Não sei como as pessoas deixam isso passar batido e ficam aclamando injustamente o Sgt. Pepper’s Lonely Hears Club Band como o primeiro álbum conceitual dos Beatles, essas coisas aí que todo mundo repete que nem papagaio.
Porque o verdadeiro ábum conceitual da banda veio muito antes. É o Rubber Soul. É tudo tão óbvio.
O álbum começa com o sujeito recebendo um convite pra dirigir o carro de uma moça que quer ser uma estrela. Mas ela não tem carro; aí ele vai até o apartamento dela e toca fogo em tudo, e diz que ela não o verá mais, porque ele é um sujeito fazendo planos de lugar nenhum. Por isso ela vai ter que pensar por si própria: e se quiser ser livre, que diga a palavra “amor”: porque ele a ama, a ama, a ama, é tudo o que ele tem a dizer. Então pergunta o que é que está se passando na cabeça dela, e reclama que ela é o tipo de garota deixa os outros para baixo e se sentindo otários, mas ele está sacando a dela — e ainda assim, de todos os amigos e amantes, ninguém se compara a ela. Por isso ele pede para ela esperar até que ele volte, e escreva seu número no muro de sua casa porque se ele precisar de alguém, é nela que ele vai pensar. Mas que ela tome cuidado: ele prefere vê-la morta do que com outro homem, e se ela aprontar alguma, é melhor correr para não morrer.
Se isso não é uma ópera italiana, eu não sei o que é.
Rafael:
Isso está mais para um desses crimes que essa gentalha perpetra e acaba no programa do Darena, do que para uma ópera italiana. Falo isso na esperança que você também não esteja pensando em Romeu e Julieta, o Shakespeare não merece tal insulto.
Se ele tivesse tido uma visão mística e se convertido depois de mandado aos trabalhos forçados na Sibéria por tê-la matado enquanto ela tentava fugir para dar aos revolucionários o dinheiro que ele roubou da usurária que a mantinha na prostituição, seria Dostoiévski… No Rio, seria Nelson Rodrigues.