“Dona Olga não tirou essa fotografia em vão.”

Eis uma confissão desnecessária: eu estou longe, muito longe de ser um sujeito modesto. Não tenho culpa, foi Deus que me fez assim.

Mas sempre que leio esses anúncios, tenho a certeza de que precisaria comer muito feijão até ser um redator tão bom.

(Outros três títulos dessa mesma campanha: “Não trabalha na Prefeitura, mas já tapou muito buraco por aí”; “Já passou dos 30. Mas podem vir quente que ela está fervendo.”; e “Roubaram a mulher do Romeu. Juro por Deus que não fui eu”.)

Essa campanha tem quase 40 anos, e foi veiculada em 1978 pela Publivendas, em Salvador. São os textos que me fascinam, que me impressionam além do normal.

São praticamente crônicas da vida comum. Contam detalhes da vida do ouvinte de rádio que mesmo hoje, quatro décadas depois, ainda são verdadeiros. É uma campanha absolutamentebrilhante.

E ela acabou participando de um episódio curioso na minha vida.

Olhando para trás, é assustador que esse episódio já tenha um quarto de século — fazendo aniversário por esses dias, se já não fez.

Eu trabalhava em uma agência de Aracaju e estava fazendo uma campanha para uma rádio local. A primeira campanha que fiz ficou legal, mas foi rejeitada pelo dono da agência.

Fiz uma segunda. E essa ficou muito boa. Leve, engraçada, abrangia os públicos-alvo da rádio. Brincava com nomes locais famosos e tentava se aproximar do universo dos ouvintes. Ela foi rejeitada também.

E aí eu cansei. Tá certo, vamos brincar.

Datilografei os títulos dessa campanha e levei para o sujeito que tomava as decisões. Joguei o melhor papo de vendedor que eu tinha — o que não devia ser grande coisa, porque se eu vendesse bem não seria redator. De novo: “Não tá bom.”

Era a minha deixa.

“Olha, essa campanha ganhou não apenas o Colunistas de melhor campanha de jornal, mas também o Melhores da Década. Mas se você não gostou, paciência. Eles não entendem nada mesmo.”

Pedi demissão uma semana depois.

(A propósito, o título deste post é a legenda do anúncio da dona Olga.)

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