Comentário sobre os comentários

É interessante que quando gostamos de alguma coisa tendemos a achar que ela é a melhor. É natural: confiamos no nosso próprio julgamento, e se gostamos de algo é porque ela passou por nosso crivo. Logo, é a melhor possível.

Mas podemos gostar de uma coisa e, ao mesmo tempo, admitir que ela não é a melhor. Você pode gostar de alguém e ter juízo suficiente para não achá-lo um Richard Gere ou uma Gisele Bündchen.

Por exemplo, sou beatlemaníaco há mais tempo do que consigo lembrar. Acho, sinceramente, que são a melhor banda pop de toda a história, a mais inventiva, a mais consistente. Posso passar meses falando deles aqui neste blog, de detalhes bobos como por que McCartney solta a franga no baixo em Don’t Let Me Down à importância histórica de uma letra imbecil como a de Love Me Do.

Mas eu disse pop. Por mais que goste deles, não caio na armadilha de achar que sua música é a melhor em termos absolutos.

Por um lado, o termo “melhor” é geralmente relativo. Por outro, requer alguns padrões objetivos de julgamento. Sob esse prisma os Beatles perdem longe de gente como Mozart e Beethoven, para ficar nos hors-concours; baixando o nível, melódica e harmonicamente o bebop é muito mais inventivo. Portanto, os Beatles são os melhores dentro de um universo restrito. Se os comparamos, por exemplo, aos Rolling Stones, isso é verdadeiro; mas quando se considera o que de melhor se fez em música, e padrões artísticos e técnicos, eles infelizmente não chegam aos pés de Bach. Reconhecer isso não impede que eu troque dez discos de Bach por um compacto dos Beatles. Questão de gosto, fazer o quê?

Outro exemplo pessoal: eu gosto de romances policiais. Até já coloquei uns dois posts aqui, comentando quais autores acho melhores e por que tenho ojeriza a Agatha Christie. Dentro desse universo você pode definir os melhores e os piores; mas se você tenta extrapolar e comparar um Hammett, por exemplo, a um Cèline, aí a coisa complica.

Resumindo, pode-se gostar do número 7 sem achar que ele é maior que o 9.

No caso de J.K. Rowling, o que Bloom falou foi exatamente o que o DNAS achou: que ela é o maior amontoado de clichês que ele já viu, que encheu folhas e folhas de papel com as frases repetidas nos livros de Harry Potter. Eu nunca li mais que uma página de Harry Potter, mas se o acho objetivamente ruim, longe de mim dizer que crianças devam manter distância dele. Pelo contrário. Clichês muitas vezes são legais — se uma coisa se tornou clichê é bem provável que tenha sido porque era verdadeiro ou abrangente. Para crianças, Harry Potter deve ser muito interessante. Mas não o tomemos pelo que não é: Harry Potter é entretenimento de massas para uma faixa etária limitada, não é literatura. O mesmo vale para Stephen King.

A questão aqui é que há um padrão pelo qual se julga literatura, e hoje interesses de mercado promovem material inferior como se fosse obras primas. Por isso a necessidade de um Bloom, com respaldo suficiente para dizer que o branco é branco e o preto é preto.

11 thoughts on “Comentário sobre os comentários

  1. discordo de novo.. harry potter foi muto util e coeso na recuperaçao da minha cirurgia.. eu li os 4 primeiros livros dele n fase de convalescença, e foi exato nos meus propósitos: encher minha cabeça de um grande vazio, pra nao pensar!!! hehhehehehehehe tenho q admitir q o melhor meio de se chegar ao grau maximo de meditaçao é ler os tais livrinhos: o nada toma conta de sua mente e vc será capaz de atingir o nirvana!!!
    beijos lulu
    PS eu já li a ordem de fenix!!!

  2. Um post enorme desse tamanho só pra finalmente falar mal de Agatha Christie? heheheheh… ok… Quanto aos Beatles eu prefiro Skank!

  3. Harry Potter é legal, não concordo que seja cheio de clichês. Mas o melhor de Harry Potter é que ele promove a leitura… isso é muito bacana!! Beijo

  4. Quanto aos Beatles é preferível o Skank? Bom, quanto a Etta James ou Billie Holiday será que ouso preferir a Sandy? Acho que não.

  5. É verdade. Gosto é que nem paranóia. Se bem que, expressando meu gosto, há paranóias mais bonitas do que as outras. Outra coisa: não sei se gosto tem cura, mas paranóia tem. 🙂

  6. “…detalhes bobos como por que McCartney solta a franga no baixo em Don’t Let Me Down à importância histórica de uma letra imbecil como a de Love Me Do…”

    1- Detalhes bobos!? Sempre fiquei impressionado com a performance de Paul em Don’t Let Me Down, mas não sabia que tivesse um motivo específico. Diga-me tudo, não me esconda nada!
    2- Claro que a letra de Love Me Do não é nada de “poética”, mas diga-me logo sua importância para a história. Sou um beatlemaníaco à procura de mais informações. Aguardo ambas as respostas por e-mai. Por favor!!!
    Grande abraço

  7. Acho incrível os mágicos do mundo da literatura. São capazes de classificar firmemente e com absoluta convicção um livro que “nunca leram mais que uma página”… Baseado em quê? No que os outros falam? Ou na antiga arte da magia, bola de cristal ou coisas do tipo? Peraí né… Esse negócio de falar demais sem nunca ter lido pra mim é o maior sinal de pobreza mental.

  8. “Harry Potter é entretenimento de massas para uma faixa etária limitada, não é literatura.”

    (aprendi com vc a copiar e colar, obrigada, é muito útil ^.~)

    Pra ql faixa etária vc recomendaria Harry Potter? Eu espero que me inclua, e pra me incluir tem que ir até os 19… Minha nossa! Uma bicha velha dessa e ainda lendo contos de fadas… Já pensou? E pior ainda… Leitura de massa! No final das contas meu saldo é: criança de 19 anos, que lê leitura de massas, que não pode ser qualificada como literatura. Mas não, eu não vou me matar, apenar de tudo isso. Sabe pq? Pq apesar de tudo, e de mais algumas coisas q vc n falou, por só ter lido uma pag (eu poderia dizer que ele é o pior tipo de herói sobre o ql eu li, um idiota, muito cagado, que sempre se livra das piores situações por pura sorte, e que tem sérias inclinações emos) Harry Potter foi muito importante na minha vida, pq eu tinha 13 anos e odiava simplesmente pensar na possibilidade de um dia ler, e quando descrente das possibilidades que aquele livro podia me oferecer, eu, relutante, comecei a lê-lo, me apaixonei pela leitura… vê já só… e n fiquei só em harry potter, li uma porrada de outros livros, muitos, maravilhosos, e muitos, pura besteira, mas talvez esses, pura besteira, tenham feito alguém começar a gostar de ler, então eu acho que eles são válidos, apesar de serem leitura de massas, n serem literatura e seja lá o que mais vc possa dizer sobre eles.

    *não, eu n estou qrendo lhe ofender, brigar com vc ou seja lá oq vc esteja pensando, não escrevi isso para te irritar, nem nada, apenas estava dando uma olhada nos seus textos e depois fui ler umas coisas sobre harry potter e pensei, será q aquele cara escreveu algo sobre Hp, joguei no google e achei esse texto, desculpe maiores incômodos.

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