “SACOLINHAS DOS SUPERMERCADOS” , mais de algumas redes, que muito espertamente passaram a explorar, um novo produto as sacolas retornáveis… COM A DESCULPA DE COLABORAR COM O MEIO AMBIENTE
com isso é claro aumentar seus lucros com a venda de SACOS DE LIXO “DE PLÁSTICO”, porque claro que teremos de embalar o LIXO, antes de descartá-lo, e vamos comprar aonde … NO SUPERMERCADO, quer dizer ..QUANDO ELE ..SUPERMERCADO VENDE AS SACOLAS RETORNÁVEIS, E OS SACOS DE LIXO DE PLÁSTICO, tá colaborando com o MEIO AMBIENTE….
Olha o absurdo da situação das sacolinhas… Há uns 3 meses atrás, comprei 6 almofadas e 1 conj.de panelas no “EXTRA”, depois de passar pelo caixa, fui como de outras vezes no SAC, onde se obtém embalagens apropriadas para OS PRODUTOS DE BAZAR/ VESTUÁRIOS/ ELETRO ELETRÔNICOS ETC… , fui informada que desde SETEMBRO/11, o EXTRA já não estava fornecendo sacolas plásticas, porcausa DA LEI DAS SACOLINHAS…
Como a Loja fica junto com o MERCADO, que se dane o “CLIENTE”, que como “EU” depende do transporte coletivo, e teoricamente deveria ter se informado que não teria direito à embalagem
antes de passar pelo caixa, detalhe ainda que sob protesto eu quisesse comprar à loja não comercializa sacolas de grande porte, ou seja não te dão opção …. como o consumidor é a parte fraca reclamar prá quem??? Prô imbecil que teve a idéia que salvar o planeta… “QUER SALVAR O PLANETA” comecem incentivando as COOPERATIVAS DE CATADORES, AS INDUSTRIAS DE RECICLAGEM, fiscalizando a exploração que existe nesse setor dos atravessadores, que não pagam preço justo, campanhas demonstrando o valor da atividade desses trabalhadores que contribuem “ELES” … sim com o “MEIO AMBIENTE”, vamos parar de DEMAGOGIA …..
Só um comentário, os frangos não tem hormônios. Isso é uma invenção absurda. Hormonizar centenas de milhões de frangos sairia por um preço impraticável. Eles crescem tanto devido à seleção genética. Assim como os bois.