E daí que resolvi fazer uma lista de melhores seriados da história. É que pareço não ter o que fazer, e à medida que vou ficando velho as lembranças de tempos há muito idos parecem mais sólidas do que as de uma ou duas semanas atrás. Além disso, há algum tempo a Rolling Stone publicou uma lista que, calhordamente, desprezou alguns dos seriados mais caros para mim. Isso não se faz e merece uma resposta.
O meu critério não é exatamente técnico, nem totalmente pessoal. Se fosse técnico, não poderia deixar de incluir, por exemplo, I Love Lucy, que inventou o sitcom com três câmeras — e que, 60 anos depois, ainda é um grande seriado. Além disso, um seriado como Law & Order SVU, que anda por aí há quase duas décadas, tem que ter alguma qualidade. Se fosse só pessoal, como deixar de incluir “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, “O Homem do Fundo do Mar”, “Viagem ao Fundo do Mar” ou “Tarzan”?
Mas é uma lista pessoal quando seriados aclamados como Seinfeld, que nunca me disseram absolutamente nada, ficam de fora, enquanto entram outros pelos quais ninguém dá dois tões, como “Daniel Boone”; e técnica quando reconhece a importância de Twin Peaks, embora os 26 anos passados me tenham feito esquecer quase tudo. A ignorância crassa também desempenha cá seu papel: entre tantos outros, eu não vi os dois responsáveis pelo que andam chamando de segunda era de ouro da TV, The Sopranos e The Wire.
Como sempre, a lista está em ordem cronológica.
Além da Imaginação
Hoje ele pode ser visto num site chamado Oldflix. Vale a pena. Porque a obra de Rod Serling é uma daquelas grandes maravilhas que a TV já produziu, e mais de meio século depois, sua qualidade continua inegável. Um seriado que apresentava ficção científica, fantasia, terror, The Twilight Zone (que título lindo, o original) foi das coisas mais inteligentes que já se fez na TV, e uma das mais instigantes. É daquele material atemporal, excelente em qualquer momento que você assista a ele.
Daniel Boone
Preferido meu desde a infância, andei revendo alguns episódios há algum tempo. Do ponto de vista da verossimilhança histórica, “Daniel Boone” é uma tragédia: para aproveitar o sucesso de David Crockett nos anos 50, com o mesmo Fess Parker, vestiram Daniel Boone com um chapéu de guaxinim que o original não usaria nem bêbado. E juntam episódios da história americana distantes entre si para efeito dramático. Mas é o tipo de programa que não é mais feito: simples, direto, repleto de bons e tradicionais valores americanos — contra os quais eu, pessoalmente, não tenho nada. De um tempo em que seriados para a família podia ser mais doces.
Jornada nas Estrelas
O mais curioso é que, quando era criança, eu não gostava desse seriado. Anos mais tarde, vendo os episódios com calma e atenção, finalmente entendi. Quero escrever mais sobre isso, então fico por aqui, por enquanto.
O Túnel do Tempo
Durou apenas uma temporada. Mas quem assistiu às aventuras de Tony e Doug na Ilha do Diabo, em Cracatoa, no Titanic ou na França revolucionária, jamais esqueceu. E, ainda que de maneira torta e às vezes equivocada, aprendeu um bocadinho sobre história. O TCM exibiu o seriado há algum tempo, com a dublagem original da AIC, e uma boa alma disponibilizou o danado na internet. É a que eu tenho em casa.
A Gata e o Rato
Bruce Willis (ainda com cabelo) e Cybill Shepherd (ainda bela): acho difícil que tenha havido em algum tempo um casal com mais química na tela. Aos 15 anos eu queria ser David Addison e namorar a Maddy Hayes — obviamente, não consegui nem um, nem outra; e hoje eu não queria nenhum dos dois. Moonlighting foi um seriado inovador: com diálogos fantásticos e quebrando a quarta parede regularmente, com inteligência, manteve durante duas temporadas um equilíbrio admirável entre comédia e romance nunca concretizado. Até que Cybill Shepherd engravidou e tudo foi por água abaixo.
Married… With Children
Nunca, jamais, em tempo algum alguém foi capaz de conceber um seriado mais canalha que esse. Já escrevi sobre ele aqui, então não vale a pena me alongar. Mas, quase 30 anos depois, ele continua tão engraçado quanto da primeira vez que vi Al Bundy enfiar as mãos nas calças para assistir a mais um episódio de Psycho Dad. Não seria produzido hoje, obviamente; que pena para o mundo.
Anos Incríveis
Quase a antítese de Married… With Children, “Anos Incríveis” é uma das coisas mais doces que a TV já fez, e provavelmente a melhor recapitulação da infância e pré-adolescência que já apareceu na TV. Situando no final dos anos 60, e acompanhando a formação de Kevin Arnold, um eterno otário como todos nós, “Anos Incríveis” estava perfeitamente adequado a seu tempo: embora pareça ser destinado a crianças e adolescentes, é um seriado cujo público óbvio era aquele que, na virada dos anos 90, chegava aos 30 anos.
Twin Peaks
Twin Peaks não era a série policial comum, não era o drama comum, não era nada comum. É provavelmente um dos seriados mais revolucionários de todos os tempos. “Quem matou Laura Palmer” não era a pergunta real a ser feita: era “como é que se pode subverter algumas regras da televisão dessa forma?”
Mad Men
O mais interessante é que essa novela — porque Mad Men é basicamente uma novela das oito — não tem quase nada sobre propaganda: é um seriado de escritório com uma abordagem extremamente dos personagens principais. O final do seriado, em que a canalhice de um dos melhores anti-heróis da história da TV americana, Don Draper, é finalmente recompensada e ele reencontra o seu lugar no mundo, é fascinante — e, finalmente, uma ode aos bons tempos da publicidade, que chegou a ser quase uma forma de arte.
Game of Thrones
Mesmo que a atual temporada, a penúltima, esteja recebendo uma série de críticas, o fato é que esse é uma dos seriados mais empolgantes de todos os tempos. Eu, pelo menos, não tenho notícia de outro seriado que, em sua sexta temporada, conseguisse mobilizar o mundo inteiro, coisa que GoT consegue facilmente. O sucesso dele faz com que esqueçamos que este foi um dos melhores seriados políticos de todos os tempos, ao mesmo tempo em que se recusou a se manter em um só gênero.
Bela lista! “Túnel do Tempo” e “Daniel Boone” passavam coladinhos na Globo lá por 79. Eu incluiria “Get Smart” (criação do Mel Brooks, degringolou nas últimas temporadas), “Magnum” (por nostalgia, eu tinha 10 anos quando começou a passar) e “Everybody Hates Chris” (pronto, falei!). As várias Suelens pelo Brasil afora demonstram a força que os enlatados tiveram nos anos 70/80.
E Pamelas. 🙂
Sim! Uma vez esbarrei até com bebês gêmeos batizados de Jonathan e Jennifer…
Não dá pra esquecer William — que ainda por cima é registrado como Willames.
Peço a sua licença para acrescentar apenas mais duas a sua lista.
– Miami Vice, que mudou conceitualmente até a cidade de Miami.
– Breaking Bad, que mostra que professores, principalmente os ganhadores de premio Nobel, não deveriam se tornar criminosos em hipótese alguma.
Quando Miami Vice estreou não tinha SBT em Aracaju. Quando finalmente assisti, eu me incomodei com a estética. Tinha envelhecido muito mal, para mim.
O tal do Don Johnson era ruim demais. Canastrão por canastrão, fico com o Tom Selleck…
Nossa visão é diferente porque eu quando mais jovem via séries apenas como um entretenimento ligeiro, nunca dei o menor valor a elas. Então as poucas mais antigas da sua lista que eu efetivamente vi (Daniel Boone, Túnel do Tempo e A Gata e o Rato) eram pra mim só isso, uma sessão da tarde em formato seriado — e, ao contrário de muita gente, eu não dou o menor valor em filmes típicos da sessão da tarde como Curtindo a Vida Adoidado e outros assim.
O que mudou muito a minha forma de ver séries foram as séries adultas a partir de Sopranos. Uma que o SBT passava e que depois eu vi em DVD e torrent foi A Sete Palmos, que até hoje eu acho a série mais bacana que eu já vi. Uma da sua lista, Mad Men, entra nesse rol. E a série atual que me fez voltar a ver séries foi The Americans.
Aliás estranhei como tem poucas séries recentes na sua lista, já que comungo da ideia (que hoje é meio consensual) de que vivemos o melhor período para séries na história da “TV” — ponho entre aspas porque algumas das melhores coisas estão surgindo estritamente na internet.
Boa Marcus!
Me esqueci da The Sopranos; a máfia pé de chinelo nunca foi tão carismática, divertida e… tão assustadora!, ao mesmo tempo.
Pra mim, a maior parte dos novos é justamente isso: Sessão da Tarde nos anos 10. Com uma nova estética e um novo padrão dramático. Mas cada vez mais semelhantes. TV é fórmula.
Agora, obre essa nova era de ouro da teledramaturgia americana tem um livro muito bom: Difficult Men, de Brett Martin. Acho que foi lançado no Brasil.
Cara você é do tempo de Daniel Boone? Tudo bem que também sou… Abraço pra você e pro Marcus.
Daniel Boone, Os Invasores, Ultraman e Ultraseven, Terra de Gigantes, Os Pioneiros, Agente 86, Buck Rogers, A Feiticeira, Jeannie é um Gênio, Tarzan, Durango Kid, Rin Tin Tin, Maya, Júlia, Ratos do Deserto, Viagem Fantástica, Starlost… A lista é ainda maior que os anos. 🙂
Perdidos no Espaço…
Tinha também um seriado chamado “Arquivo Confidencial” (The Rockford Files), com o James Garner? Passava na Bandeirantes no fim dos anos 70. Eu era menino pequeno, mas nunca me esqueci. Sem falar em Kojak e Baretta…
Rockford Files conheço de nome, mas nunca vi. Kojak e Baretta eu lembro de passar, assim como Columbo, mas eram exibidos tarde para mim; vi alguns episódios num desses canais de TV a cabo, uns 20 anos atrás, e fiquei impressionado como eram bons.
Agora, eu lembro de uns que quase todo mundo esqueceu: Joe, o Fugitivo, Controle Remoto, Ésper, umas duas versões de O Homem Invisível. 🙂
Rafael:
Dessas que você cita eu me lembro de todas mas me lembro especialmente da série Controle Remoto. Era estrelada por três atores, alternando um por episodio, sendo eles: Hugh O’Brian; Tony Franciosa e Doug McClure. Era uma serie de espiões auxiliados pela alta tecnologia analógica da época.
Eu lembro de poucos episódios. Principalmente com o Franciosa.
Desses que você cita só me lembro de “Joe, o Fugitivo” de nome. Mas nem sei do que se trata. E claro que alguns seriados dos anos 70/início dos 80 eram péssimos mesmo para o meu senso crítico de menino pequeno: “O homem do fundo do mar”, “Buck Rogers”, “Barco do Amor”, “Casal 20″…
Era uma mistura de Lassie e O Fugitivo: um pastor alemão fugia de seu treinador por um erro que não cometeu, e no caminho ia ajudando as pessoas. Passou aí pelo verão de 79/80, na TV Aratu/Globo.
Ah, lembrei! Um primo meu batizou seu pastor alemão de Joe por conta desse seriado.
E Buck Rogers era legal. 😉
Wagner e Rafael:
A Arquivo Confidencial (Rockford Files) era bem legal, o Jimi Rockford sempre apanhava dos bandidos e sempre combinava o preço dos seus serviços em 200 dólares por dia mais despesas apesar quase nunca receber por diversos motivos.
Agora, a grande curiosidade fica por conta do piloto da série, com duas horas de duração, que teve a participação do lendário Bruce Lee fazendo a papel de vilão e, acreditem, morrendo graças a um gambito do Jimi Rockford. Nem sei como me lembro disso, faz mais de 40 anos que vi esse filme.
Eu sempre via e adorava, mas não me lembro com detalhes, pois era muito menino. Mas meu pai, que é bem exigente e mais chegado a cinema europeu, era fã desse seriado. De fato, era raro um ator do gabarito de um James Garner fazer seriado. Vou ver se tem torrent…
É, o James Garner fez naquela época o que estão fazendo hoje muitos atores de cinema que fazem séries de TV, se bem que o Garner já havia feito, com muito sucesso, a serie Maverick, 1957/1962.
Vou procurar no YouTube e nos torrents da vida.